domingo, 30 de setembro de 2018

Se se riram, foi talvez do nervoso “



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“ Se se riram, foi talvez do nervoso “
(…) “A ideia de que não há uma sociedade global e que o único valor que deve reger as relações internacionais é a soberania de cada Estado e o seu direito a defender os seus interesses faz sentido também para um número crescente de europeus. O controlo das fronteiras para impedir a entrada de imigrantes é visto como prioridade para cada vez mais gente. As mudanças na Europa são mais subtis, mas o sentimento de que a globalização criou mais perdedores nas economias desenvolvidas do que nas outras está hoje generalizado – porventura, mais do que gostaríamos de admitir, com os nossos óculos elitistas, sempre que olhamos para a América, quando já temos a nossa casa a começar a arder. Vontade de rir? Nenhuma. Ou então, apenas algumas gargalhadas nervosas.”
Teresa de Sousa

Se se riram, foi talvez do nervoso

O discurso de Trump foi o mais completo ataque à ordem multilateral e a mais clara negação das orientações da política externa americana nos últimos 100 anos.

30 de Setembro de 2018, 8:36

1. Alguns dos presentes na Assembleia Geral da ONU, em reunião plenária desde o dia 25 até hoje, ter-se-ão rido abertamente em alguns momentos do discurso do Presidente norte-americano, proferido na passada terça-feira. A incivilidade está, no geral, afastada destas missas solenes em que o mundo se reúne em Nova Iorque. Rir do Presidente dos EUA é uma prática inédita. Protestos de algumas delegações, é habitual. O incidente, que ainda hoje faz manchetes, (quase) apagou o conteúdo da intervenção de Donald Trump. Não é uma boa notícia, sobretudo para quem ainda presa o multilateralismo e os valores universais que a Carta das Nações Unidas consagra. Há que admitir que pelo menos numa passagem, logo no início, teria sido difícil conter um sorriso. Foi quando o Presidente anunciou que “em menos de dois anos (…) tinha conseguido mais do que quase todas as administração da História” do seu país. Ficamos sem saber se o “quase” se referia a Lincoln ou Roosevelt, os dois mais fortes candidatos que nos vêem à cabeça, para além de George Washington. Depois, passou em revistas todas as suas extraordinárias realizações, desde o maior corte de impostos da história da América até à construção do muro na fronteira com o México. Mais tarde, explicou aos jornalistas que se tratava de “fake news”, que a Assembleia riu com ele e não dele. Para encerrar a questão vale a pena recordar o que disse em 2014, referindo-se a Obama: “Precisamos de um Presidente que não seja motivo para riso no mundo inteiro.” “O riso figurativo de 2014 tornou-se no riso literal de 2018”, escreve a Atlantic. “O soft power americano está no seu nível mais baixo desde a II Guerra”. Não é um conceito pelo qual Trump tenha qualquer interesse.

2. O conteúdo da sua intervenção, lida em tom monocórdico, sem qualquer capacidade de entusiasmar ou emocionar, foi o mais completo resumo de uma visão do mundo que estava anunciada em quase todas as suas decisões de política externa, transmitidas na maioria da vezes em meia dúzia de palavras, mas agora transformadas numa longa peça escrita que constituiu o mais completo ataque à ordem multilateral e a mais clara negação das orientações da política externa americana nos últimos 100 anos. Fosse qual fosse a cor política do seu Presidente. Trump rejeita o “globalismo” e uma “burocracia global, não eleita nem susceptível de ser responsabilizada”, como descreveu, por exemplo, a Comissão dos Direitos Humanos da ONU, da qual anunciou que se retirava. Quase no final, deu a sua visão da ordem que defende: “Nações soberanas e independentes são o único veículo onde a liberdade sempre sobreviveu, a democracia sempre foi garantida ou a paz sempre prosperou. Por isso devemos proteger a nossa soberania e a nossa adorada independência acima de tudo”. À cooperação internacional assente em regras, Trump contrapõe a soberania nacional, que todas e as nações têm o direito de defender por todos os meios. Faltou-lhe apenas acrescentar que as soberanias não são todas iguais e que, como foi demonstrando ao longo da sua intervenção, a relação de forças acaba por ser o critério fundamental. “Ele é um activista da frente soberanista Xi-Putin-Orbán, essa impossível internacional dos nacionalismos e um inimigo jurado da ordem liberal”, escreve sem meias palavras Timothy Garton Ash no Guardian. Elegeu o Irão como o novo “inimigo número um” dos EUA, ameaçando veladamente a sua soberania, apontando-o como o único responsável pelas calamidades cometidas pelo regime de Damasco (a Rússia nunca existiu), incentivando o seu povo à revolta contra um regime “sangrento” que rouba o povo e que o oprime. A decisão de aplicar sanções secundárias a todas as empresas que mantenham negócios com o Irão, depois de ter retirado o seu apoio ao acordo nuclear de 2015 e ter reposto uma primeira leva de sanções, interfere directamente com as decisões “soberanas” dos países europeus subscritores do acordo. Pode fazê-lo porque o mercado americano é suficientemente forte e o dólar suficientemente omnipresente para não lhes deixar outra alternativa senão saírem. “Foi um momento excepcional nos hábitos dos 73 anos da ONU”, escreve o Financial Times em editorial. “A Europa, incluindo o Reino Unido, normalmente um fiel aliado dos EUA, alinhar publicamente com Moscovo e com Pequim contra Washington numa questão que está no centro da política externa americana”. Tratou dois ditadores como amigos, mesmo que lhes tenha lembrado que os negócios ficam à parte. O seu amigo Xi Jinping vai continuar a sofrer os efeitos da “guerra comercial” que decretou contra a China. “Durante décadas, os EUA abriram a sua economia – de muito longe a maior à face da Terra – com poucas condições”. Resultado: "Os EUA perderam mais de 3 milhões de empregos na manufactura, quase um quarto dos empregos na indústria do aço, e 60 mil fábricas depois de a China ter aderido à OMC. E acumulámos mais de 13 triliões de dólares em défices comerciais nas duas últimas décadas”. O outro é Kim Jong-un, que representa até agora o único meio-sucesso diplomático que pode apresentar: há uma abertura do regime e prossegue uma aproximação com Seul.

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3. Pela primeira vez de há muitas décadas, um discurso de um Presidente americano não tem qualquer referência aos aliados europeus e à aliança transatlântica. Mais uma vez, a Alemanha foi apontada a dedo como o seu mais sério “inimigo”, desta vez porque escolheu o caminho da dependência energética (não disse relação a quem), correndo o risco de se tornar “vulnerável à extorsão e à intimidação”. Berlim tornou-se o alvo privilegiado de Trump na Europa, desde o início do seu mandato. Por causa do seu excedente comercial gigantesco mas também porque olha para a Alemanha como a “força” por trás da integração europeia, cuja utilidade não entende nem fará nada para preservar. Outra estreia absoluta. Os seus amigos estão em Budapeste, em Roma ou na Polónia, eleita um dos quatro países do mundo que elegeu como “faróis” que iluminam as respectivas regiões, numa passagem tão preocupante como irresistível. “Há a Índia, uma sociedade livre de mil milhões de pessoas, que conseguiu com sucesso tirar milhões da pobreza (…). Há a Arábia Saudita, onde o Rei Salman e o Príncipe herdeiro estão a levar a cabo grandes e ambiciosas reformas. Há Israel, que celebra com orgulho os seus 70 anos como uma democracia dinâmica na Terra Santa. Na Polónia, um grande povo ergue-se pela sua independência, a sua segurança e a sua soberania. O mundo é mais rico, a humanidade é melhor, por causa desta bela constelação de nações.” A Polónia está em conflito com a União Europeia por violar as regras do Estado de Direito. Mas é um exemplo perfeito daquilo que Trump entende como país aliado: Varsóvia pediu aos EUA para instalarem uma base militar na Polónia, pela qual está disposta a pagar e que promete chamar de “Fort Trump”. Garton Ash, no mesmo texto, avisa que não é apenas um problema de Trump e que basta que saia da Casa Branca para que a velha relação transatlântica volte ao que sempre foi. “Grande parte da América voltou as costas à Europa”. E o historiador britânico não fala apenas da metade “ignorante”. Fala das elites. “Trump é horrível mas, neste aspecto, é tanto um sintoma como uma causa”.

