Trump on world leaders: ‘They didn’t laugh at me’
Video of the address contradicts the president’s claim.
By REBECCA MORIN 9/27/18, 2:40 AM CET
U.S. President Donald Trump on Wednesday argued that world
leaders did not laugh at him during his remarks to the United Nations General
Assembly a day earlier but were, in fact, laughing with him.
“The fake news said people laughed at President Trump. They
didn’t laugh at me,” Trump said during a press conference in New York. “People
had a good time with me. We were doing it together. We had a good time, they
respect what I have done.”
Trump during his remarks on Tuesday said that his
“administration has accomplished more than almost any administration in the
history of our country.”
The statement was met with laughter, to which Trump
ad-libbed, saying he “didn’t expect that reaction, but that’s okay.”
During Wednesday’s press conference, Trump described how he
was “in front of a large group of highly professional people” who “aren’t big
into clapping, applauding, smiling.”
He said that he “heard a little rustle” after his line, and
then said “it’s true” and heard a “little rustle” again, so he commented about
not expecting that reaction.
“They weren’t laughing at me, they were laughing with me. We
had fun,” Trump said.
Soberania e nação na América? Mas isso são ideias europeias…
A teoria clássica da soberania do Estado é, nos seus traços
fundamentais, muito francesa e indiscutivelmente europeia.
JOSÉ PEDRO TEIXEIRA FERNANDES
26 de Setembro de 2018, 18:45
1. O discurso de Donald Trump na 73.ª Assembleia Geral das
Nações Unidas teve, como era previsível, significativas repercussões
internacionais. “Nunca vamos entregar a soberania da América a uma burocracia
global não eleita, que não presta contas. A América é governada por americanos.
Rejeitamos a ideologia do globalismo e abraçamos a doutrina do patriotismo”,
afirmou Donald Trump. Acrescentou ainda: “Reconhecemos o direito de todas as
nações nesta sala de definirem sua própria política de imigração, de acordo com
seus interesses nacionais. Assim como pedimos aos outros países que respeitem o
nosso próprio direito de fazer o mesmo” […]. “Essa é uma das razões pelas quais
os EUA não participarão no novo pacto global sobre migrações. As migrações não
devem ser governadas por um órgão internacional, que não presta contas aos
nossos cidadãos.” (Ver “Na ONU, Trump defende soberania norte-americana em
detrimento de acordos e fóruns globais” in ONUBR, 25/09/2018). Em defesa da
soberania e do interesse nacional Donald Trump invocou ainda a “doutrina Monroe”,
enunciada por James Monroe, presidente dos EUA no século XIX, numa mensagem ao
Congresso em 1823 (o que ressoa bem no público norte-americano): “Julgarmos
propícia esta ocasião para afirmar, como um princípio que afecta os direitos e
interesses dos EUA, que os continentes americanos, em virtude da condição livre
e independente que adquiriram e conservam, não podem mais ser considerados, no
futuro, como susceptíveis de colonização por nenhuma potência europeia […]”.
Mas estará Donald Trump, na sua lógica egoísta de soberania e patriotismo, tão
isolado mundialmente e imbuído de uma visão do mundo passadista, como parece
aos olhos dos europeus da União Europeia?
2. Uma das poucas coisas em que os EUA, a Rússia e a China
actualmente estarão de acordo é na defesa da sua própria soberania e na
necessidade de incrementar valores patrióticos nos seus países. Na Rússia,
Vladimir Putin tem feito diversas declarações inequívocas nesse sentido. (“Ver
Putin: ‘Russia will be a sovereign state or cease to exist’” (RT News,
5/12/2014). Recentemente, afirmou que se a Rússia tiver de escolher entre o
investimento estrangeiro e a independência escolherá esta última, ou seja, a
independência e uma soberania plena, sem hesitações. É uma rejeição clara do
globalismo e da lógica liberal do comércio internacional actual. (Ver “Putin:
Choosing between sovereignty and investments, Russia will choose independence”
(Tass, 25/05/2018). Quanto à China, apesar da abertura dos mercados
internacionais ser altamente conveniente, e necessária, às suas exportações,
está na mesma linha política. É intransigente no princípio de defesa da
soberania do Estado, do qual a não ingerência estrangeira é uma faceta
fundamental. Assuntos como os direitos humanos, o Tibete ou a situação da
minoria uigur do Xinjiang, são exclusivos da sua soberania interna. (Ver “The
politics of non interference – A New World Order” (China Daily, 25/01/2016).
Para além de tornar o princípio da soberania estadual — e não-ingerência
externa que lhe está associado —, uma trave-mestra da sua diplomacia, a China
pretende agora estendê-lo à soberania na Internet, a maior realização
tecnológica do globalismo contemporâneo. (Ver “Xi Jinping renews ‘cyber
sovereignty’ call at China’s top meeting of internet minds” (South China
Morning Post, 3/12/2017).
