10 maneiras de identificar um Verdadeiro Lisboeta
Por Luís Leal Miranda Publicado Sábado 23 Setembro 2017,
22:03
O que é afinal um "alfacinha de gema"? São aqueles
cidadãos, metade hortaliça, metade ovo, nascidos e criados entre as sete
colinas e tidos como os Verdadeiros Lisboetas. Sabe como distingui-los entre a
multidão? Nós damos um ajuda.
1. O Verdadeiro Lisboeta lembra-se do dia em que as escadas
rolantes da estação Baixa-Chiado estavam todas a funcionar.
Um evento tão surpreendente que é provável que, mesmo o mais
esquecido, saiba dizer com muita certeza o que tinha vestido nesse dia.
2. Tem sempre uma multa de estacionamento dentro do carro.
Isso faz parte do Kit de Lisboeta Básico. O nível Avançado
inclui várias multas da EMEL no porta-luvas e uma folha A4 com a frase “Estou
no supermercado” escrita a marcador para quando estaciona em segunda fila. O
grau de Lisboeta Superior atinge-se quando, dentro do carro mal estacionado,
deixa uma cópia do Código Civil em cima do tablier com a nota: “Estou no
tribunal”.
3. Ainda se refere à estação do Marquês de Pombal como
“Rotunda”.
Chama “Palhavã” à Praça de Espanha e “Socorro” ao Martim
Moniz. Tem sempre de pensar duas vezes quando alguém fala em Aeroporto Humberto
Delgado e chama Germania à cervejaria Portugália (ok, o nome mudou em 1925,
este exemplo aplica-se só aos lisboetas mais antigos). Parque das Nações? Para
o Verdadeiro Lisboeta é Expo e mais nada.
Fotografia: Arlindo Camacho
4. Diz aos turistas que têm de andar no eléctrico 28.
Mas não anda de eléctrico. Recomenda os pastéis de Belém a
toda a gente, mas só lá vai quando tem visitas. O mesmo é verdade para o
Castelo de S. Jorge ou Alfama.
Fotografia: Arlindo Camacho
5. Tem uma relação forte com um lugar obsoleto da cidade
Há anos que a Brasileira, a Mexicana ou a Suiça não são a
mesma coisa, mas o Verdadeiro Lisboeta insiste em frequentar todos esses sítios
esporadicamente para poder dizer, “isto já não é a mesma coisa”.
8. Nasceu na MAC e espera que toda a gente saiba o que é a
MAC
Maternidade Alfredo da Costa. Mas é preciso explicar tudo?
Também é comum o Verdadeiro Lisboeta apresentar-se como um “natural de S.
Sebastião da Pedreira”. Dá um toque rústico ao seu olissipocentrismo.
9. Acha que não tem sotaque
Existe uma maneira de falar específica em Lisboa a que
chamamos de “silabalismo” ou “etimofagia”, expressões que descrevem o estranho
hábito de comer sílabas. Cada conversa é como uma colherada numa sopa de letras
invisível. Exemplo: “Oh qu’rida pod t’fnar à emp’gada e pedi’ pa’ela
virámnhã?”.
10. Vai dizer “não é nada disto!”.
E mostrar uma quantidade imoderada de indignação depois de
ler este texto. Nós não queríamos ter de contar a história do peixe, mas lá vai
ter de ser: dois peixes cruzam-se no meio do oceano e um peixe pergunta,
“Então, como está a água hoje?”. Ao que o outro responde: “Água? O que é
água?”. É normal esquecermo-nos daquilo que nos rodeia quando o que nos rodeia
é o que sempre conhecemos.
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