4. Aquilo que achamos bizarro ou ameaçador ou que nos faz encolher os ombros - “de que é que se estava à espera?” –, pode fazer perfeitamente sentido para muitos americanos mas também para muitos europeus que rejeitam internacionalismo e aceitam o nacionalismo por razões parecidas com as dos americanos que elegeram Trump. “A América é governada pelos americanos. Rejeitamos a ideologia do globalismo e abraçamos a doutrina do patriotismo”. A ideia de que não há uma sociedade global e que o único valor que deve reger as relações internacionais é a soberania de cada Estado e o seu direito a defender os seus interesses faz sentido também para um número crescente de europeus. O controlo das fronteiras para impedir a entrada de imigrantes é visto como prioridade para cada vez mais gente. As mudanças na Europa são mais subtis, mas o sentimento de que a globalização criou mais perdedores nas economias desenvolvidas do que nas outras está hoje generalizado – porventura, mais do que gostaríamos de admitir, com os nossos óculos elitistas, sempre que olhamos para a América, quando já temos a nossa casa a começar a arder. Vontade de rir? Nenhuma. Ou então, apenas algumas gargalhadas nervosas.

The world America made — and Trump wants to unmake



E o mundo riu-se na cara de Donald Trump
A gargalhada colectiva na imensa sala onde decorria a última Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas não foi só um momento embaraçoso para Donald Trump. Foi um reacção generalizada do mundo aos discursos pomposos do presidente dos EUA. E foi também um ataque a uma das afirmações principais e fantasiosas de um presidente que, de acordo com o Washington Post, fez mais de 5 mil afirmações falsas ou enganadoras desde que chegou ao poder.

30 de Setembro de 2018, 6:40

Há já muito tempo que o presidente Trump argumenta que os outros países se tem aproveitado dos Estados Unidos – “o alvo de chacota do mundo inteiro”, publicou no Twitter em 2014 – e a sua ascensão política baseou-se na premissa de que ele teria a força e a determinação para mudar isso.

Mas na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas da última terça-feira, Donald Trump foi castigado no maior palco do mundo. Com um discurso que tinha como objectivo estabelecer a soberania dos EUA sob as vontades e necessidades das outras nações, o momento triunfante do presidente ficou marcado logo no primeiro minuto, quando a audiência se riu – à sua custa.

O momento embaraçoso aconteceu quando Donald Trump se vangloriou de que a sua administração fez mais em dois anos do que “qualquer outra administração” na história americana, o que despertou risadas na enorme sala.

Na tarde de terça-feira, Donald Trump emanava um ar de indiferença, dizendo aos repórteres que aquela parte do discurso tinha como objectivo “suscitar o riso” REUTERS
O presidente dos EUA pareceu ter ficado surpreendido. “Não estava à espera desta reacção”, disse, “mas tudo bem.” E a audiência que o ouvia riu-se novamente – desta vez, talvez por simpatia.

Donald Trump continuou o seu discurso, que se prolongou por mais 34 minutos, mas o momento marcou a reacção da comunidade internacional a um presidente que tem adorado “picar” aliados dos EUA em assuntos como o comércio, alianças de segurança e os bons costumes diplomáticos em geral.

“[Trump] Sempre teve uma obsessão com as pessoas a rirem-se do presidente. Desde meados dos anos 1980 que ele diz: ‘O mundo ri-se de nós. Pensam que somos idiotas’”, disse Thomas Wright, um analista europeu da Brookings Institution. “Não é verdade, mas ele tem dito o mesmo sobre todos os presidentes. Que saiba, é a primeira vez que alguém realmente se riu de um presidente. Acho que isto o vai levar à loucura. Vai de encontro a todas as suas inseguranças.”

Para Donald Trump, o momento não foi só embaraçoso. Foi também um ataque a uma das afirmações principais e fantasiosas de um presidente que, de acordo com factos apurados pelo Washington Post, fez mais de 5 mil afirmações falsas ou enganadoras desde que chegou ao poder.

À medida que as eleições intercalares se aproximam, Trump começou a vangloriar-se de uma longa lista de feitos da sua administração, chegando a recitá-los num comício de campanha recente através de duas folhas de papel que retirou do bolso do casaco.

Assim, o presidente dos Estados Unidos tem clamado um sucesso esmagador e comparou-se a si mesmo, favoravelmente, aos maiores líderes da nação. Num comício em Springfield, Missuri, na semana passada, Trump discursava para os seus apoiantes e preparava-se para terminar com uma prosa floreada no teleponto sobre a coragem dos fundadores da América quando se desviou do guião para afirmar que a sua eleição em 2016 foi “o maior movimento da história” dos EUA.

Nas Nações Unidas, a reivindicação de Trump de que fez mais em menos de dois anos do que as 44 administrações anteriores desafiou todos os limites da realidade – ou arrogância.


“Por um lado, pensas ‘Oh, meu Deus, coitado do presidente americano, todos se riem dele no palco do mundo’”, disse Julie Smith, que trabalhou para o vice-presidente Joe Biden como vice-conselheira de segurança nacional. “Mas por outro lado, sentes-te contente que Donald Trump tenha finalmente saído da bolha dos comícios políticos que continuamente lhe dão a impressão de que todos concordam com as suas falsas afirmações”, disse Smith, que viu o discurso de Trump a partir de Berlim, onde está a passar um ano como bolseira na Academia Bosch. “Houve um momento em que pensei para mim mesma, ‘Ainda bem que o presidente está ser exposto ao que o resto do mundo pensa dele.’”

Apesar de o riso dos líderes mundiais nas Nações Unidas ter sido espontâneo, pode ter havido algum aproveitamento por parte de algumas das delegações. As câmaras televisivas apanharam alguns dos diplomatas alemães a rirem-se — talvez uma forma de aliviar a tensão depois das relações entre Trump e a chanceler Angela Merkel terem começado com o pé errado e assim têm continuado.

PÚBLICO -Foto
Para Thomas Wright, analista da Brookings Institution, este momento “teve de doer” ao Presidente dos EUA. “Foi filmado e foi espontâneo. Foi num dos maiores palcos do mundo.” CARLO ALLEGRI/REUTERS
No ano passado, os alemães presentes na conferência do Conselho Económico da União Democrata Cristã, em Berlim, riram-se e aplaudiram depois de ter sido cortada a palavra ao secretário do Comércio dos EUA, Wilbur Ross, quando este ultrapassou o tempo destinado ao seu discurso. Merkel respondeu depois aos comentários de Ross ao longo do seu discurso.

Nas redes sociais, os críticos de Trump não perderam tempo e gozaram com ele. “Os presidentes americanos costumavam estabelecer a agenda global na Assembleia Geral das Nações Unidas. Agora riem-se de Trump”, publicou no Twitter Ben Rhodes que, como assessor de segurança nacional para Comunicações Estratégicas, ajudou o Presidente Barack Obama a escrever discursos das Nações Unidas.

“O mundo acabou de se rir de @realDonaldTrump”, publicou, por sua vez, a comediante Wanda Sykes no Twitter. Referindo-se ao famoso teatro em Harlem onde a audiência vaia e interpela os maus actores, acrescentou, “Mantenham-se sintonizados, pode ser que façam como no programa Showtime at the Apollo.’“

Na tarde de terça-feira, Donald Trump emanava um ar de indiferença, dizendo aos repórteres que aquela parte do discurso tinha como objectivo “suscitar o riso”. Mas alguns dos espectadores não acreditaram, uma vez que o presidente raramente ri de si mesmo e a sua expressão típica é um olhar furioso que não poupa ninguém.

“Teve de doer”, disse Wright, o analista da Brookings Institution. “Foi filmado e foi espontâneo. Foi num dos maiores palcos do mundo.”

Exclusivo PÚBLICO/Washington Post


Tradução de Ana Silva

The world America made — and Trump wants to unmake

The US-led global order created peace and prosperity for millions. So why are the president’s critics teaming up with him to tear it apart?

By           ROBERT KAGAN               9/28/18, 12:57 PM CET Updated 9/30/18, 5:01 AM CET


Image via iStock

The liberal world order is taking a beating these days, and not just at the hands of Donald Trump, Vladimir Putin and Xi Jinping.

In recent months a bevy of American political scientists from the progressive left to the libertarian right has launched attacks on the very idea of the liberal order, as well as on the conduct of American foreign policy over the past seven decades.


These critics argue that the liberal order was a “myth,” a cover for American hegemony and “imperialism.” To the degree there was an order, it was characterized by “coercion, violence, and instability,” and also by hypocrisy.

The United States did not always support democracy, but often backed dictatorships, and in the name of shaping a “putatively liberal order,” it often “upended, stretched, or broke liberal rules.”

The celebrated achievements of the liberal order, they therefore claim, are either overblown — the “long peace” was due to the Cold War balance of nuclear terror not the American-led order, Graham Allison argues, for instance. Or the order’s benefits are outweighed by its many failures — Vietnam, Iraq, McCarthyism — and by the costs of sustaining it. Indeed, if the liberal order is failing today, they argue, it has been “complicit in its own undoing.” In this, at least, the critics sound much like the president — he, too, believes the liberal order has been a bad deal for Americans.

Trump’s speech at the U.N. was an invitation to global anarchy, a struggle of all against all.

