Legalidade
de hostel em Monsanto questionada na Assembleia Municipal
O
Bloco de Esquerda, que considera todo o processo de concessão de
quatro espaços no parque florestal “absurdo e inaceitável”,
agendou um debate de actualidade sobre o tema
A
câmara está convicta de que a obra “não viola” o PDM, mas
admite estar à espera de um parecer jurídico
Inês Boaventura /
16-9-2015
A legalidade da
“obra de alteração e ampliação” que contempla a abertura de
um hostel com 120 camas na Quinta da Pimenteira, em Monsanto, é
questionada por várias forças políticas com assento na Assembleia
Municipal de Lisboa. A câmara mostra-se convicta de que a obra “não
viola” o Plano Director Municipal (PDM), mas admite estar à espera
de um parecer jurídico que sustente essa posição.
A proposta relativa
ao licenciamento desta operação foi discutida na reunião camarária
da semana passada, mas a votação acabou por ser adiada depois de a
oposição ter manifestado dúvidas sobre o processo. Ontem, o
assunto esteve em discussão na assembleia municipal por iniciativa
do BE, que agendou um debate de actualidade sobre o tema.
Para o bloquista
Ricardo Robles, todo o processo de concessão a um privado de um
conjunto de quatro espaços municipais em Monsanto (a Quinta da
Pimenteira, a Casa do Presidente, duas antigas casas de função e o
Moinho do Penedo) é “absurdo e inaceitável”. Numa intervenção
muito crítica da actuação do executivo presidido por Fernando
Medina, condenou os “disparates deste processo”, incluindo o
valor de 2600 euros fixado como renda mensal a pagar pelo
concessionário (e que nos primeiros três anos desce para mil euros)
e o facto de a concessão ter sido entregue a uma empresa constituída
apenas depois do lançamento do concurso e com capital social de 100
euros.
Quanto ao
licenciamento que a câmara se preparava para aprovar na semana
passada, Robles sustentou que este “tem inúmeros problemas”,
entre os quais o facto de prever a construção de um edifício com
32 camas (designado no projecto por “estufa hostel”) no local
onde existe hoje uma estufa. “Uma estufa é uma estufa, e uma
estufa hostel não é uma estufa, é um hostel”, afirmou,
defendendo que está em causa uma “demolição ilegal”. Para
Robles, a obra de alteração e ampliação prevista “viola” o
PDM, além de ir além do projecto relativamente ao qual o Instituto
da Conservação da Natureza e das Florestas disse, em meados de
2014, nada ter a opor. Dúvidas sobre esse mesmo aspecto foram também
levantadas, à margem da assembleia municipal, pelo vereador João
Gonçalves Pereira. Aos jornalistas, o autarca centrista anunciou que
irá pedir àquele instituto que clarifique a sua posição, “para
tranquilizar toda a gente e para garantir que a câmara não comete
nenhuma ilegalidade”.
Já o PSD manifestou
o seu apoio à posição do BE, afirmando pela voz de Magalhães
Pereira que “não podem nem devem ser admitidas” em Monsanto
“impermeabilizações e destruições de viveiros” como aquelas
que em seu entender irão ocorrer na Quinta da Pimenteira. Também o
seu colega de bancada Victor Gonçalves criticou o projecto para o
local: “Acho que o dinheiro não justifica tudo. Isto não é
salvaguardar o parque de Monsanto, é fazer dinheiro à custa do
parque de Monsanto”, disse.
Para o autarca do
PSD, é claro que a obra que a autarquia pretende viabilizar colide
com o PDM por prever a construção de um hostel em “espaços
exteriores verdes de recreio e produção”. “Toda a proposta vai
contra o que está definido no PDM”, afirmou também Luísa Aldim,
do CDS. Já Cláudia Madeira, do PEV, criticou que se vá permitir um
aumento da superfície de pavimento de quase 3500m2 em Monsanto, que
“não é nem pode ser um banco de terrenos, uma área de negócios
para a Câmara de Lisboa”. “É nossa convicção que não viola o
PDM”, respondeu o vereador da Estrutura Verde, lembrando que no seu
regulamento se diz que nos espaços verdes de recreio e de produção
é permitida a existência de “restaurantes, comércio e
terciário”. Quanto ao hostel, José Sá Fernandes disse que uma
“outra disposição” do documento estabelece que “os sítios
habitacionais [como o edifício principal da Quinta da Pimenteira]
podem transformar-se em hostel”.
O autarca garantiu
que o viveiro existente no local “não é afectado uma vírgula, um
metro quadrado”, assegurando ainda que “não há mais
permeabilização”, na medida em que a tal “estufa hostel” vai
ser construída “numa estufa que não é hoje estufa nenhuma”.
“Está em ruínas e é de cimento”, concluiu Sá Fernandes, sem
responder à pergunta de Cláudia Madeira sobre o que é feito do
“grande debate” sobre Monsanto que prometera realizar este mês.
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