Opinião
Esta
não é a solução
José António
Saraiva | 22/09/2015 / SOL online
A imagem de um
menino morto, caído de bruços sobre a areia numa praia de Bodrum,
na Turquia, fez mais pela causa dos refugiados do que centenas de
corpos de homens e mulheres sem vida a boiar nas águas do
Mediterrâneo. Escreveram-se em todo o mundo textos emocionados. A
Europa foi encostada à parede, exigindo-se-lhe a imediata solução
do problema.
Chegará um momento
em que a Europa não poderá receber mais refugiados. E então o que
se fará? Voltaremos ao princípio: todos os problemas que se colocam
agora voltarão a colocar-se...
Angela Merkel - a
odiada senhora Merkel, que até há umas semanas era, para toda a
esquerda, a própria representação do Diabo, e que hoje é quase
uma santa para as mesmas pessoas - reafirmou a disponibilidade da
Alemanha para acolher 300 mil refugiados e renovou os apelos à
comunidade internacional e aos outros Estados europeus para aceitarem
imigrantes vindos da Líbia, da Síria, do Iraque e doutras partes do
mundo.
Vários países
reagiram positivamente ao apelo - e o Governo português disse
‘presente’.
O tempo é de emoção
e os políticos não podem fugir a isso. Só que os problemas não se
resolvem com o coração mas com a razão. É muito bonito fazer
declarações a dizer que a Europa vai acolher um milhão de
refugiados, que Portugal vai receber cinco mil, que o Marítimo está
aberto a aceitar mais uns quantos, que as famílias tais e tais vão
dar abrigo a meia dúzia…
Acontece que, por
cada refugiado que a Europa abrigue (não falo dos EUA, que aceitaram
a muito custo admitir uns ‘ridículos’ 10 mil sírios),
aparecerão mais dez refugiados a querer ser adotados. “Se os
outros foram, por que não podemos ser nós?”. E a seguir a esses
dez aparecerão mais cem. E assim por diante, numa corrente
ininterrupta de gente vinda do Sul e do Oriente em busca do eldorado
europeu.
E chegará um
momento em que a Europa não poderá acolher mais gente, pelo simples
facto de que a sua capacidade de acolhimento não é ilimitada. E
depois o que se fará? Voltamos ao princípio...
Se tivesse havido
uma catástrofe, uma tragédia pontual, com gente a ficar sem casa e
sem emprego, as coisas talvez pudessem solucionar-se assim. Mas não
se trata disso. Trata-se de populações fugindo à guerra, à fome e
às perseguições políticas ou religiosas. E estas questões vão
demorar muito tempo a resolver. Muitas décadas. Ou mais.
Em defesa da tese do
acolhimento refere-se o exemplo dos Estados Unidos, para onde
emigraram no século XIX muitos milhões de europeus - desde ingleses
a italianos e judeus russos. Se a Europa beneficiou da emigração,
como pode recusar agora acolher imigrantes? - argumenta-se.
Acontece que o mundo
está muito diferente. Além disso, não nos esqueçamos de que a
América era um território quase desabitado - e, mesmo assim, a
chegada dos europeus traduziu-se numa carnificina das populações
autóctones, com os índios a serem chacinados como cães. Será esse
o exemplo que serve à Europa?
A integração nos
países europeus de centenas e centenas de milhares de imigrantes,
além de não resolver nada, vai agravar os problemas que já cá
existem com algumas comunidades, sobretudo de muçulmanos.
A chegada maciça à
Europa de pessoas com outra cultura, outros hábitos, outra religião,
que não falam a língua dos respetivos países, vai provocar choques
culturais enormes e estimular reações racistas. Os partidos
fascistas e neonazis vão crescer. Até porque entre esses imigrantes
virão necessariamente extremistas e haverá terroristas infiltrados.
Os movimentos muçulmanos radicais não perderão esta oportunidade
para infiltrar operacionais no continente europeu. A Europa tenderá
a tornar-se um barril de pólvora.
Ao vermos uma
criança morta na praia comovemo-nos. Mas ao assistirmos, no dia
seguinte, a imagens de migrantes deitando fora pacotes de comida da
Cruz Vermelha por terem uma cruz na embalagem, inquietamo-nos.
Percebemos que dificilmente estas pessoas se vão integrar na
realidade europeia. Hoje clamam por piedade, mas amanhã reclamarão
os seus direitos e tentarão impor os seus usos e costumes no que
respeita à religião, ao tratamento das mulheres, à aplicação da
lei, etc.
A solução para o
problema dos refugiados não pode estar na Europa mas sim nas regiões
donde eles provêm. A partir do momento em que as populações
iniciam o êxodo para o continente europeu, a situação fica
incontrolável.
Escrevi há duas
semanas um artigo em que propus uma solução para o problema: a
criação, no Médio Oriente e em África, de ‘países de
acolhimento’ governados pela ONU.
Uns Estados geridos
por funcionários das Nações Unidas, com as suas estruturas, onde
as populações em fuga possam encontrar a paz e condições mínimas
de vida, tendo hipóteses de ter um emprego e trabalhar, é a única
solução que vejo para o problema. Ao contrário dos campos de
refugiados existentes pelo mundo fora - que são verdadeiros
depósitos de seres humanos, onde as pessoas não fazem nada e
vegetam à espera de não se sabe o quê - estes novos países
poderiam dar um futuro aos migrantes, proporcionando-lhes o início
de uma nova vida.
Depois da publicação
desta proposta, recebi muitos emails de apoio. Curiosamente, no mesmo
dia, um porta-voz dos EUA avançava uma solução parecida, propondo
a criação de zonas demarcadas na região dos países em conflito
para acolher esses migrantes e evitar a sua fuga desordenada.
Também Cavaco
Silva, na receção ao Presidente do Senegal, adiantava com lucidez
que não se deve apenas pensar “na solidariedade que é fundamental
os europeus demonstrarem em relação a estes refugiados”, sendo
preciso trabalhar na criação de condições para que essas pessoas
fiquem nas suas casas. “É fundamental um trabalho conjunto com
países de trânsito e de origem destes movimentos migratórios”,
sustentou o chefe do Estado português.
E o Presidente
senegalês, Macky Sall, foi ainda mais longe, dizendo ser necessário
“trabalhar com as populações nos seus territórios”, dar-lhes
condições para ficarem nos seus países de origem. “É preciso
agir a montante para fixar as populações, para evitar que saiam dos
seus países”, afirmou.
Mas enquanto não
for possível evitar ‘que saiam dos seus países’, ao menos que
fiquem na zona, que não partam rumo à Europa em aventuras que
acabam muitas vezes de forma trágica. E, mesmo quando as coisas
correm bem, a Europa não tem condições para integrar os milhões
de migrantes que a procurarão em ritmo sempre crescente.
jas@sol.pt
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