Trump calls himself a “realist,” and the critics also insist on a new “realism,” a Trumpian pulling back from decades-old alliances that they believe have outlived their usefulness.

They might not strike quite the same “America First” themes Trump struck during this week’s address to the U.N. General Assembly. But the realism they have in mind is much the same. They would have us abandon what they regard as the utopian ambitions of remaking the world in America’s image and instead urge us to accept the world “as it is,” to use the Obama administration’s favorite mantra.

But is this, in fact, realism? The founders of this liberal world order during World War II and in the years that followed — people like Franklin Roosevelt, Dean Acheson, George Marshall, and George Kennan — also regarded themselves as realists, and perhaps with greater justification. For they had seen firsthand what a world not shaped by American power, the world “as it is,” really looks like. It was the world of two catastrophic global wars, the Holocaust, man-made famines that killed tens of millions, the rise of fascism and communism and near death of liberalism and democracy in Europe.

The liberal world order American leaders established in the wake of World War II aimed at addressing the causes of those horrors and preventing their return. It was not based on naïve optimism about human existence, but on pessimism born of hard experience, earned on the battlefields of Europe and the beaches of the Pacific islands. While there were many Americans who did want to put their trust in the United Nations and international law — the “rules-based order” we often hear about — these men had a different view. The world was an international jungle, Acheson, Harry Truman’s secretary of state, argued, with no “rules, no umpire, no prizes for good boys.”

Yet for all the shortcomings and despite America’s often high-handed and hypocritical behavior, none of the members of the liberal order — not one — ever sought to leave it.

Nor would there be any escape from this brutal reality: no self-sustaining international balance of power to preserve peace, no self-regulating legal order, no end to international struggle and competition. Such security as was possible, both physical security and the security of liberal ideals, could be preserved only by meeting power with greater power. And in the world as it was configured, the only guarantee of peace, Acheson insisted, was “the continued moral, military and economic power of the United States.”

As he would later put it, the United States had to become “the locomotive at the head of mankind.” And the Truman administration put this philosophy into action, deploying troops permanently in Europe, creating the NATO alliance and putting in place the architecture of a relatively free economic system for the world.

The triumph of the liberal world order was not the triumph of ideas alone, therefore. Better ideas don’t win simply because they are better. The order was the product of war and was sustained by the exercise of power in all its forms. What gave the liberal principles a new life and the opportunity to flourish as never before was not the sudden embrace of the Enlightenment but a series of actions in the real world that reshaped the international system and created what Acheson called an “environment of freedom.”

The initial efforts to create this liberal world order preceded the Cold War. And the key pillars on which the order was established had little to do with the Soviet Union. The central element was the transformation of the two great originators of conflict, the autocracies of Germany and Japan, into peaceful, democratic nations. Through force and coercion, but also with financial support and political encouragement, they were led to abandon the geopolitical ambitions that had produced two world wars and adopt instead ambitions for peace, greater prosperity and social welfare. Their large and talented populations gave up the geopolitical competition and entered the competition for economic success. They were in a sense liberated to prosper in peace.

And their neighbors were liberated, too. By denying Germany and Japan a geopolitical and military path, the new order provided an unprecedented level of security in their vitally important regions. The nations of Europe and East Asia, including China, were suddenly able to focus their energies and resources on domestic and economic matters rather than on the strategic concerns that had always consumed them—the fear of an aggressive, powerful neighbor with designs on their territory.

The democratization, pacification and economic resuscitation of Germany and Japan, along with the introduction of American power permanently into the previously conflicted regions of Europe and East Asia, transformed the dynamics of international relations. Within the confines of the new order, normal geopolitical competition all but ceased. The nations of Western Europe and East Asia did not engage in arms races with one another; they did not form strategic alliances against one another; they did not claim strategic or economic spheres of influence; there were no “security dilemmas” driven by mutual apprehension and insecurity; no balance of power was required to preserve the peace among them. Economic competition did not translate into military or geopolitical competition, as it always had in the past.

Within the liberal order there were also no geopolitical and strategic spheres of interest, which had so often been the source of great-power conflicts in the past. This was a conscious American objective. As one State Department memorandum put in July 1945, a return to spheres of interest would be a return to “power politics pure and simple.” America’s objective should be “to remove the causes which make nations feel that such spheres are necessary to build their security.” The one exception, of course, was the United States itself, which as guarantor of the order essentially claimed the whole world as its sphere of interest, and especially once the Cold War emerged.

The success of the order did depend on the United States abiding by some basic rules. Chief among these was that it not exploit the system it dominated to gain lasting economic advantages at the expense of the other powers in the order. It could not treat the economic competition as a zero-sum game that it insisted on always winning. It also meant taking part in imperfect institutions, such as the United Nations, that other nations might value more than American policymakers did. America’s willing involvement helped knit the members of the liberal order into what they could regard as a common international community. This proved to be a key advantage in the Cold War confrontation. A major weakness of the Soviet empire was that important members of the Warsaw Pact were not content with the Soviet order, and as soon as they had a chance to defect, they took it.

This did not mean the United States always played by the rules. When it came to the application of force, in particular, there was a double standard. Whether they admitted it or not, even to themselves, American officials believed the rules-based order occasionally required the exercise of American power in violation of the rules, whether this meant conducting military interventions without U.N. authorization, as in Vietnam and Kosovo, or engaging in covert activities that had no international sanction.

Critics at home and abroad condemned American hypocrisy, just as the critics do today. They questioned the legitimacy of an order that claimed to be rules-based but was often shaped by the American hegemon’s perception of its own interests. During the Vietnam War, millions of Europeans went into the streets to condemn American policy; in the Reagan years millions more protested the deployment of American intermediate range nuclear missiles in Europe. In the 1960s, France under postwar leader Charles de Gaulle pulled out of NATO and Germany’s chancellor Willy Brandt pursued an Ostpolitik of rapprochement with East Germany and the Soviet Union that defied American wishes.

Yet for all the shortcomings and despite America’s often high-handed and hypocritical behavior, none of the members of the liberal order — not one — ever sought to leave it. For America’s allies in Europe and Asia and elsewhere, even a flawed American world order was preferable to the alternative, and not just the Soviet alternative but the old European alternative. The Europeans never feared American aggression against them, despite America’s overwhelming military power. They trusted the United States not to exploit its superior power at their expense. Although Americans were selfish, like any people, the Europeans recognized that they were acting on a more complex and expansive definition of self-interest, that the United States was invested in preserving an order that, to work, had to enjoy some degree of voluntary acceptance by its members. Flawed as this system might be — flawed as the Americans were — in the real world this was as good as it was likely to get. The order held together because the other members regarded American hegemony, by any realistic standards, as relatively benign, and superior to the alternatives.

The liberal world order produced extraordinary progress. States and societies within it became more humane in the treatment of their citizens, increasingly respectful of free speech, a free press, and the right to protest and dissent. The poor were better cared for. Rights were continually expanded to hitherto unprotected minorities. Racialism and tribalism were dampened in favor of a growing cosmopolitanism. Extreme forms of nationalism diminished. The liberal world was far from perfect — injustice persisted, along with killing, bigotry and brutality, in the United States and elsewhere. It was still the City of Man and not the City of God. But compared to what had come before over the previous five thousand years, it was a revolutionary transformation of human existence.

There was a self-reinforcing quality to the progress within the order. As liberal norms evolved, all liberal nations came under pressure to live up to them, including the United States. It was not accidental that the greatest advances in American civil rights occurred in the decades after World War II. African Americans had fought and died on European and Pacific battlefields on behalf of ideals their country had yet to realize — and the disjuncture became increasingly untenable.

In the end, and even if not always deliberately or consciously, the United States did shape a world unusually conducive to the spread of democracy.

It is true, as the critics say, that the United States was not a consistent supporter of democracy. Although it actively promoted democracy in Japan, Germany and Western Europe in the early postwar years, and in Eastern Europe and other parts of Asia in the 1980s and 1990s, there were large parts of the world where the United States was indifferent or even hostile to democracy. Because Americans feared radicalism (communism during the Cold War; Islamism today) more than they opposed authoritarianism, they often supported ostensibly reliable dictators and on some occasions either acquiesced in or participated in the overthrow of democratic regimes deemed unreliable — in Chile, for instance, where the CIA either backed or acquiesced in a military coup to oust Marxist leader Salvador Allende.

Yet in the end, and even if not always deliberately or consciously, the United States did shape a world unusually conducive to the spread of democracy. The transformation of the once predatory dictatorships of Japan and Germany into anchors of liberal economic and political order may alone have been the greatest stimulus to the explosion of democracy of the past half century. It made Europe and East Asia, once the world’s cockpits of nationalist confrontations, into zones of relative peace, prosperity and stability, and that in turn reduced one of the greatest obstacles to democracy: insecurity. Nations that are perpetually concerned with defending themselves against attack generally produce strong central governments and often hand extraordinary powers to their leaders. By creating conditions of general security in the decades after World War II, the liberal order provided a cushion for young democracies that might not have survived in a more dangerous world. It mattered, too, that the strongest power in the world was itself a democracy. Those wishing to live under the umbrella of the liberal order’s protection generally sought to conform themselves to its values and mores.

