Extrema-direita sueca ameaça establishment e sonha com
vitória nas legislativas
Democratas Suecos acenam ao eleitorado com discurso
anti-imigração e eurocéptico. Estão bem colocados nas sondagens para a votação
do dia 9.
ANTÓNIO SARAIVA LIMA 3 de Setembro de 2018, 7:12
O domínio centenário do Partido Social-Democrata na arena
política da Suécia está seriamente ameaçado nas eleições legislativas agendadas
para o próximo domingo. Os outrora ostracizados Democratas Suecos – cujas
origens remontam ao movimento neonazi sueco da segunda metade do século passado
– surgem nas sondagens como principais concorrentes do partido de
centro-esquerda e podem mesmo vir a ser a força mais representada no Riksdag
(Parlamento).
Defensores de um programa anti-imigração e anti-União
Europeia, prometem baralhar as contas na formação do Governo e na definição da
agenda política para os próximos anos.
De acordo com o site sueco Val.digital, que faz uma média
actualizada das sondagens realizadas pelas principais empresas do sector, os
nacionalistas agregam 20,2% das intenções de voto, pouco abaixo dos
sociais-democratas, no topo com 24,3%, e acima do Partido Moderado
(centro-direita), que recebe 19,5% dos apoios.
Alguns dos estudos tidos em conta no cálculo do Val.digital
dão aos Democratas Suecos o primeiro lugar e com percentagens superiores a 25%,
como foi o caso do da YouGov. Números que põem a força populista à beira de
duplicar a sua representação no Riksdag, depois dos 12,9% obtidos nas eleições
de 2014.
O caminho percorrido pelos Democratas Suecos nos últimos
anos é um caso de manual na política europeia recente. Ou, pelo menos, no que
versa sobre a estratégia de “desdiabolização” posta em prática por muitos
movimentos de extrema-direita do continente, como a Frente Nacional (França), a
AfD (Alemanha) ou o FPÖ (Áustria).
Herança nazi
Fundado em 1988 por antigos membros do Reino Nórdico, um
partido neonazi nascido nos anos de 1950, e patrocinado pelo movimento
nacionalista Bevara Sverige Svenskt (Manter a Suécia Sueca), o partido de
extrema-direita foi durante largos anos marginalizado pelas restantes forças
políticas, devido ao seu programa xenófobo e supremacista.
A partir de 2005, porém, os Democratas Suecos iniciaram um
processo de moderação, sob a liderança de Jimmie Akesson (39 anos). Sem abdicar
do nacionalismo, da reprovação da imigração e do desdém pela União Europeia, o
partido suavizou as suas posições mais extremistas, começou a focar-se nos
problemas que afligem os pensionistas e os desempregados, e levou a cabo uma
verdadeira purga interna, expulsando militantes abertamente racistas,
anti-semitas e xenófobos – incluindo figuras de topo.
A estratégia tem funcionado. Os Democratas Suecos chegam a
cada vez mais eleitores e estão a crescer a olhos vistos nas intenções de voto.
Mas para os analistas não há grande diferença entre o passado e o presente do
partido, quando o seu líder defende, por exemplo, que o crescimento da
comunidade muçulmana na Suécia é a “maior ameaça estrangeira desde a II Guerra
Mundial”.
“A mentalidade das pessoas mais activas dentro dos
Democratas Suecos é a de que os imigrantes e as minorias estão no centro de
tudo o que está errado com a sociedade. E por isso continuamos a ler, nas
notícias, escândalos sobre políticos seus que dizem coisas como ‘a Suécia é um
lugar onde os brancos pertencem e os não brancos não’”, explica ao Observer
Jonathan Leman, investigador na revista sueca Expo, especializada no estudo de
nacionalismos e extremismos.
“Imigração é cara”
Apesar de a economia estar a crescer, de o Estado social
sueco ser um dos mais generosos do mundo e de o país apresentar elevados
índices de satisfação e qualidade de vida, o eleitorado do partido de extrema-direita
preocupa-se com o crescimento da população nascida fora da Suécia – 18% de 10
milhões de habitantes –, o seu impacto no acesso aos benefícios sociais, e o
aumento da criminalidade e da violência urbana.
Inquietações que os Democratas Suecos têm sabido explorarem,
abordando-as muitas vezes como um único problema. E com redobrado vigor nos
últimos cinco anos, depois de a Suécia ter acolhido quase 600 mil refugiados.
Ao mesmo tempo que argumentam que todos os imigrantes que
aprendam sueco e abracem a cultura do país são bem-vindos, os populistas querem
reduzir o número de licenças de trabalho para cidadãos estrangeiros e confinar
a aceitação de pedidos de asilo político a pessoas de nacionalidade
dinamarquesa, finlandesa e norueguesa.
“A imigração é cara: retira recursos aos professores, aos
médicos e aos assistentes sociais. E afecta tudo o resto. Não podemos fechar os
olhos”, justifica ao Financial Times Patrick Jonsson, dirigente regional do
partido.
Excluindo o debate sobre a Europa – a proposta de um
referendo sobre a saída da Suécia da UE ainda não granjeou muitos adeptos –, a
verdade é que os Democratas Suecos foram bem-sucedidos a trazer os temas da
imigração e dos desafios da globalização para a campanha. Obrigaram os partidos
do establishment a adaptar os seus programas e, dessa forma, a contribuir para
a legitimação de um partido que ainda vêem como pária e com quem ninguém quer
conversar.
Paula Bieler, deputada dos Democratas Suecos, vê como
inevitável a entrada do seu partido no diálogo político mais alargado e
acredita que quanto mais forem ostracizados, mais apoios receberão no futuro:
“De uma forma ou de outra, o próximo Governo terá de falar com todos os
partidos. Se recusarem falar connosco, sofrerão as consequências em 2022”.
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