terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Obama dá força aos que pedem alívio da austeridade




Obama dá força aos que pedem alívio da austeridade
    Ana Fonseca Pereira / 3-2-2015 / PÚBLICO

Barack Obama não entrou na discussão técnica, mas as suas palavras não poderiam ter vindo em melhor altura para o Governo grego, empenhado em convencer os parceiros europeus da urgência de negociar um novo acordo com os seus credores. “Não é possível continuar a pressionar países em plena depressão”, disse o Presidente norte-americano em entrevista à CNN, argumentando que, “a certa altura, é preciso ter uma estratégia de crescimento para permitir que um país pague as suas dívidas e elimine alguns dos seus défices”.

A Bolsa de Atenas foi a primeira a reagir e, pouco depois da abertura, estava a valorizar 5%, com as acções dos bancos gregos, que, na última semana, perderam 25% do seu valor, a liderarem as subidas. Sem se referir directamente a Obama, o próprio primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, disse que os últimos dias deixaram Atenas mais confiante sobre o rumo das negociações. “Nunca esperei que houvesse tantas forças poderosas a ajudar o novo Governo a criar um novo quadro e um novo rumo, não apenas para a Grécia mas para a Europa num todo”, afirmou.

Uma avaliação talvez demasiado optimista, quando a maioria dos líderes europeus tem oscilado entre a resposta prudente e a crítica aberta às propostas de Atenas. Mas, juntando as palavras do Presidente americano à disponibilidade manifestada no domingo por Paris para ajudar o novo Governo grego a renegociar a sua situação financeira, o Wall Street Journal escreveu que se assiste “na Europa, e não só, a uma reacção contra a forma como Berlim tem gerido a crise da zona euro”. “Os políticos alemães estão habituados às críticas de Washington”, acrescenta o jornal económico, mas as palavras de Obama, aliadas à pressão de França e Itália para um afrouxamento do rigor orçamental e à política intervencionista do Banco Central Europeu, indicam “que os ventos se estão a virar contra o Governo alemão”.

Na entrevista à CNN, Obama reconhece que a Grécia ainda não fez reformas essenciais, como a de melhorar o seu “celebremente terrível” sistema de cobrança de impostos. “Mas é muito difícil iniciar essas mudanças quando o nível de vida das pessoas caiu 25%. A dado momento, o sistema político e a sociedade não o podem suportar.” E, apesar de reconhecer que a zona euro não pode prescindir do rigor orçamental, Obama diz que a experiência americana dos últimos anos mostra que “a melhor maneira de reduzir o défice e restaurar a solidez orçamental é fomentar o crescimento”.

Uma ideia que faz caminho nalguns países — “Todos percebem que as políticas punitivas da austeridade não podem continuar a ser um projecto para a UE”, disse no domingo o primeiro-ministro francês, Manuel Valls —, dando força aos economistas que dizem ter chegado o tempo de aliviar o fardo da dívida grega.

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