So, yes, the liberal order has been flawed, with its share of failure and hypocrisy. Liberal goals have sometimes been pursued by illiberal means. Power, coercion and violence have played a big part. The order has been the product of American hegemony and it has also served to reinforce that hegemony. But to note these facts is hardly to condemn the order. No order of any kind can exist without some element of hegemony. The Roman order was based on the hegemony of Rome; the British order of the 18th and 19th century was based on the hegemony of the Royal Navy; such order as existed briefly in Europe after the defeat of Napoleon — the so-called Concert of Europe — rested on the collective hegemony of the four victorious great powers. The idea of a peaceful, stable multipolar world where no power or powers enjoy predominance is a dream that exists only in the minds of one-world idealists and international relations theorists.

The same is true of those who would condemn the liberal world order because of the persistence of violence, coercion, hypocrisy, selfishness, stupidity and all the other evils and foibles endemic to human nature. Perhaps in the confines of academia it is possible to imagine a system of international relations where our deeply flawed humanness is removed from the equation. But in the real world, even the best and most moral of international arrangements are going to have their dark, immoral aspects.

The question is, as always, compared to what? Patrick Porter, the author of a widely discussed critique of the liberal world order, acknowledges that “if there was to be a superpower emerging from the rubble of world war in midcentury, we should be grateful it was the United States, given the totalitarian alternatives on offer. Under America’s aegis, there were islands of liberty where prosperous markets and democracies grew.” Indeed, that would seem to be the key point. At any given time there are only so many alternatives, and usually the choice is between the bad and the worse.

Are the alternatives on offer so much better now? Graham Allison, dismissing any return to the “imagined past” when the United States shaped an international liberal order, proposes that we instead make the world “safe for diversity” and accommodate ourselves to “the reality that other countries have contrary views about governance and seek to establish their own international orders governed by their own rules.” Others, such as Peter Beinart, similarly argue that we should accommodate Russian and Chinese demands for their own spheres of interest, even if that entails the sacrifice of sovereign peoples such as Ukrainians and Taiwanese. This wonderfully diverse world would presumably be run partly by Xi Jinping, partly by Vladimir Putin, and partly, too, by the Ayatollah Khamenei and by Kim Jong Un, who would also like to establish orders governed by their own rules. We have not enjoyed such diversity since the world was run partly by Hitler, Stalin and Mussolini.

The idea that this is the solution to our problems is laughable. Porter points out American policy has led to “multiplying foreign conflicts” and put the United States “on a collision course with rivals.” Setting aside the fact that multiplying foreign conflicts and collisions between rivals is the natural state of international relations in any era, it is hard for any student of history to imagine that these problems would lessen if only we returned to the competitive multipolar world of the 19th and early 20th centuries. To suggest that there could be a world with no collisions and no foreign conflicts, if only the United States would pursue an intelligent policy, is they very opposite of realism.

Strikingly absent from all these critiques of the liberal world order, too, is any suggestion of an alternative approach. The critiques end with lists of questions that need to be answered. Allison calls for a “surge of strategic thinking.” Others call for “new thinking” about “difficult trade-offs.” Some critics even complain that so long as people continue to talk about a U.S.-dominated liberal order, it will be “impossible for us to construct a reasonable alternative for the future.”

The most the critiques will offer are suggestions that sound more like attitudes than policies. They throw around words like “realism,” “restraint” and “retrenchment.” Allison proposes that the United States “limit its efforts to ensuring sufficient order abroad.” Beinart comes closest to offering an alternative, but he clearly has not yet thought it through fully. He wants to grant other powers their spheres of interest, for instance, but he mentions only Russia and China. Does this mean Russia should be granted full sway in, say, Ukraine, the Balkans, the Baltics and the Caucuses? Should China be able to impose its will on the Philippines and Vietnam?

And what of the other great powers? Does Japan get its own sphere of interest? Does India? Do Germany, France, and Britain? They all had their spheres a century ago, and of course it was the clashes over those inevitably overlapping spheres that led to all the great wars. Is Beinart suggesting we should return to that past?

Of course, we may be moving toward that world anyway. That is the implication of Trump’s “America First” foreign policy philosophy, his attacks on “globalism” and his recent suggestion that all nations look out strictly for themselves. Trump’s speech at the U.N. was an invitation to global anarchy, a struggle of all against all. His boasting about American power put the world on notice that the United States was turning from supporter of a liberal order to rogue superpower. This breakdown may be our future, but it seems odd to choose that course as a deliberate strategy, as Allison and others seem to do. Little wonder that they don’t wish to spell out the details of their alternative but prefer to carp at the inevitable failures and imperfections of the liberal world we have. As John Hay once remarked, “Our good friends are wiser when they abuse us for what we do, than when they try to say what ought to be done.”

No honest person would deny that the liberal world order has been flawed and will continue to be flawed in the future. The League of Nations was also flawed, as was Wilson’s vision of collective security. Yet the world would have been better had the United States joined in upholding it, given the genuine alternative. The enduring truth about the liberal world order is that, like Churchill’s comment about democracy, it is the worst system — except for all the others.

Robert Kagan is senior fellow at the Brookings Institution, chair of the World Economic Forum Global Agenda Council on the United States and author, most recently, of The World America Made.

sábado, 29 de setembro de 2018

"Nós estamos a devastar a natureza"



"Nós estamos a devastar a natureza"

Will Steffen dá um prazo: duas décadas até se perder o gelo do Árctico. Daí irromperá uma cascata de alterações na bio e geosfera, que pode colocar em risco o “sistema de suporte de vida” humana. Certo é que o planeta já ultrapassou, pelo menos, dois pontos de não retorno.

MARGARIDA DAVID CARDOSO 29 de Setembro de 2018, 6:32

 Will Steffen, químico norte-americano de 71 anos e uma das maiores referências na investigação sobre as alterações climáticas, nem sempre olhou para a Terra como um sistema. Começou na química microscópica, passou pelos ecossistemas terrestres, até se dedicar a entender o todo e como a acção humana pode desencadear efeitos em cascata que podem, dentro de poucas décadas, modificar o planeta tal como o conhecemos. “Quando começamos a derrubar as primeiras peças de dominó, dificilmente conseguimos impedir as seguintes de caírem”, diz. Ao fim de quase quatro décadas a estudar as alterações climáticas não lhe restam dúvidas: a manutenção do sistema terrestre não é compatível com os actuais sistemas económico e social.

Steffen esteve esta semana no Porto para a cerimónia de lançamento da associação da Casa Comum da Humanidade, na qual é presidente da comissão científica.

É químico de formação. Quando e porque é que começou a estudar alterações climáticas?
Quando fiz o doutoramento em 1975, não havia muita informação sobre alterações climáticas, nem interesse nisso. Era apenas a área em que os físicos da atmosfera trabalhavam.

Eu estive na química, estudei Cristalografia de Raios-X [técnica de difracção de Raios-X para determinar a estrutura tridimensional de cristais], no início da revolução tecnológica. Tentei depois outras áreas da química, até me envolver na física ambiental. Nos anos 80, as alterações climáticas começaram a tornar-se um assunto, mas a grande mudança aconteceu em 1990. O Conselho Internacional de Ciência começou um novo programa de investigação, o Programa Internacional Geosfera-Biosfera [IGBP, na sigla em inglês 1987-2015], que congregava cientistas de todo o mundo para olhar de forma sistémica para a Terra. Fui coordenador de um dos projectos, sobre os ecossistemas terrestres. Em 1998, fui para director do IGBP. Geria o programa todo: terra, oceano, atmosfera, clima. E juntámos os cientistas sociais, para integrar os seres humanos como agentes interactivos.

Quando o programa fez dez anos fizemos uma síntese do que aprendemos. Escrevemos um livro que se pode considerar o primeiro com uma visão abrangente do sistema terrestre [Global Change and the Earth System, 2004]. Foi nessa altura que o Paul Crutzen [Nobel da Química em 1995] introduziu o conceito de Antropoceno – uma nova era geológica.

A partir daí relaciona, nos seus artigos, as alterações climáticas com o início dessa nova era.
Ainda há duas correntes de pensamento. Uma é a corrente tradicional das alterações climáticas, que vê como isso afecta o clima e como os humanos estão a interagir com o clima. Assenta num legado histórico que dá ênfase à atmosfera. É o caso do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas [com sede nas Nações Unidas].

Temos que ser “mais militantes” para enfrentar as ameaças do clima
A corrente onde me insiro tem um ponto de partida diferente: o clima é uma manifestação de como o sistema terrestre opera e como ele muda.

