Falou-se de todas as casas de Lisboa,
mas pouco da de Medina
Habitação, mobilidade e turismo.
Lisboa parece reduzida a estes três problemas. Toda a primeira parte do debate
foi dominado pela habitação.
CRISTIANA FARIA MOREIRA 15 de setembro de 2017, 0:47
A habitação voltou a ser tema que marcou o debate na RTP que
opôs os 12 candidatos à presidência da câmara de Lisboa e que decorreu no
Convento do Beato, em Lisboa. Falou-se de todas as casas de Lisboa, mas a mais
falada dos últimos dias ficou fora da discussão. O apartamento nas Avenidas
Novas que o presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, comprou a uma das
herdeiras do grupo Teixeira Duarte ainda foi trazido à baila por Joana Amaral
Dias (Nós, Cidadãos!), mas Fernando Medina limitou-se a afirmar estar “a cumprir
escrupulosamente o que a lei obriga”, referindo ainda que disponibilizou a
informação referente à compra da casa no seu site da campanha (Medina2017.pt).
E rematou o assunto dizendo que as recentes polémicas, que envolvem a não
declaração da compra do ‘duplex’ ao Tribunal Constitucional e a compra de um
apartamento numa zona nobre da cidade por um preço inferior ao que a vendedora
tinha pago, também há dez anos é uma “uma campanha de insinuação”. Teve a ajuda
da candidata social-democrata, Teresa Leal Coelho, que arrumou o assunto quando
disse que não tinham vindo ao debate “para discutir casos”.
Daí para a frente, as intervenções circularam à volta da
oferta de casas na capital. Leal Coelho começou por acusar Fernando Medina e o
PS de ter deixado a habitação municipal fora das prioridades nos últimos dez
anos, ignorando “as pessoas que estão em situação mais vulnerável”. E acusou a
autarquia de ter mais 2000 fogos desocupados e por vender património municipal
“em hasta pública contribuindo para a especulação imobiliária”.
A crítica foi partilhada pelo candidato comunista, João
Ferreira, que acusa a gestão socialista de ter uma “visão que deixou a cidade
nas mãos dos especuladores imobiliários”. Criticou ainda a extinção da Empresa
Pública de Urbanização de Lisboa (EPUL). Fernando Medina defendeu-se ao afirmar
que durante este mandato foram entregues 1200 casas e que foi lançado “o maior
programa de reabilitação de bairros municipais” e que prevê avançar, dentro de
“alguns meses”, a reabilitação de edifícios na rua de São Lázaro, que
disponibilizará casas para 123 famílias.
Por sua vez, o candidato do Bloco, Ricardo Robles, estende
as críticas sobre o problema da habitação em Lisboa a Assunção Cristas,
referindo-se à Lei das Rendas, aprovada no governo PSD/CDS. O candidato defende
que esta legislação contribuiu para que “mil famílias” fossem “despejadas” da
cidade desde o início do ano. O bloquista acusa ainda Fernando Medina de ter
entregado “2500 casas a fundos privados”. Também Joana Amaral Dias acusou
Fernando Medina de estar “refém dos interesses imobiliários”.
O candidato do PCTP/MRPP, Luís Júdice, por seu turno,
alertou para o facto de o debate se realizar na zona do Beato, “que está
situada numa das zonas mais degradadas da cidade”. “Vão visitar a Vila Dias e
depois falamos de habitação”, atirou, responsabilizando “todos os partidos do
arco parlamentar” pela “expulsão de mais de metade da população da cidade”.
As críticas ao executivo socialista continuaram com a
candidata pela coligação CDS/MTP/PPM (Nossa Lisboa), Assunção Cristas, a
afirmar que “durante dez anos não houve nada a ser feito na habitação” nem se
tentou atrair mais pessoas para a capital. E acrescentou que “o património
municipal deve ser alocado para habitação”, a preços moderados, mas, ressalvou
que a habitação não é apenas o problema que está a impedir a chegada de mais
pessoas à capital realçando, por exemplo, que Lisboa é “o pior concelho do país
em relação à cobertura de creche”.
Na segunda parte do debate, a mobilidade e o turismo
dominaram as intervenções. Mas enquanto a habitação acaba por reunir algum
consenso, embora haja diferenças quanto ao papel dos privados nesta questão, já
em relação aos transportes as opiniões dividem-se. A gestão da carris e a
circulação de carros dentro da cidade são alguns dos temas onde as divergências
são evidentes.
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