terça-feira, 3 de março de 2020

Crise de migrantes. União Europeia rejeita intimidação de Erdogan e mostra solidariedade com Atenas / VIDEO: Greek locals force refugee boat away from Lesbos port after Turkey opens...




Fortified frontiers

By Mehreen Khan
March 3, 2020

The EU’s leaders are heading to Greece today to witness a burgeoning political crisis that has kyboshed what should have been a triumphant week for Brussels.

Before this weekend, the European Commission had been gearing up for the grand unveiling of its landmark climate law on Wednesday. The carefully crafted choreography included inviting Greta Thunberg into the heart of the Brussels machinery for photo ops and handshakes, before Ursula von der Leyen presented a beefy strategy to make Europe the world’s first climate neutral continent.

But Recep Tayyip Erdogan had other plans.The Turkish president’s decision to “open the borders” with Europe over the weekend has prompted thousands of refugees and migrants to head towards Greece in the last 72 hours and gazumped Brussels’ good week.

Police block a road as migrants look on during clashes outside the Moria refugee camp on the northeastern Aegean island of Lesbos, Greece, on Monday, March 2, 2020. Thousands of migrants and refugees massed at Turkey's western frontier, trying to enter Greece by land and sea after Turkey said its borders were open to those hoping to head to Europe. (AP Photo/Alexandros Michailidis)

Von der Leyen, along with Council president Charles Michel and the parliament’s David Sassoli have ditched their plans with Thunberg and will head to Greece too for a show of strength with premier Kyriakos Mitsotakis. As of last night, the frontier was awash with images of Greek security forces firing tear gas at groups including children. The Greek coastguard confirmed a child died after a dinghy capsized on the way to Lesbos island yesterday. (NYT)

In Brussels, the crisis has turned attention to what to do about the strained EU-Turkey migrant deal that has dominated the diplomatic relationship between Europe and Erdogan since 2016. Mark Rutte, Dutch prime minister and a driving force behind the initial agreement, vowed never to negotiate with a “knife at our throat”. Greek authorities accuse Erdogan of “blackmail” and say their country’s borders and Europe as a whole are under “attack”.

But for all the bluster, is there any alternative but to strike another bargain with Erdogan? One senior EU official thinks the Europeans are on better grounds to dictate terms to a Turkish president — who has suffered a series of blows in his offensive in Syria — than in 2016. “The humanitarian consequences of a fresh migration crisis — especially for Turkey — are huge. We will do a deal but not at a point where it looks like we are being blackmailed,” said the official.

Critics have long said the current €6bn deal — which funds projects to help refugees integrate in Turkey — is unsustainable. Kati Piri, a Dutch labour party MEP, says Brussels is now paying only lip services to the accord. “There has been no willingness whatsoever from the EU side to continue the financial agreement” beyond the 2016 pledges, she notes.

Map showing the migrant situation in Turkey and Greece .  10,000 migrants are currently at the Greek-Turkish border, Turkey currently hosts 4.1m refugees and asylum seekers from Syria and other nations, 20,000 refugees are in Moria camp on Lesbos, 1m displaced Syrians have sought shelter near the Turkish border, which has been effectively closed since 2015

“[Aid] wasn’t even included in the Commission’s proposal for the EU future budget. Funding for 500,000 Syrian school children ends this September. The cash assistance for 1.7m refugees in Turkey runs out of funding by March 2021”, says Piri.

Still, advocates of the agreement think it must stutter on in some form. Since the 2015 crisis, European governments across the spectrum have turned rightwards on migration; there are precious few advocates for a generous border policy left in the EU. It is also those most willing to use migration as a political lightning rod — like Hungary’s Viktor Orban or Austria’s Sebastian Kurz — who need Erdogan to play ball to keep incomers away.

Observers note that without détente, the EU’s claims to being a “normative” power will be shredded as its governments hit the bounds of international law. Gerald Knaus, chairman of the European Stability Initiative and one of the architects of the 2016 Turkey deal, notes that Greece’s decision to suspend asylum applications for a month mimics the nativist fantasies of Orban and other populists.

“This a dream of Donald Trump and it is the European Union that is currently practising it,” says Knaus. “This could be the year that the EU’s support for the UN Convention on Refugees dies.”

Crise de migrantes. União Europeia rejeita intimidação de Erdogan e mostra solidariedade com Atenas

Líderes da UE deslocam-se na terça-feira à fronteira greco-turca em solidariedade com Atenas. O presidente turco ameaça com milhões de migrantes, no que é visto como uma chantagem para obter apoios no conflito com a Síria.