Há um consenso na comunidade científica de que o aumento extraordinário das emissões dos gases com efeito de estufa se deve às actividades humanas. Recentemente foi discutida em Portugal uma corrente que nega esse papel. Como responde?
Há uma quantidade absurda de dados disponíveis e essas pessoas claramente não são especialistas em ciências da terra ou ciências climáticas. Não há absolutamente dúvida nenhuma. Obviamente que há uma variação natural da temperatura, mas essa variação acontece dentro de um intervalo muito estreito. Agora esse intervalo está todo desregulado.

De forma mais acentuada desde meados do século XX?
Sim. Houve um pequeno aumento da temperatura a começar à volta de 1850, na sequência da revolução industrial. Cerca de cem anos depois, a temperatura tinha subido cerca de 0,2ºC ou 0,3ºC. Mas desde 1950-1970, os termómetros disparam.

É o que chama de Grande Aceleração.
Exactamente. Nos dez anos do IGBP, começamos a recolher dados desde 1750, o início da revolução industrial. Escolhemos doze indicadores para representar graficamente a actividade humana, como a população mundial, PIB, turismo internacional, uso de energia, consumo de água, uso de fertilizantes, produção de papel, transportes, telecomunicações,... Os indicadores sobem de forma brutal a partir de 1950.

Depois fizemos doze gráficos semelhantes para o sistema terrestre, com medições de gases com efeito de estufa, ozono estratosférico, temperatura à superfície, acidificação dos oceanos, captura de peixe marítimo, ocupação do solo, degradação da biosfera... Verificamos que alguns sistemas respondem mais devagar que outros, mas em geral é a meio do século XX que se dá a mudança. E aí estava, como dizemos em inglês, the smoking gun. Foi o ser humano que disparou a pistola.

Num artigo mais recente mediu o risco da Terra perder a sua resiliência e se atingirem pontos de não retorno. Como chegaram a estas conclusões e o que significa?
O estudo é uma análise de risco. Ficou claro que quanto mais quente a Terra fica, mais o risco aumenta. Percebemos que algures entre 1,5ºC e 3ºC [diferença da temperatura média face ao período pré-revolução industrial] vamos entrar numa cascata de efeitos negativos no planeta. Onde? Podemos nunca vir a saber com certeza.

Há um ponto fracturante na Amazónia, onde metade da precipitação é gerada pela evaporação das árvores e do solo e a outra metade vem do Oceano Atlântico, através do vento. O problema é que o clima está a mudar e está-se a cortar a floresta. Vamos chegar a um ponto crítico em que a floresta tropical húmida não vai receber precipitação suficiente, vai começar a morrer naturalmente de seca. Isso origina menos evaporação, que por sua vez provoca menos chuva, depois menos árvores, menos evaporação e este ciclo ganha força. É assim que se desencadeia um ponto de não retorno. No caso da Amazónia estará à volta de um aumento de 2ºC e 20% de desflorestação. Agora estamos um pouco acima do 1ºC e cerca de 18% de desflorestação.

É bastante estúpido descobrir onde assenta um ponto de não retorno ultrapassando-o. Até onde queremos arriscar?

Mortalidade provocada por vagas de calor vai aumentar de forma drástica
Onde já ultrapassamos o ponto de não retorno?
Há dois pontos que diria, com certeza, que ultrapassamos. Um deles são os recifes de coral. Com a temperatura média actual dos oceanos os recifes estão a passar por um fenómeno de branqueamento. Quando aumentar mais 0,2ºC ou 0,3ºC – o que vai acontecer de certeza porque não podemos ter zero emissões amanhã –, vamos perder uma grande parte dos recifes de coral no mundo.

Outro é o gelo do Árctico. O gelo expande-se no Inverno, contrai-se no Verão. Quando o clima é estável, há sempre limites semelhantes nas estações e entre elas. Mas à medida que aquece, esta área encolhe. Ora, o gelo é um estabilizador do clima, porque reflecte grande parte da luz solar. Por isso à medida que mais gelo derrete, mais água fica exposta ao sol e, sendo escura, absorve mais calor. Gera-se um ciclo. Talvez demore uma década a desaparecer. No máximo duas décadas.

Que efeitos terá?
Se ficarmos sem o gelo do Árctico vamos ter uma aceleração do ritmo de aquecimento global, talvez em 0,1 ºC ou 0,2ºC. Terá um maior efeito no hemisfério norte, devido a dois grandes efeitos dominó no extremo norte do planeta. Um deles é o permafrost [solos permanentemente congelados no Árctico], onde estão armazenadas grandes quantidades de carbono. Esse solo agora começa a aquecer, libertando carbono e bactérias. Ora a reacção química entre as bactérias e o carbono gera calor. Há um novo ciclo. E quando o carbono é decomposto pelas bactérias, emite dióxido de carbono e metano, que, por sua vez, contribuem directamente para o aquecimento global.

O segundo efeito do degelo do Árctico incide nas grandes fortalezas no extremo norte, em especial a Rússia e o Canadá. À medida que as temperaturas sobem, os insectos que existem em número reduzido por não lidarem bem com o frio, como os besouros, começam a reproduzir-se mais rapidamente e as populações aumentam exponencialmente. Mais animais comem mais plantas e fungos das árvores, enfraquecendo a vegetação e tornando-a mais vulnerável a fenómenos externos, como os incêndios.

Quando começamos a derrubar as primeiras peças de dominó, dificilmente conseguimos impedir as seguintes de caírem.

Há uma associação imediata das alterações climáticas às emissões de dióxido de carbono e de óxido nitroso da produção energética, indústria e transportes. O papel das emissões de metano, com origem na agro-pecuária, é negligenciado?
Sim. Das áreas de actividade humana que emitem mais gazes com efeito de estufa (dióxido de carbono, óxido nitroso e metano), a energia é o maior sector. Mas os dois seguintes têm praticamente o mesmo peso: agricultura e transportes. Só depois temos a construção e os resíduos, que em decomposição libertam bastante metano.

A agricultura emite os três gases. Emite CO2, porque a agricultura moderna é essencialmente mecanizada, movida a combustíveis fósseis. O óxido nitroso tem origem, principalmente, nos fertilizantes nitrogenados. E o metano aparece neste cenário por duas razões: [criação de] gado – sustentada pela nossa dieta baseada em carne – com origem no processo de digestão dos animais; e o cultivo de arroz. Quando se faz cultivo em arrozais húmidos, há uma decomposição do solo subterrâneo. Como não é directamente exposto ao ar, esse solo não tem dióxido de carbono. Tem carbono e hidrogénio, CH4 [metano], que borbulha para o campo inundado de arroz. [O metano] é um gás muito mais perigoso que o CO2, por ser mais eficiente na captura de radiação.

Isso leva-o a concluir que o sistema terrestre não é compatível com os actuais sistemas económico e social.
Exactamente. Nós estamos a devastar a natureza. Estamos a produzir e a consumir de tal forma que os ciclos naturais não conseguem absorver de forma suficientemente rápida o que emitimos. Então acumula-se. Começamos por ter poluição local dos oceanos, dos solos, do ar. E desde 1950 temos poluição global.

Ou controlamos as alterações ao clima ou "estas catástrofes vão ser frequentes"
A resposta da ciência foi, em 2009, a definição dos nove limites do planeta dentro dos quais a vida na Terra está assegurada. Estes indicadores são medidos?
Não de forma sistemática. A concentração de CO2 é medida por várias agências. Para os restantes, é necessário esforço da parte dos cientistas para recolherem os dados. Não há nenhuma agência, como as Nações Unidas, que os monitorize de forma sistemática.

Essa agência pode ser a Casa Comum da Humanidade? Quais são as suas expectativas?

Acho que vamos poder monitorizar o que acontece na Terra, como um sistema. E espero que com isso consigamos obter compromissos dos governos para que trabalhem em conjunto pela estabilidade do sistema terrestre.

Mas a Casa também tem uma missão ética e moral. Até agora só olhámos para a Terra como uma coisa física – pescamos do mar, fazemos agricultura no solo, cortamos árvores –, não pensamos na parte intangível do sistema terrestre, que nos proporciona um sistema estável e favorável à vida.

Hoje temos a biosfera, o clima e a antroposfera. Se nos imaginarmos nesta moldura, seremos capazes de nos gerir como parte do sistema terrestre e como entidade capaz de o manter em equilíbrio. Devemos olhar para o sistema terrestre como um “sistema de suporte de vida”. Acho que se a Casa Comum da Humanidade conseguir passar esta ideia às pessoas será um grande sucesso.

