OPINIÃO
O buraco na “muralha” de Paulo
Ferrero
O Fórum tem utilizado permanente, em
rajada, um tom a roçar um Alarmismo Populista e Ruidoso que não serve a
serenidade e qualidade exigidas na discussão.
ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO
5 de Setembro de 2018, 6:19
Este, aparentemente, título personalizado, é o que me resta
para me manifestar sobre o importante caso de intervenção no claustro da Sé.
Este texto constitui uma reacção ao texto de Vitor Serrão
anteriormente publicado no PÚBLICO, onde este conceituado Professor fazia,
equilibradamente, um apelo à serenidade e ao bom senso, mas não só. Ele
constitui também uma reacção ao facto de que quando fiz uma tentativa, para
obter mais informação detalhada sobre este caso instigado e iniciado por Paulo
Ferrero, o qual dirige também a página do Fórum no facebook, imediatamente fui
excomunicado devido ao meu tom interessado mas crítico, e foi-me negado
qualquer tipo de acesso à mesma página, a partir desse momento.
Portanto se o Fórum proporcionou mais informação sobre o
processo/ projecto que fundamentassem as suas posições foi-me impossível
conhecê-la.
Ora a discussão que o Fórum pretende abrir, é sem dúvida
pertinente e necessária. Ao longo dos anos, aqueles que me seguem aqui no
PÚBLICO (e noutros locais) podem confirmar o reconhecimento de uma situação de
desequilibrio em Portugal, no que respeita as normas e princípios do Restauro e
isto devido à ausência de uma cultura de Restauro tanto no Ensino como na práctica.
Ao longo dos anos várias vezes denunciei o facto de que por falta de
Arquitectos de Restauro, o restauro está entregue aos Arquitectos “criadores”,
que tendem a afirmar-se em ruptura, utilizando-se, em alíbi, do principio de
demarcação reconhecível da intervenção em forma e materiais preconizada pela
Carta de Veneza (Icomos 1965).
E aqui chegamos a um ponto fundamental e importante. Não é a
demarcação em forma e materiais que peca (esta demarcação seguindo a linha
“sacral” de Ruskin entre verdade, pela autenticidade de materiais, ou segundo
ele, mentira, mantendo uma aparente e falsa “unidade de estilo” numa
intervenção posterior e contemporânea) mas é a afirmação arrogante de um
arquitecto “criador” através de um “estilo”/ assinatura.
Ora, esta discussão entre estas duas posições sempre existiu
(intervenção demarcada, que “não mente’ dentro do princípio “Conservação acima
do Restauro”, e outra, em “Unidade de Estilo” pretende “dar a ilusão’ que o
Monumento não foi intervencionado posteriormente).
O Fórum defende pois, em artigo recentemente publicado aqui
no PÚBLICO, uma posição de “Unidade de Estilo” utilizando Viollet – Le - Duc.
Este era, dentro do Revivalismo Gótico, uma das maiores autoridades da teoria
do Gótico, tendo revolucionado a mesma teoria através de uma revisitação e duma
reaproximação moderna/ Racionalista/ Estruturalista da mesma teoria. Portanto o
homem que afirmou no que respeita o Restauro: “Os princípios absolutos nesta
matéria podem conduzir ao absurdo”, se não fosse um homem de bom senso, teria,
fiel à sua teoria, construído no claustro, uma escada neo-gótica em ferro.
Isto, ele nunca faria, simplesmente, por uma questão de
sereno bom-senso.
Portanto, o que está em causa é uma questão de sóbrio
bom-senso, utilizando uma solução neutral não afirmativa na sua demarcação (ou
pretende o Fórum não permitir o acesso aos achados arqueológicos, ou se sim,
construir uma escada Neo-Gótica indiferenciável em estilo e materiais !?).
O Fórum tem utilizado permanente, em rajada, um tom a roçar
um Alarmismo Populista e Ruidoso que não serve a serenidade e qualidade
exigidas na discussão. Um tom dominado por um ‘Acudam/ Aqui D’El Rei’, sem
informar detalhadamente nas suas petições, os prós e contras e todas as
perspectivas nos casos. (veja-se o caso do palacete Mendonça que foi alvo de um
restauro impecável de Interiores).
Ë importante relembrar a frase: “O óptimo é o maior inimigo
do bom” …
E, agora, chegamos a um ponto importante. Paulo Ferrero
nunca se manifestou de qualquer modo, directamente, em pessoa e em público.
Nunca o vi fazer uma intervenção, utilizando ele, sempre
alguém para expor ou defender as suas posições. Chegou o momento de o fazer. Os
seus actos são nitidamente políticos, no que respeitam a uma política da
Cultura.
Paulo Ferrero não pode continuar a esconder-se atrás de uma
“muralha” de assinaturas, utilizando o alíbi da “Cidadania”.
Chegou a altura de abrir um “buraco na muralha” para Paulo
Ferrero e manifestar-se, directamente à luz do público, explicando quem é, o que
faz, e o que pretende, em nome de que formação académica, actividade e
motivação.
PS. Para aqueles interessados nestas questões do Restauro a
minha tese: “História das Ideias, história da teoria da Arquitectura e defesa
do património” (Scribe 2010) poderá ser interessante.
Historiador de Arquitectura
Sem comentários:
Enviar um comentário