Quando estacionar um automóvel é mais importante que um
Monumento Nacional
POR O CORVO • 13 SETEMBRO, 2017 •
O topo do Ascensor da Bica era, a meio da tarde desta
terça-feira (12 de setembro), palco de uma inusitada cena, motivo de espanto
para os passantes, sobretudo os muitos turistas que dali tiram fotografias a
uma vista magnífica, com o aliciante de se observar o Tejo na linha do
horizonte. Um automóvel particular estacionado no fim da linha, junto ao Largo
do Calhariz, impedia o elevador, que, desde 1892, sobe e desce a Rua da Bica de
Duarte Belo, de completar os últimos metros do seu percurso. Mas se tal não
parecia incomodar o trabalho do guarda-freio, com os passageiros a entrarem e
saírem do ascensor, a bizarria de tal quadro não deixava de suscitar
comentários. E constituir-se como evidência da persistência, por parte de
alguns automobilistas, de uma atitude de óbvio desprezo pelo espaço público.
O Ascensor da Bica,
que desde 1914 passou a utilizar um sistema eléctrico para o locomover desde a
Rua de São Paulo – substituindo assim a tracção com motores a vapor –, foi
classificado como Monumento Nacional em 2002 e aparece descrito no sítio
oficial da Carris como “o ascensor com o roteiro mais pitoresco” dos três
existentes em Lisboa. Razão, aliás, do sempre renovado interesse dos turistas.
Que ontem eram obrigados a incluir aquele carro estacionado de forma ilegal no
enquadramento das fotografias dali tiradas ou, em alternativa, a descer uns
quantos metros para conseguir uma imagem expurgada do parasitário veículo. Um
funcionário de uma empresa turística que ali se encontrava a distribuir
panfletos promocionais disse a O Corvo que o automóvel seria de um morador. “Dá
uma imagem um bocado estranha deste cenário, de facto”, comentou. A Rua da Bica
de Duarte Belo foi mencionada, no início deste ano, em vários jornais, como
sendo “a rua mais bonita do mundo”.
Texto: Samuel Alemão
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