Como avalia, até agora, os avanços do Acordo de Paris?
É cedo para fazer uma avaliação completa. Mas agora diria que estou desiludido. Não vejo nenhuma mudança significativa, à excepção, talvez, da China. Certamente não nos Estados Unidos. Nem na Alemanha – que é tradicionalmente um país activo nesta matéria –, onde têm problemas em parar as minas de carvão na antiga região leste. Acho que temos grandes desafios à frente. Em parte porque é um problema do sistema. As pessoas, até os governos querem fazer o que é certo, mas estão a combater um sistema económico assente no não-reconhecimento do intangível.

Apelando à sua experiência na Suécia e na Austrália, o que podem fazer os governos a nível local?
Uso um exemplo da Austrália. Em Camberra, cidade que, embora seja capital, terá menos de um meio milhão de habitantes, a administração local decidiu, em 2010, eliminar completamente o carbono do sistema energético até 2020. Eram apenas 10 anos para fazer a mudança e, na altura, estávamos nervosos porque as renováveis eram muito caras. Mas os preços começaram a descer. Agora temos cinco grandes parques solares ao longo da auto-estrada e parques eólicos. Claro que fazemos parte de uma rede nacional, mas eliminámos os combustíveis fósseis do consumo de energia dos habitantes de Camberra. E, não só fizemos isto, como temos o preço mais baixo de energia na Austrália.

Isto deu-nos confiança. E recentemente aprovámos uma nova lei para eliminar o resto do carbono da economia de Camberra – resíduos, transporte, infra-estruturas – até 2025 ou até mais cedo. E isto mantém-nos entre os intervalos do Acordo de Paris.

O passo mais difícil foi o primeiro. Houve grandes discussões políticas. As pessoas diziam que ia custar demasiado, que não ia funcionar, que iam perder os seus empregos. Na verdade, criámos postos de trabalho. Algumas empresas de energia renováveis mudaram as sedes para Camberra, começaram a formar técnicos. A nossa economia cresceu e levou o poder político a dizer: “Sim, vamos eliminar o resto do carbono da economia.”

Há uma tendência para se considerar que, sendo as alterações climáticas um fenómeno global, as acções locais terão pouco impacto. Como desconstrói esta ideia?
As alterações climáticas requerem acção colectiva. E é essa a beleza das energias renováveis: pode-se começar a nível local, até a nível individual. O que se passa na Austrália é que temos um governo que não faz nada, que continua a dar dinheiro à indústria dos combustíveis fósseis. Mas muitas cidades, inclusive bem mais pequenas que Camberra, fazem a parte delas. Então agora a Austrália tem a mais elevada taxa de energia solar per capita do mundo.

E é preciso que as pessoas se envolvam politicamente. Têm que votar em partidos que tomem acções para mitigar as alterações climáticas

O relógio do Apocalipse / Aquecimento Global



While economic growth continues we’ll never kick our fossil fuels habit
George Monbiot

There may be more bicycles but there will also be more planes. We’re still in denial about the scale of the threat to the planet

 @GeorgeMonbiot
Wed 26 Sep 2018 06.00 BST Last modified on Wed 26 Sep 2018 14.03 BST
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Illustration: Sébastien Thibault

We’re getting there, aren’t we? We’re making the transition towards an all-electric future. We can now leave fossil fuels in the ground and thwart climate breakdown. Or so you might imagine, if you follow the technology news.

So how come oil production, for the first time in history, is about to hit 100m barrels a day? How come the oil industry expects demand to climb until the 2030s? How is it that in Germany, whose energy transition (Energiewende) was supposed to be a model for the world, protesters are being beaten up by police as they try to defend the 12,000-year-old Hambacher forest from an opencast mine extracting lignite – the dirtiest form of coal? Why have investments in Canadian tar sands – the dirtiest source of oil – doubled in a year?

The answer is, growth. There may be more electric vehicles on the world’s roads, but there are also more internal combustion engines. There be more bicycles, but there are also more planes. It doesn’t matter how many good things we do: preventing climate breakdown means ceasing to do bad things. Given that economic growth, in nations that are already rich enough to meet the needs of all, requires an increase in pointless consumption, it is hard to see how it can ever be decoupled from the assault on the living planet.

When a low-carbon industry expands within a growing economy, the money it generates stimulates high-carbon industry. Anyone who works in this field knows environmental entrepreneurs, eco-consultants and green business managers who use their earnings to pay for holidays in distant parts of the world and the flights required to get there. Electric vehicles have driven a new resource rush, particularly for lithium, that is already polluting rivers and trashing precious wild places. Clean growth is as much of an oxymoron as clean coal. But making this obvious statement in public life is treated as political suicide.

The Labour party’s new environment policy, published this week, rightly argues that “our current economic model is threatening the foundations on which human wellbeing depends”. It recognises that ecological collapse cannot be prevented through consumer choice or corporate social responsibility: the response to our greatest predicament must be determined by scientific research, and planned, coordinated and led by government. It pledges “to meet the Paris agreement goal of limiting global temperature rises to no more than 1.5C”. But, like almost everyone else, it ignores the fundamental problem. Beyond a certain point, economic growth – the force that lifted people out of poverty, and cured deprivation, squalor and disease – tips us back into those conditions. To judge by the devastation climate breakdown is wreaking, we appear already to have reached this point.

The contradiction is most obvious when the policy document discusses airports (an issue on which the party is divided). Labour guarantees that any airport expansion must adhere to its tests on climate change. But airport expansion is incompatible with its climate commitments. Even if aircraft emissions are capped at 2005 levels, by 2050 they will account for half the nation’s carbon budget if the UK is not to contribute to more than 1.5C of global warming. If airports grow, they will swallow even more of the budget.

Airport expansion is highly regressive, offending the principles of justice and equity that Labour exists to uphold. Regardless of the availability and cost of flights, they are used disproportionately by the rich, as these are the people with the business meetings in New York, the second homes in Tuscany, and the money to pay for winter holidays in the sun. Yet the impacts – noise, pollution and climate breakdown – are visited disproportionately on the poor.

I recognise that challenging our least contested ideologies – growth and consumerism – is a tough call. But in New Zealand, it is beginning to happen. Jacinda Ardern, the Labour prime minister, says: “It will no longer be good enough to say a policy is successful because it increases GDP if it also degrades the physical environment.” How this translates into policy, and whether her party will resolve its own contradictions, remains to be determined.

No politician can act without support. If we want political parties to address these issues, we too must start addressing them. We cannot rely on the media to do it for us. A report by the research group Media Matters found that total coverage of climate change across five US news networks (ABC, CBS, NBC, Fox and PBS) amounted to 260 minutes in 2017 – a little over four hours. Almost all of it was a facet of the Trump psychodrama (Will he pull out of the Paris accord? What’s he gone and done this time?) rather than the treatment of climate chaos in its own right. There was scarcely a mention of the link between climate breakdown and the multiple unnatural disasters the US suffered that year; of new findings in climate science; or of the impacts of new pipelines or coalmines. I cannot find a comparable recent study in the UK. I suspect it is a little better, but not a lot.

The worst denial is not the claim that this existential crisis isn’t happening. It is the failure to talk about it at all. Not talking about our greatest predicament, even as it starts to bite, requires a constant and determined effort. Taken as a whole (of course there are exceptions), the media are a threat to humanity. They claim to speak on our behalf, but they either speak against us or do not speak at all.

So what do we do? We talk. As the climate writer Joe Romm argued in ThinkProgress this year, a crucial factor in the remarkable shift in attitudes towards LGBT people was the determination of activists to break the silence. They overcame social embarrassment to broach issues that other people found uncomfortable. We need, Romm argues, to do the same for climate breakdown. A recent survey suggests that 65% of Americans rarely or never discuss it with friends or family, while only one in five hear people they know mention the subject at least once a month. Like the media, we subconsciously invest great psychological effort into not discussing an issue that threatens almost every aspect of our lives.

Let’s be embarrassing. Let’s break the silence, however uncomfortable it makes us and others feel. Let’s talk about the great unmentionables: not just climate breakdown, but also growth and consumerism. Let’s create the political space in which well-intentioned parties can act. Let us talk a better world into being.

• George Monbiot is a Guardian columnist


A grande orgia global


Os líderes do mundo têm vindo a adiar as decisões urgentes e o relógio do Apocalipse continua o seu percurso determinante.

ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO
9 de Agosto de 2018, 6:30

O dia 1 de Julho de 2018 foi uma data histórica para o Planeta Terra. Neste dia contaram-se 200.000 aviões simultaneamente no ar. Um número culminante, nunca antes alcançado. O dia 6 de Agosto de 2018 foi a data da publicação de um artigo na revista científica PNAS, da autoria de, entre outros, Johan Rockström, director executivo do Centro de Resiliência de Estocolmo.

