Entre as centenas de milhares de
pessoas que chegaram à Europa este ano estão alguns homens que desertaram do
Exército iraquiano e das fileiras dos combatentes curdos, em fuga do
autoproclamado Estado Islâmico, segundo a agência Reuters.
Estes combatentes estão entre os
cerca de 50.000 iraquianos que fugiram do país nos últimos três meses, em
direcção à Europa, mas ninguém sabe ao certo quantos são, e se isso estará a
afectar ainda mais a estratégia internacional que tem como objectivo declarado
o reforço do novo governo iraquiano e do seu exército.
"As forças armadas estão a
cumprir o seu dever. Não há motivos para preocupações", disse o general
iraquiano Tashin Ibrahim Sadiq. Em sentido oposto vão as declarações de Saed
Kakaei, conselheiro do responsável pelos combatentes no Curdistão iraquiano,
que descreve o número de deserções como "preocupante".
Croácia e Hungria empurram milhares
de refugiados para a Áustria
ALEXANDRE MARTINS 20/09/2015 - 16:59 / PÚBLICO
Viena acusa os seus países vizinhos
de estarem a violar as regras da União Europeia ao enviarem milhares de pessoas
não registadas e sem avisarem com antecedência suficiente.
A Croácia, a Hungria e a Eslovénia continuam o seu jogo do
empurra de milhares de refugiados e migrantes, a maioria em fuga de guerras e
perseguições em países como a Síria, o Iraque ou o Afeganistão. À falta de uma
política comum para lidar com esta crise, os governos dos três países europeus
fizeram chegar pelo menos 12.000 pessoas à Áustria nas últimas horas, agravando
uma troca de acusações que pode fragilizar ainda mais as reuniões marcadas para
esta semana, em Bruxelas.
O director da Cruz Vermelha austríaca, Gerry Foitik, disse à
agência de notícias APA que entraram no país entre 12.000 e 13.000 pessoas
entre sábado e domingo, depois de a polícia ter dito que estava preparada para
receber 10.000.
De acordo com Christian Stella, um dos responsáveis da
polícia do estado de Burgenland, localizado na fronteira com a Hungria, as
autoridades de Budapeste não avisaram a Áustria com suficiente antecedência, e
a ministra do Interior austríaca, Johanna Mikl-Leitner, acusou os seus vizinhos
de violarem as regras da União Europeia.
Pelo menos 6700 dos refugiados que chegaram à Áustria foram
enviados pela Hungria, que tem acusado a Croácia de lhe fazer o mesmo – no
sábado, o primeiro-ministro croata, Zoran Milanovic, disse que iria continuar a
"forçar" a Hungria a receber refugiados, acusando o governo de Viktor
Orbán de ser o principal responsável pela situação, devido às vedações que
ergueu ao longo da sua fronteira com a Sérvia e ao endurecimento das leis anti-imigração.
A confusão é cada vez maior nas fronteiras entre a Croácia,
a Hungria e a Eslovénia. Há cinco dias, o governo croata disse que iria receber
os refugiados "independentemente da sua religião e cor da pele",
depois de a Hungria lhes ter fechado as portas; nos dias seguintes, mais de
20.000 pessoas entraram na Croácia e o discurso do primeiro-ministro, Zoran
Milanovic, mudou – agora, diz que o país já esgotou a sua capacidade para
receber refugiados, apesar de afastar a ideia de erguer vedações.
Foi neste contexto, e devido à falta de uma política
europeia comum, que começou o jogo do empurra – a Hungria não está disposta a
receber mais refugiados e constrói barreiras físicas, o que leva milhares de
pessoas a procurarem uma saída pela Croácia; a Eslovénia estará a enviar para a
Hungria refugiados que chegam da Croácia, segundo a ministra do Interior
austríaca; e a Croácia também não está disposta a receber mais refugiados e
reage de duas formas: deixa passar alguns para a Eslovénia e envia outros para
a Hungria, que depois as envia em autocarros para a fronteira com a Áustria.
