Ao contrário do rei, o D. Sebastião
do Rossio vai mesmo voltar
Infra-Estruturas de Portugal
decidiu-se pelo restauro da estátua que ornamentava a estação, destruída em
Maio do ano passado. Concurso para o trabalho vai ser lançado até ao fim do
ano.
JOÃO PEDRO PINCHA 8 de setembro de 2017, 8:44
Em princípio, esta história vai ter um final mais feliz do
que teve o desafortunado rei D. Sebastião, desaparecido em Alcácer-Quibir há
439 anos, um mês e quatro dias e donde, presume-se, não mais voltará por muito
nevoeiro que cubra o Tejo. A estátua do infeliz monarca que existia na Estação
do Rossio, em Lisboa, vai ser reparada e regressará ao seu lugar.
A Infra-Estruturas de Portugal (IP), que gere a estação
ferroviária, quer contratar a reparação “durante o último trimestre deste ano”,
explicou ao PÚBLICO uma fonte da empresa pública. Serão contactadas “entidades
da área do restauro identificadas pela Direcção-Geral do Património Cultural
(DGPC)” e o preço-base dos trabalhos é de 25 mil euros.
Em Maio do ano passado, um homem de 24 anos trepou ao nicho
em que se encontrava a estátua para tirar uma selfie. A obra, esculpida por
Gabriel Farail há 126 anos, caiu ao chão e ficou completamente destruída. A
notícia correu mundo.
“A IP procedeu à recolha e devido acondicionamento de todos
os fragmentos da estátua em estreita colaboração com a DGPC”, informou a mesma
fonte, explicando que se seguiu uma análise ao que era mais viável: a reparação
ou a construção de uma réplica.
Depois de um “rigoroso e ponderado processo”, a empresa que
gere as estações de comboios nacionais decidiu-se pelo restauro da estátua.
Trata-se, acrescentou a fonte da Infra-Estruturas de Portugal, de “um trabalho
exigente”, uma vez que é preciso proceder à “colagem dos fragmentos”
resultantes da destruição.
Na sequência do “reprovável acto de vandalismo” que tombou
D. Sebastião, a IP apresentou queixa ao Ministério Público que, adiantou a
empresa, está “na sua fase de inquérito”. O PÚBLICO tentou confirmar o estado
do processo junto da Procuradoria-Geral da República, mas não obteve resposta
até à publicação deste artigo.
A estátua de D. Sebastião era um dos vários atractivos da
Estação do Rossio, construída no fim do século XIX e classificada como Imóvel
de Interesse Público desde 1971. Encontrava-se num nicho entre os dois arcos
neo-manuelinos da fachada, por cima dos quais se pode ler “Estação Central” em
letras estilizadas.
Poucos dias depois do sucedido, o Instituto de Oftalmologia
Doutor Gama Pinto anunciou que tinha uma estátua idêntica guardada numa
arrecadação do Palácio dos Condes de Penamacor, à Colina de Santana, que aquele
organismo ocupa. Mas a Infra-Estruturas de Portugal optou por restaurar a peça
que já estava no Rossio. Ainda não há uma data definida, mas parece certo que
este D. Sebastião vai mesmo regressar. Com ou sem nevoeiro.
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