Moradores das zonas noturnas de
Lisboa convidam Medina a dormir com eles
21/9/2015,
OBSERVADOR
Moradores do Cais
do Sodré, Bairro Alto, Bica, Santos e Príncipe Real dizem que a atual situação
é "insustentável". Leia aqui a carta aberta que enviaram ao
presidente da câmara
Os moradores das
zonas de diversão noturna de Lisboa (Bairro Alto, Santos, Cais do Sodré, Bica e
Príncipe Real) estão cansados de ter à porta de casa um festival que dura “52
semanas por ano” e que, afirmam, é um “pesadelo”. Por esse motivo, escreveram uma
carta aberta ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa, a quem pedem ações
que limitem o ruído, a criminalidade e o consumo de álcool em excesso nas ruas
do centro da cidade. Mais, convidam Fernando Medina a passar uma noite com
eles, “de forma a viver a ‘experiência’ completa”.
Desde janeiro que
está em vigor um despacho camarário que limita a venda de álcool para a rua a
partir da 1h e estabelece horários mais rígidos para os estabelecimentos de
diversão noturna e lojas de conveniência do Cais do Sodré, Santos e Bica. Tais
limitações não se aplicam ao Bairro Alto. Como o Observador explicou na altura,
na famosa “rua cor-de-rosa” pouca coisa mudou. E, passados alguns meses dessas
novas regras, ninguém parecia contente. Agora, os moradores reforçam o desagrado
perante a situação.
Leia a carta
aberta na íntegra:
Sr. Presidente da
Câmara Municipal de Lisboa,
Sabe qual é a
diferença entre um festival de música e a “noite” lisboeta?
Quem não vive no
Bairro Alto, Bica, Cais do Sodré, Príncipe Real ou Santos poderá
estranhar a
pergunta. Quem lá vive sabe que ambos são fenómenos de massas, que
juntam dezenas de
milhares de pessoas por noite. E que em ambos se ouve música, se
canta e se grita
ao ar livre até de madrugada. A diferença é esta: o primeiro decorre
durante 3 dias
por ano num descampado; o segundo durante pelo menos 3 dias por
semana, 52
semanas por ano, em zonas residenciais.
Qualquer pessoa
consegue imaginar o pesadelo que seria dormir junto ao recinto de
um festival de
música. Pois é esse mesmo pesadelo que vivem os moradores do centro
histórico todos
os fins de semana: multidões concentradas na via pública; bares que
passam música sem
cumprirem com os requisitos de insonorização legais;
“concertos”
improvisados de madrugada no meio da rua; praxes académicas ruidosas;
condutores que
buzinam seja a que hora for.
São noites a fio
sem conseguir dormir; a tentar adormecer crianças que acordam
assustadas com a
gritaria na rua; a ligar para a polícia que não atende ou invoca a
ausência de meios
para intervir. Mais a criminalidade, os desacatos permanentes, os
assaltos e o
tráfico de droga; e o dia seguinte, que é de calamidade pública.
A lei do ruído é
claríssima: o descanso noturno começa a partir das 20h com ruído
moderado até às
23h. A partir das 23h a regra é o silêncio. A exceção ocorre apenas
para atividades
temporárias, desde que munidas de licença especial de ruído, que deve
ser concedida com
carácter excecional.
A CML dispõe de
suficientes articulados legais para resolver a questão de forma
simples e célere,
em parceria com as demais entidades com responsabilidades nesta
matéria.
Infelizmente, opta há já vários anos pela inércia, permitindo que seja
esmagado o nosso
direito constitucionalmente protegido ao sossego, e isto apesar das
queixas
apresentadas, dos testemunhos divulgados, das reportagens realizadas.
Não nos opomos ao
divertimento nem à exploração lucrativa do comércio
noturno;
opomo-nos sim a que o preço seja a nossa saúde. São inúmeras as famílias
que já abandonaram
os nossos bairros, desesperadas com o barulho. É essencial
estancar a
hemorragia, sob pena de vermos o centro histórico desertificado.
O despacho
140/2015 que reduz o horário de abertura de bares foi um primeiro
passo, ainda que
tímido, no reconhecimento de que a situação atual é insustentável. É
urgente ir muito
além.
É por isso, Sr.
Presidente da CML, que vimos formalmente convida-lo a fazer
connosco uma
visita guiada à publicitada e aplaudida noite de Lisboa. Muito nos
honraria ainda se
aceitasse dormir numa das nossas casas, de forma a viver a
“experiência”
completa. Compreenderia então a urgência de tomar medidas muito
mais ambiciosas
para repor o equilíbrio entre os direitos dos moradores, o
comportamento dos
utentes da noite, e a atividade lúdica e económica noturna. A
começar por:
– A adoção
urgente de regras e procedimentos com vista ao cumprimento da lei do
ruído e respetiva
fiscalização;
– A restrição e
uniformização dos horários dos estabelecimentos de venda de bebidas
alcoólicas para
horários compatíveis com o direito dos moradores ao descanso;
– O fim do
licenciamento zero nos bairros históricos;
– A realização de
uma campanha de civismo, que recorde regras básicas de vivência
em sociedade,
como não gritar nem urinar na via pública.
Sr. Presidente:
estamos, como sempre, disponíveis e empenhados em colaborar
consigo para
melhorar a qualidade de vida na fantástica cidade que é Lisboa. Nós
cumprimos com o
nosso dever de cidadania ativa; cabe-lhe agora a si cumprir com o
seu: defender os
direitos básicos de todos os seus munícipes.
Isabel Sá da
Bandeira, Mª João Podgorny, Miguel Sepúlveda, A.M Aqui Mora Gente
Facebook:
AquiMoraGente”
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