DONALD
TRUMP
"Rodeo
Drive"
OVOODOCORVO
/ Imagens do Dia
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O
ataque contra Trump falhou, mas Fiorina continua a crescer
ALEXANDRE MARTINS
17/09/2015 - PÚBLICO
Os candidatos à
presidência dos EUA pelo Partido Republicano debateram esta noite
pela segunda vez. Jeb Bush tentou dobrar Donald Trump, mas o
resultado teve altos e baixos.
Quem quiser
encontrar momentos que definem a polémica personalidade de Donald
Trump tem muito por onde escolher, mas o segundo debate entre os
candidatos do Partido Republicano à presidência dos EUA, que entrou
pela madrugada desta quinta-feira adentro, começou com uma troca de
palavras que terá sempre lugar numa daquelas listas com "dez ou
mais coisas que você não pode mesmo perder".
Num ataque vindo do
nada, Donald Trump olhou para Rand Paul, senador do Kentucky, e
disse-lhe que ele nem deveria estar naquele debate, por causa da sua
fraca prestação nas sondagens; quando Paul questionou se Trump já
tinha saído da escola secundária, por passar a vida a fazer piadas
com o aspecto físico de outros candidatos, a resposta do magnata
deixou a audiência sem saber se havia de rir ou corar de vergonha
alheia: “Nunca fiz comentários sobre o aspecto físico dele, e
acreditem que há ali muito para comentar.”
Apesar desta
primeira rasteira a Rand Paul, Donald Trump cedo percebeu que desta
vez os seus colegas não iriam deixá-lo ser rei e senhor do recreio,
ao contrário do que aconteceu no primeiro debate, em Agosto. Na
noite de quarta para quinta-feira, na Biblioteca Presidencial Ronald
Reagan, na Califórnia, e com o Air Force One do antigo Presidente
norte-americano como pano de fundo, vários candidatos tentaram
acertar alguns golpes no ego do magnata, mas foi Carly Fiorina quem
se destacou.
Tal como aconteceu
em Agosto, no debate transmitido pela Fox News, também nesta noite,
nas câmaras da CNN, os candidatos foram divididos em dois grupos: um
primeiro com os quatro mais atrasados nas sondagens, que durou cerca
de 80 minutos, seguido do espectáculo principal, com 11 candidatos a
responder a perguntas e a resumir argumentos durante três penosas
horas. De tal maneira que no final, quando questionado por um
jornalista sobre se tinha retirado alguma lição do debate, Donald
Trump disse que tinha percebido que conseguia ficar três horas
seguidas sem se sentar.
Todos os candidatos
tiveram de falar sobre os mais variados assuntos – do acordo sobre
o programa nuclear iraniano à ameaça do autoproclamado Estado
Islâmico, do emprego ao casamento gay, da imigração à legalização
do consumo de marijuana.
E foi durante este
último tema que saiu um dos momentos mais divertidos da noite,
quando Jeb Bush se viu levado por Rand Paul a confessar publicamente
que já tinha fumado. “Admito que fumei marijuana há 40 anos.
Tenho a certeza de que outras pessoas também fumaram, mas se calhar
não querem admitir perante 25 milhões de pessoas. A minha mãe não
está contente por eu ter acabado de o admitir”, disse Bush,
provocando uma sonora gargalhada entre as cerca de 500 pessoas
presentes na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan. Apesar da reacção
da audiência, Bush não disse nada que não tenha confessado num
artigo publicado em Janeiro pelo jornal Boston Globe e, poucos
minutos depois de ter terminado a frase no debate, a sua equipa de
redes sociais já estava a disparar, nos bastidores, uma divertida
mensagem no Twitter: “Desculpa, mãezinha.”
Antes do início do
debate, mais do que as ideias de cada um dos candidatos, as análises
centravam-se no que seria de esperar da prestação de Donald Trump.
Estaria o homem que lidera as sondagens no Partido Republicano
preparado para se acalmar um pouco – nem que fosse por três horas
– e deixar para trás a imagem de rufia que tem contribuído de
forma decisiva para essa liderança? Estaria o mundo preparado para
conhecer um Donald Trump mais comedido, a começar a piscar o olho a
uma camada do eleitorado mais tradicional? A resposta foi rápida:
não.
A diferença foi que
Jeb Bush precisava desesperadamente de fazer mais do que no primeiro
debate, para tentar recuperar da queda livre nas sondagens, o que lhe
deixou nas mãos uma tarefa quase impossível: tentar ganhar a Trump
no jogo que ele próprio inventou, o do candidato presidencial que se
comporta como se estivesse num reality show.