Este artigo avisa-nos de que a simples ideia propagada pelo Acordo de Paris (2015) de que estabilizar a temperatura nos dois graus acima do período pré-industrial será suficiente para estabilizar o efeito de estufa é irrealista e insuficiente. A situação é mais complexa, pois trata-se de uma teia de processos e de um encadeamento de fenómenos que mutuamente se influenciam, e que a partir de um certo limite podem transformar-se num efeito de dominó activo, acelerador e imparável, tornando o Planeta inabitável.

Eles são conhecidos: o degelo do Pólo Norte com o perigo do descongelamento da permafrost e a libertação do metano. A alteração da corrente do Golfo, que já está neste momento ao nível mais baixo dos últimos 1600 anos. O degelo na Gronelândia, etc..

A data limite para descarbonizar situa-se entre 2040-2050. A partir daí as reacções conjuntas e irreversíveis podem iniciar-se, num cenário capaz de ultrapassar qualquer fantasia catastrófica.

Os líderes do mundo têm vindo a adiar as mega-urgentes decisões e o relógio do Apocalipse continua o seu percurso determinante.

Neste momento em que escrevo, encontro-me em Amesterdão e a temperatura é de 34 graus. Não chove desde Maio, e as conhecidas paisagens verdes foram transformadas num amarelo expectável no Verão alentejano mas simplesmente alarmantes na Holanda. O mesmo se verifica em toda a Europa do Norte, tendo a Suécia sido confrontada com incêndios florestais.

Simultaneamente, as cidades europeias conheceram o conhecido e sempre crescente fluxo imparável de turismo, sustentado pelo “low cost” que permite e possibilita deslocações em massa, intuitivas, inconscientes e predadoras, que já transformaram as cidades europeias, antigos locais representantes de identidade cultural, em “sítios” a serem consumidos e devorados em banquetes de hedonismo e orgias globalizadoras.

A redução de uma cidade a uma plataforma monofuncional reduzindo e sacrificando tudo a uma só actividade, leia-se turismo, apresenta sintomas destruidores para o ecossistema urbano, que estão na mesma linha, embora em escalas diferentes, dos sintomas planetários.

Qual é a pegada e o preço ambiental deste modelo de “desenvolvimento”? Qual é a pegada e o preço ambiental do “low cost flying”?

O país foi dominado pelo caso Robles e pela queda dos seus pedestais das “santas” Catarina e Joana, o que levou a tsunamis de opinião e de indignação. No entanto, com Robles & Companhia ou não, com aproveitamento político ou não destes fenómenos, os verdadeiros problemas ligados à especulação imobiliária, ao aumento apocalíptico do preço da habitação, à catastrófica dependência e vassalagem do Alojamento Local “à rédea solta” e ao flagelo dos despejos, mantêm-se na sua crescente omnipresença e omnipotência erosiva e destruidora.

E a “festa” continua imparável, no seu carácter de “festa titânica”, contribuindo na sua mobilidade incontrolada para mais C02. Em última análise, em absoluto desespero, nem nos precisamos de preocupar.

Este modelo de viagens ilimitadas, e de mobilidade predadora e consumidora da autenticidade cultural e da identidade local, é ambientalmente completamente insustentável e incomportável e na sua inconsciência criminosa. O momento de paragem desta grande orgia global aproxima-se inevitavelmente, momento dramático para Portugal, que irá acordar do seu torpor e ser obrigado a reconhecer a sua dependência e os limites da aposta exclusiva num modelo auto-destruidor e alienante.

Historiador de Arquitectura



World 'nowhere near on track' to avoid warming beyond 1.5C target

Key UN report says limiting temperature rise would require enormous, immediate transformation in human activity

Oliver Milman
@olliemilman
Thu 27 Sep 2018 06.00 BST Last modified on Thu 27 Sep 2018 06.03 BST

Avoiding a temperature increase of more than 1.5C will be ‘extraordinarily challenging’, says the report’s author.
The world’s governments are “nowhere near on track” to meet their commitment to avoid global warming of more than 1.5C above the pre-industrial period, according to an author of a key UN report that will outline the dangers of breaching this limit.

A massive, immediate transformation in the way the world’s population generates energy, uses transportation and grows food will be required to limit the global temperature rise to 1.5C and the forthcoming analysis is set to lay bare how remote this possibility is.

 “It’s extraordinarily challenging to get to the 1.5C target and we are nowhere near on track to doing that,” said Drew Shindell, a Duke University climate scientist and a co-author of the Intergovernmental Panel on Climate Change report, which will be unveiled in South Korea next month.

“While it’s technically possible, it’s extremely improbable, absent a real sea change in the way we evaluate risk. We are nowhere near that.”

In the 2015 Paris climate pact, international leaders agreed to curb the global temperature rise to 2C above the era prior to mass industrialization, with an aspiration to limit this to 1.5C. The world has already warmed by around 1C over the past century, fueling sea level rises, heatwaves, storms and the decline of vulnerable ecosystems such as coral reefs.

Shindell wouldn’t share exact details of the IPCC report, but he said that the more ambitious 1.5C goal would require a precipitous drop in greenhouse emissions triggered by a rapid phaseout of fossil fuels, particularly coal, mass deployment of solar and wind energy and the eradication of emissions from cars, trucks and airplanes.

Even then, emerging technology will be required on a global scale to capture emissions at the source and bury them in the ground or remove carbon directly from the air.

“The penetration rate of new technology historically takes a long time,” Shindell said. “It’s not simple to change these things. There aren’t good examples in history of such rapid, far reaching transitions.”

The fading prospect of keeping the global temperature rise to below 1.5C has provoked alarm among leaders of low-lying island nations that risk being inundated should the world warm beyond this point.

“Every country must increase the ambition of their existing targets,” said Hilde Heine, president of the Marshall Islands, which announced a plan to reach net zero emissions by 2050 at the UN general assembly in New York this week. “If we can do it, so can everyone else.”

The UN general assembly has again pitted the world’s countries against Donald Trump when it comes to climate change, with the US president using his keynote speech to praise “clean coal”. Trump has vowed to exit the Paris accord, a stance that Emmanuel Macron, the French president, told the UN should be met with consequences such as a refusal by countries to enter into trade deals with the US.

“It’s a lot more difficult without the US as a leader in climate change negotiations,” Ola Elvestuen, Norway’s environment minister, told the Guardian. “We have to find solutions even though the US isn’t there.”

Elvestuen said countries, including Norway, which is one of the world’s largest oil and gas producers, need to transition away from fossil fuels, embrace electric cars and halt deforestation.

He admitted these changes hadn’t happened quickly enough since the Paris deal. Last year, global greenhouse gas emissions rose slightly again after a short period of stasis.

“We are moving way too slowly,” Elvestuen said. “We have to do more of everything, faster. We need to deliver on policies at every level. Governments normally move slowly but we don’t have the time.”

“The 1.5C target is difficult, but it’s possible. The next four to 12 years are crucial ones, where we will set the path to how the world will develop in the decades ahead. The responsibility in doing this is impossible to overestimate. To reach the goals of the Paris agreement we need large structural changes.”

A difference of 0.5C in temperature may appear small but the IPCC report, which is a summary of leading climate science, is expected to warn there will be major impacts if warming reaches 2C.

“Even 1.5C is no picnic, really,” said Dr Tabea Lissner, head of adaption and vulnerability at Climate Analytics.

Lissner said a world beyond 1.5C warming meant the Arctic would be ice-free in summer, around half of land-based creatures would be severely affected and deadly heatwaves would become far more common. “0.5C makes quite a big difference,” she said.



ARGUMENT
The Paris Accord Won’t Stop Global Warming on Its Own
The world needs a new alliance of green economic powers to create a low-carbon economic zone.

BY RICHARD SAMANS | SEPTEMBER 26, 2018, 8:24 AM

The 2015 United Nations Paris climate agreement was an important political accomplishment, but confronting climate change will ultimately require an economic breakthrough.

The Paris agreement established a consensus goal for humanity: a maximum temperature increase of 2 degrees Celsius over the level prevailing before the dawn of the Industrial Revolution in the mid-1700s. It also created a universally acceptable political framework in which states make nonbinding, nationally determined contributions toward this goal, subject to periodic peer review and voluntary adjustment.

As important as this diplomatic achievement was, it represents only half the job that the international community must perform. To stabilize the planet’s warming by midcentury at levels our children and grandchildren will find manageable, the world needs a new economic framework to accelerate the propagation of low-carbon energy innovationsTo stabilize the planet’s warming by midcentury at levels our children and grandchildren will find manageable, the world needs a new economic framework to accelerate the propagation of low-carbon energy innovations that entrepreneurs are increasingly bringing to market on competitive terms.
Even with the national commitments registered under the Paris agreement, the world remains on course for a catastrophic 3 degree temperature rise rather than the 2 degree goal set in Paris.

