terça-feira, 29 de setembro de 2015

Corbyn afirma o seu patriotismo e anuncia luta cerrada à austeridade


Corbyn afirma o seu patriotismo e anuncia luta cerrada à austeridade

Novo líder trabalhista promete liderança inclusiva mas sublinha que a sua eleição foi um voto pela mudança

O Reino Unido, disse o líder trabalhista, “assenta no jogo limpo para todos e na solidariedade”

Ana Fonseca Pereira / PÚBLICO / 30-9-2015

Acusado pelos conservadores de ser “uma ameaça à segurança nacional” do Reino Unido, denunciado nos tablóides por não ter cantado o hino, criticado dentro e fora do partido pelo regresso ao discurso ideológico dos anos 1980, o novo líder trabalhista aproveitou a sua primeira grande intervenção política para garantir que os valores pelos quais se bate são os mesmos em que assenta a sociedade britânica.

Duas semanas depois do “terramoto político” que constitui a sua eleição, o Labour não está pacificado, mas o congresso anual do partido decorre num clima longe da guerra civil que os mais críticos da nova liderança anteciparam. Jeremy Corbyn não convenceu os congressistas a debater o futuro do arsenal nuclear do país (que ele quer abolir) e o seu governo-sombra está dividido sobre a participação britânica nos ataques aéreos contra o Estado Islâmico na Síria. Mas os herdeiros do New Labour têm sido moderados nos ataques, talvez seguindo as instruções de Peter Mandelson, ex-ministro e aliado de Tony Blair, que os aconselhou a esperarem pelos maus resultados do partido nas urnas.
Corbyn, à imagem do primeiro debate no Parlamento após a eleição, opta por ignorar as quezílias e o que diz ser a velha maneira de fazer política. “Não vou impor a minha visão. Não acredito que alguém tenha o monopólio da sabedoria”, disse no seu discurso aos congressistas, em que defendeu uma política “mais gentil e inclusiva”, com programas trabalhados a partir das bases.
Aos mais distraídos, porém, recordou que foi eleito com 59% dos votos frente a outros três candidatos. “Foi um voto pela mudança” e não apenas na forma de fazer política. “Deixem-me ser claro, sob a minha liderança o Labour vai desafiar a austeridade”, assegurou, criticando os cortes nos benefícios sociais às famílias e os planos do Governo para reduzir os impostos aos mais ricos. “Os conservadores dizem que a segurança da economia e das famílias está em risco connosco (...), mas onde está a segurança para as famílias que não conseguem pagar uma casa, para os que têm dificuldades em cuidar dos idosos ou para os jovens afastados do mercado de trabalho?”
A intervenção, perante uma sala a abarrotar mas sem os artifícios que se tornaram habituais nos congressos, foi parca em propostas concretas. Corbyn quis sobretudo mostrar que, ao contrário do que afirma o Governo e os seus opositores,” as pessoas não têm nada a temer com ele”, explicou à BBC Lucy Powell, porta-voz dos trabalhistas. O Reino Unido, disse o líder trabalhista, “assenta no jogo limpo para todos, na solidariedade, no [princípio] de que não se passa para o outro lado do passeio quando há alguém com problemas”. “Estes valores comuns britânicos são a razão fundamental pela qual amo este país e a sua gente. Foi com base nestes valores que fui eleito”, sublinhou.

Minutos antes do discurso, numa entrevista à televisão norte-americana CBS, o primeiro-ministro, David Cameron, disse que o principal partido da oposição “está a retirar-se para as montanhas” e, logo a seguir, os tories acusaram Corbyn de insistir em políticas despesistas que “iriam destruir a economia”. Alguns comentadores notaram que houve poucas referências a questões como a imigração, a Europa ou o serviço nacional de saúde, que estão entre as prioridades para os eleitores. Mas os seus apoiantes mostraram-se entusiasmados. “Ele mostrou-nos que a política pode ser diferente. A sua visão de uma sociedade mais gentil e humana vai apelar às muitas pessoas que se sentem ignoradas por Westminster”, disse à BBC o secretário- geral da Unison, a segunda maior central sindical britânica.

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