César Avó
02 Março 2020 — 22:29

A União Europeia respondeu com firmeza à advertência do presidente turco Recep Tayyip Erdogan de que "milhões" de migrantes irão em breve para a Europa. A chanceler alemã Angela Merkel descreveu a iniciativa da Turquia como "inaceitável", enquanto o comissário de migração da UE, Margaritis Schinas, disse que "ninguém pode chantagear ou intimidar a UE".

Como prova da unidade europeia e de apoio a Atenas, Ursula von der Leyen, Charles Michel e David Sassoli, os dirigentes das três principais instituições da União Europeia (Comissão, Conselho e Parlamento), vão acompanhar o primeiro-ministro helénico Kyriakos Mitsotakis à fronteira com a Turquia. "Reconheço que a Turquia se encontra numa situação difícil em relação aos refugiados e migrantes, mas o que vemos agora não pode ser a resposta e a solução", disse Von der Leyen. "O desafio que a Grécia enfrenta neste momento é um desafio europeu", acrescentou.

Na sexta-feira a Turquia "abriu as portas" para os refugiados e migrantes se encaminharem para a União Europeia. Milhares reuniram-se na fronteira grega, provocando alarme de que ocorra uma crise migratória como a que se registou em 2015. Perante os acontecimentos, o governo conservador de Mitsotakis suspendeu os procedimentos de asilo para quem entre no país.

A Turquia, entre os cerca de quatro milhões de refugiados que alberga e as operações militares que leva a cabo em território sírio, na província de Idlib, tenta conter nova onda de refugiados oriundos dessa região.

"Depois de termos aberto as portas, recebemos várias chamadas a dizer 'fechem as portas'. Eu disse-lhes: "Está feito. Está resolvido. As portas estão agora abertas. Agora, vocês têm de assumir a vossa parte do ónus", disse. Erdogan afirmou que os números de migrantes na fronteira grega, que incluem afegãos, sírios e iraquianos, haviam chegado a "centenas de milhares". Concluiu: "Em breve, este número chegará aos milhões."

A chanceler alemã, Angela Merkel, que no fim do dia falou ao telefone com Erdogan, disse antesque a pressão turca é inaceitável. "Acho totalmente inaceitável que o presidente Erdogan e o seu governo não tenham demonstrado a sua insatisfação com a UE e, em vez disso, atiraram-na para as costas dos refugiados."

Também o comissário com a pasta da migração da UE, Margaritis Schinas, respondeu a Erdogan. "Ninguém pode chantagear ou intimidar a UE", disse em Berlim. "Cada vez que a UE é testada como está a ser agora, a unidade deve prevalecer", acrescentou Schinas.

Resposta grega
A Grécia está desde domingo em estado de alerta. O primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis reuniu-se de emergência com os responsáveis da defesa e dos negócios estrangeiros. Na segunda-feira conversou com o presidente dos EUA, Donald Trump. Segundo uma declaração do gabinete do primeiro-ministro grego, Trump "reconheceu o direito da Grécia de fazer cumprir a lei nas suas fronteiras".

Atenas disse que iria reforçar as patrulhas e suspendeu os pedidos de asilo para quem entrou no país de forma ilegal - uma medida que a agência de refugiados da ONU, a ACNUR, comentou ser desprovida de base legal.

A Grécia diz que impediu cerca de dez mil pessoas de entrar no país durante o fim de semana. Através de megafones, as patrulhas fronteiriças apelaram para que os migrantes permaneçam no lado turco. O governo grego também criou um sistema de mensagens de texto automáticas para telemóveis estrangeiros junto da fronteira, com a mensagem: "A Grécia está a maximizar a segurança na fronteira. Não tentem atravessar as fronteiras ilegalmente."

Uma parte dos migrantes tentou forçar a passagem e os confrontos eclodiram, com a polícia a disparar gás lacrimogéneo e os migrantes à pedrada. Para tornar a situação mais complicada, segundo o canal de TV búlgaro bTV, o lado turco cortou o arame farpado e enviou drones com gás lacrimogéneo. A estação privada alega que os municípios e empresários turcos financiaram os autocarros que têm levado os migrantes para as localidades fronteiriças.

Mas outro vídeo mostra uma lancha turca a fazer escolta a outra embarcação com migrantes. Em meados de janeiro um vídeo de uma lancha da guarda costeira turca a abalroar uma embarcação com migrantes foi notícia.

A Turquia também acusou a polícia grega de matar um migrante sírio na fronteira. Atenas rejeitou essa acusação como fake news. Por duas vezes o vice-ministro e porta-voz governamental Stelios Petsas desmentiu a veracidade da alegação. "Pedimos a todos que tenham cuidado a reportar notícias que promovam a propaganda turca", escreveu Petsas. Horas depois voltou à carga: "Nenhum tiro foi disparado pelas forças fronteiriças contra quaisquer indivíduos que tenham tentado entrar de forma ilegal na Grécia. Tudo o mais é desinformação grosseira e deliberada: fake news."

