Maioria
dos emigrantes qualificados não pensa voltar a Portugal
11:20 Madalena
Queirós / Económico
Estes jovens identificam-se com o conceito de "emigração para toda vida", ou seja, esta vaga deve ser classificada como um "êxodo".
Os 146 mil
emigrantes qualificados portugueses, que partiram para estrangeiro à
procura de perspectivas de progressão na carreira, em 2010/11,
representaram uma perda de 8,8 mil milhões de euros para o Estado
português. As contas são apresentadas no estudo "Exportar
mão-de-obra qualificada a custo zero: quanto perde Portugal com a
fuga de cérebros", que será debatido esta sexta-feira numa
conferência internacional dedicada ao tema, na Faculdade de Letras
da Universidade do Porto.
Porque é que os
emigrantes qualificados custam nove mil milhões de euros?
Portugal como país
produtor e exportador de mão-de-obra qualificada perde directamente
a dois níveis: "o montante que investiu na formação destes
jovens" e "o que iria recuperar com esses quadros
qualificados, ao longo da sua vida activa (imposto colectado sobre o
rendimentos, contribuição para o subsistema da Segurança Social,
para além dos benefícios para o desenvolvimento da economia
portuguesa). Para calcular o impacto desta fuga de cérebros, os
investigadores recorrem ao valor definido pela OCDE para formar um
diplomado em Portugal: cerca de 70 mil euros, no caso dos homens e
cerca de 69 mil euros, no caso das mulheres. A este montante somaram
o valor que se esperaria arrecadar em impostos e contribuições para
a Segurança Social, caso estes diplomados ficassem a trabalhar em
Portugal. Depois multiplicaram este valor pelo número de emigrantes
qualificados, em 2011, o que totaliza 8,8 mil milhões de euros de
prejuízo. Um montante que corresponde a dez anos do investimento
público feito nas universidades e institutos politécnicos ",
afirma Luísa Cerdeira uma das investigadoras do Instituto de
Educação da Universidade de Lisboa (UL) que realizou o estudo.
Estes emigrantes
qualificados vão regressar a Portugal?
A maioria não pensa
regressar. Cerca de 43% diz que vai ficar fora do país mais de dez
anos. Estes jovens identificam-se com o conceito de "emigração
para toda vida" no actual país de residência ou em outro país
europeu", pode ler-se no estudo. Ou seja, esta vaga deve ser
classificada como um "êxodo", conceito utilizado para
definir o fenómeno de "indivíduos qualificados que são
forçados ao exílio para obter um emprego e uma remuneração
correspondentes à sua formação". Não devendo este movimento
ser classificada como uma "diáspora", definição que se
aplica uma situação de emigração que "conduz a benefícios
mútuos de intercâmbio intercultural aberto pela circulação de
elites cosmopolitas académicas, científicas e culturais".
Quais as
consequências desta fuga de cérebros para a economia?
Este fenómeno de
fuga de cérebros faz com que "o capital humano não seja
rentabilizado na mesma sociedade ou país onde foi gerado, o que leva
a uma perda de capital investido na formação desses indivíduos. Um
fenómeno que "limita o retorno do investimento educacional
realizado pelos países de envio, criando condições favoráveis
para a sua utilização pelos países mais desenvolvidos. Numa
palavra a fuga de cérebros significa que os países receptores irão
beneficiar de capital humano altamente qualificado a custo zero",
pode ler-se no estudo. E Portugal é um dos países europeus em que
esta "fuga de cérebros" mais se acentuou na última
década". Quando comparados os valores dos Censos de 2001 de
2011, verifica-se que o número de emigrante qualificados cresceu
cerca de 88% nesse período. "Um fenómeno de descapitalização
intelectual e profissional do país que tem sido analisado por este
projecto Bradamo. Porque emigram estes diplomados portugueses? Para
fugir à "falta de perspectivas profissionais em Portugal"
diz o estudo. A emigração surge assim como uma forma de encontrar
"oportunidades de desenvolver uma carreira", diz a
apresentação do estudo.
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