Corbyn
afirma o seu patriotismo e anuncia luta cerrada à austeridade
Novo
líder trabalhista promete liderança inclusiva mas sublinha que a
sua eleição foi um voto pela mudança
O
Reino Unido, disse o líder trabalhista, “assenta no jogo limpo
para todos e na solidariedade”
Ana Fonseca Pereira
/ PÚBLICO / 30-9-2015
Acusado pelos
conservadores de ser “uma ameaça à segurança nacional” do
Reino Unido, denunciado nos tablóides por não ter cantado o hino,
criticado dentro e fora do partido pelo regresso ao discurso
ideológico dos anos 1980, o novo líder trabalhista aproveitou a sua
primeira grande intervenção política para garantir que os valores
pelos quais se bate são os mesmos em que assenta a sociedade
britânica.
Duas semanas depois
do “terramoto político” que constitui a sua eleição, o Labour
não está pacificado, mas o congresso anual do partido decorre num
clima longe da guerra civil que os mais críticos da nova liderança
anteciparam. Jeremy Corbyn não convenceu os congressistas a debater
o futuro do arsenal nuclear do país (que ele quer abolir) e o seu
governo-sombra está dividido sobre a participação britânica nos
ataques aéreos contra o Estado Islâmico na Síria. Mas os herdeiros
do New Labour têm sido moderados nos ataques, talvez seguindo as
instruções de Peter Mandelson, ex-ministro e aliado de Tony Blair,
que os aconselhou a esperarem pelos maus resultados do partido nas
urnas.
Corbyn, à imagem do
primeiro debate no Parlamento após a eleição, opta por ignorar as
quezílias e o que diz ser a velha maneira de fazer política. “Não
vou impor a minha visão. Não acredito que alguém tenha o monopólio
da sabedoria”, disse no seu discurso aos congressistas, em que
defendeu uma política “mais gentil e inclusiva”, com programas
trabalhados a partir das bases.
Aos mais distraídos,
porém, recordou que foi eleito com 59% dos votos frente a outros
três candidatos. “Foi um voto pela mudança” e não apenas na
forma de fazer política. “Deixem-me ser claro, sob a minha
liderança o Labour vai desafiar a austeridade”, assegurou,
criticando os cortes nos benefícios sociais às famílias e os
planos do Governo para reduzir os impostos aos mais ricos. “Os
conservadores dizem que a segurança da economia e das famílias está
em risco connosco (...), mas onde está a segurança para as famílias
que não conseguem pagar uma casa, para os que têm dificuldades em
cuidar dos idosos ou para os jovens afastados do mercado de
trabalho?”
A intervenção,
perante uma sala a abarrotar mas sem os artifícios que se tornaram
habituais nos congressos, foi parca em propostas concretas. Corbyn
quis sobretudo mostrar que, ao contrário do que afirma o Governo e
os seus opositores,” as pessoas não têm nada a temer com ele”,
explicou à BBC Lucy Powell, porta-voz dos trabalhistas. O Reino
Unido, disse o líder trabalhista, “assenta no jogo limpo para
todos, na solidariedade, no [princípio] de que não se passa para o
outro lado do passeio quando há alguém com problemas”. “Estes
valores comuns britânicos são a razão fundamental pela qual amo
este país e a sua gente. Foi com base nestes valores que fui
eleito”, sublinhou.
Minutos antes do
discurso, numa entrevista à televisão norte-americana CBS, o
primeiro-ministro, David Cameron, disse que o principal partido da
oposição “está a retirar-se para as montanhas” e, logo a
seguir, os tories acusaram Corbyn de insistir em políticas
despesistas que “iriam destruir a economia”. Alguns comentadores
notaram que houve poucas referências a questões como a imigração,
a Europa ou o serviço nacional de saúde, que estão entre as
prioridades para os eleitores. Mas os seus apoiantes mostraram-se
entusiasmados. “Ele mostrou-nos que a política pode ser diferente.
A sua visão de uma sociedade mais gentil e humana vai apelar às
muitas pessoas que se sentem ignoradas por Westminster”, disse à
BBC o secretário- geral da Unison, a segunda maior central sindical
britânica.
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