No meio de toda esta confusão, uma das pessoas que foi
deixada pelas autoridades húngaras na fronteira com a Áustria, e que depois
conseguiu chegar à cidade de Heiligenkreuz, a cerca de 35 quilómetros de Viena,
disse à agência Associated Press que valeu a pena: "Sinto-me como se
tivesse renascido. Não me interessa se vou ficar retido aqui durante dois dias.
O mais importante é que cheguei finalmente, e que finalmente estou salvo."
A Hungria acusa a Croácia de estar a violar as leis
internacionais, ao não registar as pessoas que chegam ao seu território antes
de as enviar para a fronteira húngara, mas a BBC avança que alguns dos
refugiados disseram que também não foram registados na Hungria – alguns terão
sido simplesmente deixados perto da fronteira com a Áustria, e outros receberam
a indicação para seguirem em frente ao longo da linha de comboio que liga os
dois países.
O governo húngaro está a concluir a construção de uma nova
cerca de arame farpado, desta vez na fronteira com a Croácia, ao longo de 41
quilómetros – nos restantes 330 quilómetros a travessia é praticamente
impossível devido à separação natural do rio Drava. Quando a vedação estiver
concluída, as autoridades húngaras dizem que vão agir da mesma forma que têm
agido na fronteira com a Sérvia, e vão deter quem tentar entrar no território
sem documentos.
Deserções no Iraque
Entre as centenas de milhares de pessoas que chegaram à
Europa este ano estão alguns homens que desertaram do Exército iraquiano e das
fileiras dos combatentes curdos, em fuga do autoproclamado Estado Islâmico,
segundo a agência Reuters.
Estes combatentes estão entre os cerca de 50.000 iraquianos
que fugiram do país nos últimos três meses, em direcção à Europa, mas ninguém
sabe ao certo quantos são, e se isso estará a afectar ainda mais a estratégia
internacional que tem como objectivo declarado o reforço do novo governo
iraquiano e do seu exército.
"As forças armadas estão a cumprir o seu dever. Não há
motivos para preocupações", disse o general iraquiano Tashin Ibrahim
Sadiq. Em sentido oposto vão as declarações de Saed Kakaei, conselheiro do
responsável pelos combatentes no Curdistão iraquiano, que descreve o número de
deserções como "preocupante".
Alguns dos iraquianos que combatiam o Estado Islâmico acusam
o governo de Haider al-Abadi de nada estar a fazer para travar a corrupção no
país e organizar uma verdadeira oposição militar aos extremistas islâmicos, e
por isso largam as armas e partem em direcção à Europa.
"Vale a pena lutar pelo Iraque, mas não vale a pena
lutar pelo governo. Ninguém se preocupa connosco, o governo destruiu-nos",
disse à Reuters um elemento da unidade de intervenção rápida da polícia
iraquiana, que decidiu sair do país depois de o seu irmão ter sido morto num
dos combates pelo controlo da estratégica refinaria de Baiji, no Norte do
Iraque.
Um outro membro das forças especiais iraquianas, que estava
na província de Anbar, controlada pelo Estado Islâmico, disse à Reuters que se
juntou a outros 16 companheiros e fugiu para o Norte da Europa em Agosto:
"Nós combatíamos e o governo e os partidos políticos só metiam dinheiro ao
bolso, e os responsáveis enviavam os seus filhos para o estrangeiro. O que nos
levou a ir embora foi ver os nossos companheiros a ficarem feridos e mutilados,
e a serem mortos, sem que ninguém queira saber."
Um membro de uma milícia xiita da província de Diyala disse
que fugiu do Iraque para a Suécia porque não tinha meios para combater.
"Não é possível lutar ou viver num país nestas circunstâncias. Os
políticos saquearam o país em nome da religião. O Iraque já não é nosso, nós
somos apenas inquilinos", cita a Reuters.
Ainda assim, os combatentes das forças iraquianas e das
milícias xiitas que lutam contra o Estado Islâmico vão encontrar muitas
dificuldades para ficar na Europa com o estatuto de refugiados – de acordo com
as leis internacionais, todas as pessoas que forem identificadas como
combatentes serão excluídas do acesso ao pedido de asilo.
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