“Migrants think our streets
are paved with gold”
Theresa May - Minister
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O Sul da Europa não entra nos
sonhos de Mahmud e Omar
Fizeram-se à
estrada pela Europa adentro em fuga da guerra e sonham com a Suécia, Noruega,
Finlândia ou Alemanha: os migrantes que a AFP encontrou no caminho querem
prioritariamente chegar aos países do Norte, reputados como calmos e prósperos.
Os países escandinavos estão aprovados, excepção feita à Dinamarca, cujas
posições fechadas chegaram aos caminhos e estradas da Europa. “Ouvi dizer que
na Suécia a vida é verdadeiramente agradável, que os salários são bons e que há
trabalho. Lá vamos ficar em segurança”, resume Hassan Torkmani, um perfumista
sírio de 29 anos, com quem o repórter da AFP se cruzou em em Nickelsdorf, na
Áustria.
“A Suécia é boa
para os sírios mas não para os iraquianos. Li isso no Facebook”, diz um
requerente de asilo iraquiano em Helsínquia, na Finlândia.
Em vez da Suécia,
os iraquianos preferem os países vizinhos, como a Finlândia que, no primeiro
semestre de 2015, aceitou 54% dos pedidos de asilo de iraquianos (a Suécia só
aceitou 33%). Em Bergana, na fronteira entre a Croácia e a Eslovénia, Omar
Khaldi, recém-diplomado em Arquitectura, originário de Bassorá (Iraque), tem
como objectivo chegar à Noruega. “Estive a ver antes de partir e li que os
prazos para conseguir os papéis são muito curtos. Poucas pessoas querem ir para
lá, e isso pode ajudar.”
O sistema
educativo escandinavo alimenta também as esperanças do estudante Mahmud Haji,
23 anos, que gostava de terminar na Noruega o seu curso de Psicologia, deixado
a meio na Síria.
Mas o afluxo de
refugiados suscita crispações. A Finlândia reforçou os controlos da sua fronteira
com a Suécia para travar as entradas e no passado fim-de-semana realizaramse
manifestações anti-imigração em várias cidades. “Quando tu perguntas aos sírios
e aos afegãos para onde é que eles vão, eles dizem ‘Alemanha, Alemanha,
Alemanha’. Está gravado nas suas cabeças que é preciso ir para a Alemanha”,
explica Yasin Hatami, um afegão de 29 anos, na gare de Viena. O seu objectivo é
juntar-se muito em breve à mulher e aos filhos, que já estão em Munique.
Muitos têm
família ou amigos na Alemanha. “Espero chegar rapidamente porque já gastei todo
o meu dinheiro”, ou seja, 2000 euros, diz Mohamed, estudante de Ciências
Políticas em Damasco. As imagens do acolhimento caloroso nas estações de
comboio da Áustria seduziram. Em Bergana, Ahmad hesita entre a Holanda e a
Áustria, mas o seu coração balança para os Alpes. “Vi na televisão que são um
povo generoso. Eles dizem ‘em cada casa há um lugar para um sírio’”, conta este
barbeiro de 22 anos.
A França, “pátria
dos direitos humanos”, paradoxalmente não goza dessa fama. Se François Hollande
anunciou estar disponível para receber 24 mil pessoas em dois anos, raros são
os migrantes que querem chegar a terras gaulesas. “A França não nos vai
aceitar”, afirmam categóricos. Todos têm familiares ou conhecidos que viram os
seus pedidos de asilo rejeitados.
Aqueles que
querem ir para França têm uma relação particular com o país, como o antigo
funcionário dos supermercados Carrefour em Damasco que a AFP encontrou em
Gevgelija (fronteira entre a Macedónia e a Grécia) ou o músico sírio que está
em trânsito em Bergana e que diz que “é um belo sítio para os artistas”. Mas,
acrescenta, “também dizem que há zonas perigosas e sujas em Paris. Isso é
verdade?” O Reino Unido é conhecido pelas suas atractivas oportunidades
económicas. “Lá há trabalho, pode-se facilmente montar um negócio”, resume um
afegão, apesar de reconhecer as dificuldades de acesso à ilha, da longa espera
nem sempre recompensada em Calais e das prioridades dadas a certas
nacionalidades.
David Cameron
anunciou finalmente que está disposto a receber ao longo dos próximos cinco
anos 20 mil refugiados sírios. Hassan, o perfumista sírio, e a sua família
gostariam muito de ir para lá, mas “é demasiado complicado, demasiado longe”. Nenhum
dos migrantes e refugiados com quem os jornalistas da AFP falaram disse querer
ir para um país do Sul da Europa. A Espanha declarou-se disposta a acolher
12.931 refugiados, o terceiro maior contingente depois da Alemanha e da França.
“As pessoas são
pobres em Espanha, eles não podem acolher-nos como a Alemanha ou a Noruega”,
diz Mahmud Haji, o estudante sírio.
“A Itália é um
belo país mas eles não têm uma boa situação económica”, explica o iraquiano
Omar Khaldi. “Talvez eu vá lá, mas não já, talvez mais tarde.”
Coluna de
migrantes e refugiados ainda na Hungria a caminho da fronteira com a Áustria
AFP
In PÚBLICO / 24-9-2015
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