Fraude da Volkswagen alastra-se e
Bruxelas pede investigações nacionais
Grupo alemão vai nomear amanhã
novo presidente executivo. CEO da Porsche é dado como o nome mais provável
João Pedro
Pereira / 25-9-2015 / PÚBLICO
A fraude
detectada nos EUA foi apenas o começo. Já surgiram sinais de que o problema se
estende também à Europa e a outras marcas para além da Volkswagen, num caso que
está a lançar desconfiança tanto sobre os fabricantes europeus, como sobre as
práticas de regulação.
Ontem, a Comissão
Europeia apelou a que todos os Estados-membros levem a cabo investigações
nacionais e comuniquem os resultados a Bruxelas. “A nossa mensagem é clara:
tolerância zero com a fraude e cumprimento rigoroso das regras europeias”,
afirmou, em comunicado, a comissária Elzbieta Bienkowska, que tem a pasta do
Mercado Interno e Indústria. “Precisamos de toda a informação e de testes
robustos de emissão de poluentes”.
Contrariamente ao
que acontece nos EUA, que são mais exigentes a este respeito, a União Europeia
ainda não faz testes em estrada. Estes vão começar a ser introduzidos no início
do próximo ano, mas ainda não se sabe o que acontecerá se os resultados forem
muito diferentes dos obtidos em laboratório. “Ainda temos de chegar a um acordo
no tratamento a dar à certificação em caso de grande divergência entre os
resultados dos testes de emissão de poluentes em laboratório e em condução
real”, referiu a Comissão.
Ainda antes do
apelo, alguns países já tinham decidido avançar. O Governo francês vai analisar
carros de todas as marcas. No Reino Unido, o regulador está em conversações com
os fabricantes e poderá vir a fazer novos testes de laboratório.
Em Portugal, o
ministro da Economia, António Pires de Lima, adiantou que o Governo está
trabalhar com o Instituto de Mobilidade e Transportes “para perceber se há
alguma implicação para Portugal”. Pires de Lima disse ainda ter falado com
responsáveis da Autoeuropa, a fábrica da Volkswagen em Palmela, que asseguraram
que os automóveis feitos em Portugal não incluem o sistema fraudulento.
O Governo alemão,
entretanto, afirmou ter descoberto que a Volkswagen também manipulou os testes
dos motores a diesel comercializados no mercado europeu. O ministro dos
Transportes, Alexander Dobrindt, disse que uma comissão especial formada para
investigar o assunto foi informada por executivos da própria Volkswagen de que
alguns modelos na Europa também estavam equipados com software para emitir
menos gases poluentes quando estavam a ser testados. Segundo o ministro, a
empresa referiu-se aos veículos com motores a diesel de cilindradas 1.6 e 2.0.
A revelação
aconteceu no mesmo dia em que a revista alemã Auto Bild divulgou resultados de
testes que indicam que um modelo Volkswagen e um outro da BMW ultrapassam os
limites legais na União Europeia para a emissão de óxido de azoto — um poluente
associado a asma e outras doenças pulmonares e que motivou o processo nos EUA. Os
testes foram feitos pelo Conselho Internacional para a Transportação Limpa, o
mesmo grupo ambientalista que alertou as autoridades americanas para as
irregularidades. Àquela revista, a BMW negou ter nos seus carros qualquer
sistema que manipule as emissões quando estes estão a ser testados.
Por outro lado, o
jornal El País noticiou que os motores da Volkswagen com o sistema de fraude
foram também usados, desde 2009, em mais de meio milhão de veículos da Seat, a
marca espanhola que é subsidiária do grupo alemão. A Seat confirmou ter usado
aqueles motores, mas não revelou em quantos carros.
A Volkswagen está
a esforçarse por conter a maior crise da sua história. A empresa deverá hoje
anunciar um novo presidente executivo. O actual CEO da Porsche, Matthias
Müller, tem sido o nome mais apontado. O grupo também já indicou que afastará
mais executivos de topo.
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