3. Ironicamente, as ideias de soberania nacional e
patriotismo, que muitos hoje vilipendiam na União Europeia e Ocidente, são
ideias originalmente europeias e com longo enraizamento. A teoria clássica da
soberania do Estado é, nos seus traços fundamentais, muito francesa e
indiscutivelmente europeia. Inicialmente foi elaborada pelo jurista francês
Jean Bodin no último quartel do século XVI, num trabalho intitulado Les Six
Libres de la Republique / Os Seis Livros da República (1576). Na sua formulação,
a soberania foi concebida como um poder absoluto e perpétuo, sem igual na ordem
interna, que só se relacionava com poderes idênticos na ordem externa. Foi na
Europa do século XVII, com os Tratados de Vestefália, na Alemanha (1648), pondo
fim à Guerra dos Trinta Anos, que se deu a progressiva institucionalização da
teoria da soberania do Estado. Isso ocorreu, em grande parte, sob impulso da
França, em ascensão a grande potência europeia e mundial. Foi nesse contexto
histórico que o Estado soberano, dotado de um poder entendido como absoluto e
exclusivo sobre um território e população, se afirmou, primeiro em toda a
Europa, e, posteriormente, pela influência europeia, no resto do mundo. A ideia
é hoje rejeitada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, que defende o
multilateralismo numa lógica de soberania partilhada, em rota de colisão com as
ideias soberanistas absolutas de Donald Trump. (Ver “A l’ONU, Emmanuel Macron
appelle à ne pas suivre ‘la voie de l’unilatéralisme’”, Le Monde, 25/09/2018).
4. “Allons, enfants de la Patrie, Le jour de gloire est
arrivé !”, é a bem conhecida primeira estrofe da Marselhesa, a canção
patriótica da Revolução Francesa, escrita por Rouget de Lisle (1792) e
posteriormente adoptada como hino nacional na França. Tal como a soberania, a
nação e o patriotismo são ideias políticas muito francesas (e bem europeias).
Têm um primeiro momento fundamental nas guerras, qualificadas como patrióticas,
dos revolucionários franceses de 1789. É também ao francês Ernest Renan, na
muito citada conferência da Universidade de Sorbonne (“O que é uma Nação?”,
Paris, 1882), que se deve aquela que é, provavelmente, a formulação mais
conhecida e influente de nação. Para Ernest Renan, nação era “uma grande
solidariedade, constituída pelo sacrifício dos sacrifícios feitos e dos que
ainda se está disposto a fazer”. Assim, embora supondo um passado, exprime-se
“no presente, por um facto tangível: o consentimento e o desejo claramente
expresso de prosseguir a vida em comum. A existência de uma nação é um
plebiscito de todos os dias”. É também aos europeus, agora sobretudo aos
alemães, que se deve outra variante da concepção de nação de tipo
etno-cultural, ou etno-linguístico. Johann Gottlieb Fichte nos “Discursos à
Nação alemã” (Universidade de Berlim, 1807), identifica-a com uma língua que
reflecte o génio da nação e regula os seus costumes. Esta concepção impulsionou
a formação de uma Alemanha unificada no século XIX (1871), alterando,
radicalmente, o mapa político europeu, ao criar um grande e poderoso Estado no
seu centro — e levou a uma hostilidade aberta com a França, que perdeu a
Alsácia-Lorena nessa altura.
5. Em todo o século XIX e primeiras décadas do século XX os
norte-americanos afastavam-se e rejeitavam esse mundo criado pelos europeus, de
jogos de poder, de guerras, de diplomacia secreta — um mundo politicamente
imoral. A criação da Sociedade das Nações (SdN, 1919), uma ideia do Presidente
dos EUA da época, Woodrow Wilson — o embrião da actual Organização das Nações
das Nações Unidas, do multilateralismo contemporâneo e de novas formas de
partilha de soberania —, foi vista com grande cepticismo por muitos europeus na
época. No debate político e intelectual foi descredibilizada como um utopismo
de consequências nefastas: não impediu a engrenagem político-militar que levou
à II Guerra Mundial. Hoje, os papéis de ambos os lados do Atlântico parecem
invertidos. Os europeus da União Europeia — ou melhor, da parte ocidental da
União Europeia, pois no Centro e Leste europeu a percepção é outra —, acusam os
EUA de Donald Trump de fazer algo semelhante ao que os europeus do século
anterior faziam. Tal como os norte-americanos dessa época, vêem-se, agora,
imbuídos de elevados princípios morais, humanistas e
liberais-internacionalistas (na versão actual consubstanciados nos direitos
humanos, no multilateralismo e na ideia de um património comum da humanidade,
por exemplo no ambiente). A soberania, o patriotismo e a ideia de uma America
first indigna-os. Mas talvez os europeus se estejam a ver ao espelho e estejam
a ter uma imagem do que foram no passado e talvez seja ainda, pelo menos uma
parte, no presente. Quanto aos mais cínicos, dirão que a boa consciência
europeia só veio quando os europeus perderam o poder e deixaram de ser “donos
do mundo”, o que aconteceu após duas guerras no século XX, usualmente
qualificadas como mundiais, mas essencialmente europeias. E que as ideias que
agora defendem são à medida de potências menores, não de genuíno altruísmo.
Provavelmente Donald Trump (EUA), Vladimir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China)
concordam nisso.
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