This new phase of international climate change cooperation will require a different cast and architecture than the one that produced the Kyoto and Paris accords. Foreign and environment ministries were the key players in the creation of the U.N. Framework Convention on Climate Change’s Kyoto Protocol in 1997 and the Paris accord in 2015, with crucial input from the scientific community through assessments organized through the Intergovernmental Panel on Climate Change.

This time around, the economic ministries (finance, trade, energy, transport, infrastructure, development, and technology) will need to be engaged as well, with active input from the business and financial communities.

While the climate diplomacy of the past two decades has taken place at the multilateral level in the U.N., this new economic phase will require a more purpose-built and variable configuration. Since the speed and volume of greenhouse gas emissions reductions is what matters most, a universal, multilateral approach will be unnecessary and even counterproductive. Global emissions are concentrated in a limited number of locations and industrial sectors, so there is no need to seek unanimous agreement among the U.N.’s nearly 200 member states.

The best approach would be for a group of like-minded major economies to use their combined market power to speed the diffusion of carbon-efficient utility, industrial, and consumer goods and services by aligning their policy incentives and standards in ways that create greater economies of scale and lower transaction costs for producers.

A coalition of countries with big markets and ambitious environmental goals as well as supportive business communities could together accelerate a shift of production and consumption patternsA coalition of countries with big markets and ambitious environmental goals as well as supportive business communities could together accelerate a shift of production and consumption patterns, directly at first within their own sizable collective share of the world economy and then indirectly in other markets as these increased economies of scale drive down production costs of low-carbon goods and services and make them more affordable globally.

Examples of climate-related economic cooperation have begun to emerge over the past several years. For example, the Major Economies Forum, World Trade Organization environmental goods negotiations, Carbon Pricing Leadership Coalition, RE100, the Financial Stability Board Task Force on Climate-Related Financial Disclosures, and other initiatives have all taken important steps forward. But relative to the challenge the world faces, these are baby steps—fledgling and uncoordinated efforts that unfortunately are not yet making a major difference in production and consumption patterns where they would most affect global emissions.

Kavanaugh: Trump orders FBI inquiry after Republicans vote to advance nomination / VIDEO:Tearful woman confronts Senator Flake on elevator



Kavanaugh: Trump orders FBI inquiry after Republicans vote to advance nomination
Move comes after Republican senator Jeff Flake threatened to oppose nomination without further examination of allegations

Sabrina Siddiqui in Washington
@SabrinaSiddiqui
Fri 28 Sep 2018 23.41 BST First published on Fri 28 Sep 2018 15.11 BST

Donald Trump has directed the FBI to launch a supplemental investigation into the supreme court nominee Brett Kavanaugh, after an extraordinary display of 11th-hour drama at the Senate judiciary committee vote to advance his confirmation on Friday.

Trump said in a statement that the updated investigation into his nominee for America’s highest bench “must be limited in scope” and “completed in less than one week”. However, he later suggested in a tweet that it was only a matter of time before Kavanaugh was appointed.


Donald J. Trump
@realDonaldTrump
 Just started, tonight, our 7th FBI investigation of Judge Brett Kavanaugh. He will someday be recognized as a truly great Justice of The United States Supreme Court!

2:27 AM - Sep 29, 2018

Senate Republicans voted to advance Kavanaugh’s nomination despite a last-minute change of heart by a Republican senator, who broke ranks and called for an FBI investigation into the sexual assault allegations that have roiled the judge’s confirmation process.

Moments before the Senate judiciary committee voted 11-10, along strict party lines, to send Kavanaugh’s nomination to the floor for the full chamber’s consideration, Senator Jeff Flake announced he would support a “limited” FBI investigation and threatened to oppose Kavanaugh if there was no further examination of the allegations against him.

 “I think it would be proper to delay the floor vote for up to and not more than one week in order to let the FBI do an investigation,” Flake said at the hearing on Friday.

Following Flake’s insistence, the Senate judiciary committee later said it was formally requesting that the Trump administration instruct the FBI to conduct a supplemental background investigation that would be “limited to current credible allegations against the nominee and must be completed no later than one week from today”.

The decision marks a reversal for the administration, which had argued that Kavanaugh had already been vetted.

The remarkable turnaround came hours after Flake announced his support for Kavanaugh despite dramatic testimony on Thursday that saw the supreme court nominee and Christine Blasey Ford, a California professor who accused him of sexual assault, deliver dueling testimony on Capitol Hill.

Flake, who had been regarded as a crucial swing vote, reversed course after he was confronted by two survivors of sexual assault in an elevator shortly before Friday’s committee vote.

The confrontation with Flake could be seen in TV footage blocking the Arizona senator from closing the elevator door. Through her tears, one woman said she had been a victim of sexual assault, and begged Flake to look her in the eye. She said: “Look at me and tell me that it doesn’t matter what happened to me.”

The gripping exchange appeared to have had an impact on Flake, who subsequently sat stone-faced in the committee room in anticipation of the vote. As his Republican colleagues took turns declaring their support for Kavanaugh, Flake abruptly left the room to engage in private discussions with Democrats on the committee.

Nearly an hour of tense, closed-door deliberations followed, pushing the vote past its scheduled time. As members exited and re-entered the room several times, seeking to make sense of what was transpiring behind-the-scenes, Flake finally re-emerged before the committee and voiced support delaying a full Senate vote on Kavanaugh pending a FBI investigation.

“We can have a short pause and make sure the FBI can investigate,” he said.

During Thursday’s hearing, Ford recounted how Kavanaugh attempted to rape her when the two were teenagers in the early 1980s. Kavanaugh vehemently denied the charge from Ford, who testified to lawmakers under oath that she was “100%” sure he assaulted her.

According to her lawyer, Ford welcomed the FBI investigation, but said “no artificial limits as to time or scope should be imposed on it”.

Kavanaugh said he had done “everything” the Senate had asked of him and “will continue to cooperate.”

Thursday’s emotionally charged hearing underscored not only the potential ramifications of sending Kavanaugh to the supreme court, where he would play a role in shaping decades’ worth of policy, but also the societal impact of the #MeToo movement and recourse for victims of sexual assault.

It remains unclear if Republicans possess the necessary votes from the full chamber to confirm Kavanaugh. With a narrow 51-49 seat majority in the Senate, Republicans can afford to lose just one vote.


Tell us: how have the Brett Kavanaugh hearings affected you?
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Susan Collins of Maine and Lisa Murkowski of Alaska, two of the Senate’s prominent Republican women, have remained undecided on Kavanaugh. Both senators on Friday afternoon expressed support for a limited FBI investigation following the committee’s announcement that it would seek one.



CNN
@CNN
 Women confront Sen. Jeff Flake after he says he'll vote yes to Kavanuagh: “That’s what you’re telling all women in America, that they don’t matter. They should just keep it to themselves because if they have told the truth you’re just going to help that man to power anyway.”

3:46 PM - Sep 28, 2018

Speaking to reporters earlier on Friday, Trump said he had not considered an alternative to Kavanaugh. But he did not escalate pressure on Senate Republicans to rally behind his nominee, stating: “They have to do what they think is right.”

Also earlier in the day, Sarah Sanders, the White House press secretary, had dismissed calls for a new FBI investigation, telling reporters Kavanaugh had already “been through six separate background investigations by the FBI”.

Kavanaugh is a darling of the conservative right in America but his path to the supreme court has been hit by a series of sexual assault allegations from three women.

Democrats have called for Kavanaugh to withdraw as more accusers have come forward. Following Kavanaugh’s fiery testimony on Thursday, several Democrats voiced concerns over his suitability for the historically independent supreme court.

Senator Dianne Feinstein, the judiciary committee’s top Democrat, said the judge had been “aggressive and belligerent”.

“I have never seen someone who wanted to be elevated to the highest court in our country behave in that manner,” she said.

Patrick Leahy, a Democrat from Vermont, lamented the committee was no longer independent.

He said: “We are an arm, and a very weak arm, of the Trump White House.”

Brett Kavanaugh: Trump defers to Senate after Jeff Flake calls for FBI investigation – as it happened
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Red-state Democrats facing tough re-election battles in November, some of whom crossed over the aisle last year to confirm Trump’s other supreme court nominee, Neil Gorsuch, also appeared to feel the heat. At least two of them, Senators Jon Tester of Montana and Joe Donnelly of Indiana, announced they would vote against Kavanaugh on Friday.

“As I have made clear before, sexual assault has no place in our society,” Donnelly said in a statement.

“When it does occur, we should listen to the survivors and work to ensure it never happens again. That should not be a partisan issue.”

Joe Manchin, a vulnerable Democrat up for re-election in West Virginia, endorsed Flake’s position.

Meanwhile, there were signs the remarkable testimony had registered negatively with at least two organizations whose endorsement Kavanaugh had earlier received.

The American Bar Association, which previously gave Kavanaugh its highest rating of “well qualified”, asked the Senate judiciary committee and the full Senate to delay the vote until the FBI could do a full background check.