Facto é que uma criança morreu afogada na sequência de um bote ter virado no mar Egeu. Segundo a guarda costeira grega, a ação foi propositada e é típica dos "contrabandistas para desencadearem uma operação de salvamento". As outras 46 pessoas a bordo foram salvas. Nas últimas horas chegaram mais de 1300 pessoas às cinco ilhas do mar Egeu.

A maioria chegou a Lesbos, cujo campo para refugiados se encontra com cerca de 20 mil pessoas.

O campo de Moria foi construído para acolher entre 2500 e 3000 pessoas e tem sido palco de manifestações e confrontos com a polícia. Ao contrário de anos anteriores, os migrantes são agora recebidos com gritos em inglês a dizerem para dar meia volta: "Go away!".

A agência de proteção de fronteiras da UE, Frontex, disse que vai lançar uma operação na fronteira para ajudar a Grécia a lidar com milhares de imigrantes que tentam entrar no bloco europeu. A agência com sede em Varsóvia vai pedir aos membros da UE e do espaço Schengen que contribuam com funcionários e equipamento.

"Dada a rápida evolução da situação nas fronteiras externas da Grécia com a Turquia, a minha decisão é lançar a rápida intervenção fronteiriça solicitada pela Grécia", disse o diretor executivo da Frontex, Fabrice Leggeri, em comunicado. A intervenção consiste em convocar grupos de 1500 agentes e outro pessoal que a UE e os países Schengen devem disponibilizar no prazo de cinco dias, de acordo com o comunicado.

O espaço Schengen engloba 26 países europeus que aboliram os controlos nas suas fronteiras mútuas, quatro dos quais não são membros da UE.

A troco de seis mil milhões de euros, em 2016 a Turquia comprometeu-se em impedir a saída de refugiados e migrantes para a Europa. A UE reitera que Ancara tem de cumprir o acordo.

A questão dos migrantes surge na sequência do lançamento, pela Turquia, de uma operação militar em Idlib, no noroeste da Síria, numa tentativa de fazer recuar a ofensiva do regime. Desde dezembro que as forças de Bashar al-Assad, com a ajuda dos aliados russos e iranianos, têm ganho terreno na última província controlada pelos opositores. Em consequência, cerca de um milhão de pessoas fugiram, no que constitui o maior êxodo nos nove anos da guerra. No entanto, as autoridades de Ancara não estão a autorizar a sua entrar na Turquia.

Reunião em Moscovo
Erdogan viaja na quinta-feira para Moscovo, onde irá encontrar-se com o homólogo russo, Vladimir Putin. O líder turco disse que espera alcançar uma trégua na Síria. "Espero que Putin tome as medidas necessárias, como um cessar-fogo, e que encontremos uma solução para este caso", disse o presidente turco.

Apesar de estarem em lados opostos do conflito, ambos estão interessados em evitar uma confrontação direta, e que comprometeria as relações comerciais, de energia e de defesa.

O Kremlin disse que a cooperação com a Turquia era uma prioridade máxima. "As nossas forças armadas estão em contacto constante. O mais importante é concentrarmo-nos nas negociações entre Putin e Erdogan", disse um porta-voz russo.

A Turquia tem postos de observação em Idlib, resultado de um acordo de 2018 com a Rússia que deveria impedir um ataque total por parte do regime aos grupos islamistas que controlam a província e que recebem o apoio de Erdogan.

Na segunda-feira, Damasco retomou Saraqeb, cidade que havia perdido dias antes para os jihadistas. Saraqeb é de importância estratégica, uma vez que está no cruzamento entre duas vias rápidas que ligam Lataquia e Damasco com a segunda maior cidade, Aleppo.

​​As tensões entre a Turquia e a Síria atingiram novas proporções na semana passada, quando 34 soldados turcos foram mortos num ataque aéreo imputado a Damasco. "Os ataques aéreos foram provavelmente cometidos pela força aérea russa, uma vez que os caças sírios não conduzem ataques aéreos à noite", disse Anthony Skinner, analista da consultora Verisk Maplecroft. "E ainda assim, tanto Moscovo como Ancara decidiram apontar o dedo da culpa a al-Assad, o que reflete o pouco apetite de ambos os lados por um confronto mais direto."

A Turquia retaliou no domingo ao abater dois aviões de guerra sírios, e matou pelo menos 19 soldados sírios. Erdogan disse que foi "apenas o começo", a menos que as forças sírias se retirem para trás das fronteiras acordadas no âmbito do acordo de 2018. Damasco respondeu que estava "determinado a enfrentar a flagrante agressão turca".

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