Foram várias as
picardias entre os dois, mas será uma surpresa se as percentagens de
Bush começarem a subir devido à sua prestação neste debate.
Uma mulher em
ascensão
Quem continua na sua
trajectória ascendente é Carly Fiorina, a única mulher entre os
candidatos do Partido Republicano à presidência dos EUA. Depois de
ter sido relegada para o debate menos importante em Agosto, a antiga
presidente executiva da Hewlett-Packard conseguiu um lugar entre os
mais fortes e não deixou escapar a oportunidade.
Além de Marco
Rubio, senador da Florida, Carly Fiorina foi das poucas vozes com
propostas concretas e pormenores na ponta da língua – avançou
números detalhados para o reforço da máquina militar dos EUA, por
exemplo, mas foi a sua postura dura e fria em relação a Donald Trup
que arrancou mais palmas e menções nas redes sociais.
Trump foi
confrontado pelo moderador do debate com uma declaração citada num
artigo publicado na semana passada na revista Rolling Stone, sobre
Carly Fiorina: "Olhem bem para aquela cara! Acham que alguém
votaria naquilo? Conseguem imaginar que aquela é a cara do nosso
próximo Presidente? Quer dizer, ela é mulher, e não é suposto eu
falar mal, mas a sério, pessoal. Estão mesmo a falar a sério?”
O milionário não
conseguiu esconder o embaraço, e surgiu pela primeira vez
completamente desprotegido aos olhos de milhões de telespectadores.
“Acho que as mulheres de todo o país perceberam muito bem o que o
sr. Trump disse”, respondeu Fiorina, recebendo uma sonora salva de
palmas.
Sem encontrar as
palavras que queria, Trump fez um comentário que não foi bem
recebido pela audiência – por uma vez, Trump não conseguiu
improvisar uma saída à Trump, e ficou-se por uma frase que parecia
sincera na forma, mas em que poucos acreditaram: “Acho que ela é
linda, é uma mulher linda.”
Durante uma troca de
acusações entre Donald Trump e Carly Fiorina sobre as competências
profissionais de cada um, foi o governador de Nova Jérsia, Chris
Christie, quem aproveitou para brilhar: “Os eleitores querem lá
saber das vossas carreiras. Eles estão interessados é nas carreiras
deles. Vamos começar a falar sobre os assuntos e deixemo-nos deste
vaivém infantil entre vocês os dois.”
Mais do que
acrescentarem ideias às posições que já são conhecidas, muitos
candidatos aproveitaram para testar as águas em que Donald Trump tem
navegado com sucesso – se evitar a confrontação não resultou no
primeiro debate, então só restava mudar de táctica.
O governador do
Wisconsin, Scott Walker, também entrou na carruagem de Carly
Fiorina, Jeb Bush e Rand Paul, quando disse que a Casa Branca não
precisava de um “aprendiz”, numa referência ao programa
televisivo que Donald Trump apresentou durante anos, “The
Apprendice”.
Mais apagado esteve
Ben Carson, o neurocirurgião reformado que tem vindo a aproximar-se
de Trump nas sondagens. Sempre calmo, explicou a Donald Trump que não
há estudos que provem uma ligação entre as vacinas e o autismo, e
tentou explanar as suas ideias de forma ponderada, mas sem a energia
típica do magnata que lidera as sondagens – aquela que alimenta as
sondagens.
Ao todo, nos dois
debates, os telespectadores passaram mais de quatro horas a ver
muitos dos gestos e todas as ideias que já conheciam. A não ser que
as sondagens dos próximos dias venham a surpreender até quem já
não sabe o que pensar das sondagens, Donald Trump deverá manter a
liderança – sem ter sido sequer igual a ele próprio, pode
reclamar uma certa vitória apenas por não ter perdido de forma
evidente. Resta saber que peso terá a sua maior derrapagem, que
surgiu já perto do final do debate, quando criticou a fase final do
segundo mandato de George W. Bush, acusando-o de ter entregue a Casa
Branca a Barack Obama – Jeb Bush saltou em defesa do irmão,
dizendo que o país ficou seguro após os atentados de 11 de Setembro
de 2001, e a maioria dos restantes candidatos também saiu em defesa
de George W. Bush. Afinal, Donald Trump tinha acabado de violar o
11.º Mandamento de Ronald Reagan, uma frase usada em 1966 durante a
campanha para governador da Califórnia: “Nunca dirás mal de outro
Republicano.”
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