Linha
do Oeste esteve para fechar, mas hoje é um caso de sucesso
Bastou
a alteração nos horários para que a linha que o Governo quis
fechar aumentasse o número de passageiros. Modernização deste
corredor é promessa antiga entre os partidos. Nesta campanha também
Carlos Cipriano /
29-9-2015 / .PÚBLICO
Desde que em
Setembro de 2013 a CP alterou a sua oferta na Linha do Oeste,
reforçando o eixo Caldas da Rainha-Coimbra, a procura aumentou 12%
no espaço de um ano e deverá chegar ao fim de 2015 com um acréscimo
de 158% face a 2011, ano em que o governo decidiu fechar aquele
troço.
A medida constava do
PET (Plano Estratégico de Transportes) em 2011. Até ao fim desse
ano deveria ser suprimido o serviço de passageiros entre Caldas da
Rainha e Figueira da Foz, substituído por um serviço de autocarros
a concessionar a uma empresa rodoviária.
Os protestos da
população e de autarcas, em que se distinguiram conhecidos
presidentes de câmara do próprio PSD, levaram o Governo a recuar.
Uma então criada Plataforma de Defesa da Linha do Oeste apresentou
um estudo, da autoria do especialista Nélson Oliveira, que propunha
uma alteração nos horários por forma a ligar este corredor
ferroviário à Linha do Norte em Coimbra.
Quatro anos depois é
o próprio presidente da CP, Manuel Queiró, que não se cansa de
dizer que a Linha do Oeste foi das que tiveram mais procura nos
últimos anos.
Globalmente, de 2012
para 2015 a procura nesta linha aumentou 122% (considerando que só
há dados disponíveis até Agosto deste ano, o PÚBLICO estimou um
valor total para 2015 acrescentando mais quatro meses com a média
dos anteriores). Mas no troço que esteve para encerrar esse aumento
foi de 158%.
Em termos de receita
para a CP, este aumento foi mais do que proporcional porque antes os
comboios iam para Figueira da Foz e agora vão para Coimbra, o que
representa mais PK (passageiros x quilómetros) percorridos. E há
ainda o efeito induzido pela maior procura na Linha do Norte, nas
ligações a Aveiro e Porto, pelos passageiros vindos do Oeste.
Tudo isto com menos
gastos porque o estudo então apresentado propunha também uma nova
gestão da rotação do material circulante. Entre 2011 e 2014 os
custos da CP nesta linha reduziram-se de 7,3 para 5,7 milhões de
euros.
Ainda assim, o
sucesso na linha que o que governo queria fechar foi conseguido com a
aplicação de apenas uma das quatro medidas sugeridas no referido
estudo — comboios directos para Coimbra. O documento previa ainda
uma campanha publicitária que nunca foi realizada e ligações
rodoviárias (na altura prometidas por alguns autarcas) entre as
estações e o centro das localidades.
Por exemplo, em
Leiria não há ligações coordenadas entre os horários dos
comboios e o centro da cidade e em Valado dos Frades nunca se cumpriu
a promessa dos presidentes de câmara em colocar autocarros de
ligação a Nazaré e Alcobaça.
Outra medida
pretendia assegurar a continuidade do serviço nas Caldas da Rainha,
acabando com os transbordos. No entanto, a CP continua a obrigar os
passageiros a mudar de comboio naquela estação por razões
meramente operacionais, desligadas da óptica comercial e do conforto
dos clientes.
Segundo a CP, “a
Linha do Oeste está condicionada pelas condições estruturais
disponíveis e a falta de investimento na infra-estrutura”. Isto é:
falta a electrificação e instalação de modernos sistemas de
telecomunicações e sinalização num corredor ferroviário que
ainda funciona como nos fins do século XIX, totalmente dependente de
meios humanos.
Não surpreende,
assim, que a Linha do Oeste seja uma bandeira na campanha eleitoral
de todos os partidos.
Maio de 2011. A
então deputada do CDS/PP, Assunção Cristas, viaja de comboio com
uma comitiva do seu partido entre Leiria e Caldas da Rainha numa
acção de campanha eleitoral. Reivindicava a modernização da linha
do Oeste e protestava porque o então governo PS nada ter feito por
este corredor ferroviário. Em Junho há eleições, a deputada passa
a ministra e será um secretário de Estado do mesmo governo, Sérgio
Monteiro, a decidir, em Outubro, fechar a linha a norte das Caldas da
Rainha.
Quatro anos depois,
a coligação ainda não fez campanha eleitoral em comboio, mas a
modernização da Linha do Oeste continua (como desde há 30 anos)
como uma promessa reiterada de todos os partidos. Nos últimos dez
dias, PDR, BE, Livre/Tempo de Avançar e CDU fizeram acções de
campanha em que os candidatos viajaram de comboio nesta linha.
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