Novo terminal de cruzeiros abriu e fechou no mesmo dia. Está
em “abertura beta”
A nova gare do Porto de Lisboa recebeu os primeiros
passageiros, mas voltou a fechar para a conclusão das obras. A previsão agora é
de que a abertura só aconteça “daqui a um ou dois meses”.
CRISTIANA FARIA MOREIRA 22 de setembro de 2017, 8:41
O novo terminal de cruzeiros do Porto de Lisboa recebeu, na
segunda-feira, os primeiros passageiros. O momento foi acompanhado pela
ministra do mar, Ana Paula Vitorino, que considerou que a infra-estrutura
estava “pronta para acolher o crescimento previsto do Porto de Lisboa na área
dos cruzeiros de turnaround [onde decorre embarque e desembarque de
passageiros]”, pode ler-se num comunicado enviado às redacções pela
Administração do Porto de Lisboa (APL). No entanto, nesse mesmo dia, o terminal
voltou a fechar para a conclusão das obras. Mas se o director do terminal
admite que a nova gare está a funcionar ainda a meio gás, a APL garante que o
edifício está a funcionar em pleno.
Para já, é só uma “abertura beta”, afirmou ao PÚBLICO o
director do terminal, Ricardo Ferreira, admitindo que a entrada em pleno
funcionamento da nova gare só deverá acontecer “daqui a um ou dois meses”. No
entanto, a APL reiterou que “o terminal está em pleno funcionamento”, embora
“tenha sido considerado adequado, em período eleitoral, não realizar qualquer
cerimónia de inauguração oficial”.
Porém, o PÚBLICO visitou o local e encontrou-o fechado.
Ricardo Ferreira confirmou e referiu que a nova gare está ainda em fase de
“testes e avaliações” enquanto são concluídos os acabamentos. Foi, de resto,
esse o principal objectivo “desta pequena abertura”: a de testar determinado
tipo de operações e melhorá-las “o mais depressa possível enquanto as equipas
ainda estão na obra”.
A “inauguração oficial”, contudo, só está prevista para
depois das eleições autárquicas, salientou a ministra do mar, dizendo que o
acompanhamento da entrada em funcionamento da gare se tratava apenas de “uma
visita de trabalho”. Também a presidente da APL, Lídia Sequeira, e o director
do terminal, acompanharam na segunda-feira a chegada dos primeiros passageiros
à nova gare.
No primeiro dia de vida, o novo terminal de cruzeiros
recebeu cerca de 3500 pessoas que viajavam a bordo do navio Monarch. Foi a
última paragem de uma viagem que começou em Warnemunde, na Alemanha, e o
embarque para um cruzeiro de oito dias que partiu em direcção ao Funchal e que
tinha como destino as Ilhas Canárias.
Foi o primeiro a atracar na nova gare que já esteve para ser
inaugurada em Maio, depois no Verão, e a previsão agora é de que aconteça
“daqui a um ou dois meses, no máximo”, apontou Ricardo Ferreira.
Ao PÚBLICO, o responsável explicou que os sucessivos atrasos
na entrada em funcionamento do novo terminal se justificam devido à
“complexidade da própria obra”. “É o preço a pagar por toda esta inovação e
tecnologia”, diz Ricardo Ferreira. O projecto, iniciado em 2007 pela APL, no
âmbito das Orientações Estratégicas para o Sector Marítimo Portuário, ficou a
cargo da Lisbon Cruise Terminals que, desde 2014, detém a concessão do terminal
de cruzeiros. Envolveu um investimento privado de quase 23 milhões de euros e
previu a construção de um novo cais e a reabilitação do existente.
Da autoria do arquitecto Carrilho da Graça, o projecto do
novo terminal ocupa uma área de 13.800 metros quadrados, dividida por três
andares, e “vai ser pioneiro na sua vertente artística e arquitectónica”, diz o
director, ao incluir, por exemplo, um agregado de cortiça e betão que terá
características isolantes térmicas e acústicas.
Mas, apesar dos atrasos, garante que o acompanhamento das
operações de chegada de passageiros Lisboa continua a decorrer “com
normalidade”, recorrendo quer ao terminal de Santa Apolónia, quer ao do jardim
do Tabaco. Quanto ao novo, até estar a funcionar a 100%, “abrirá sempre que for
necessário abrir”, sublinhou.
O novo cais de desembarque tem 1490 metros o que permite
receber cruzeiros de média dimensão, com um calado (distância entre a quilha do
navio e a linha de flutuação) até 12 metros. Está a ser finalizado um sistema
de acesso aos navios através de duas mangas (semelhantes às dos aeroportos), ligadas
a uma passerelle com 600 metros, que dará acesso ao terminal por três
passadiços.
Mais de meio milhão de turistas de cruzeiros com impacto de
92 milhões em Lisboa
Mais de meio milhão de turistas de cruzeiros com impacto de
92 milhões em Lisboa
A parte exterior do terminal conta com 360 lugares de
estacionamento público, 80 lugares para autocarros, táxis e carros turísticos,
que estão ainda a ser concluídos. A APL sublinhou que "os arranjos dos
espaços exteriores" estão a decorrer "dentro dos prazos contratualmente
fixados, que são muito posteriores aos da conclusão do edifício", que vai
incluir também um terraço panorâmico sobre o rio Tejo.
2018 será o melhor ano de sempre
De acordo com os dados avançados pela APL, o terminal deverá
receber, este ano, 337 escalas e 524 mil passageiros. Se se verificarem estes
números, será um crescimento de cerca de 8% do número de escalas face a 2016, o
que fará de 2017 o segundo melhor ano de sempre da actividade de cruzeiros no
Porto de Lisboa. O melhor foi em 2013 quando passaram pelo terminal 353 navios,
envolvendo 558 mil passageiros.
Mas, nas previsões do Porto de Lisboa, 2018 será o melhor
ano de sempre na actividade de cruzeiros na cidade, com a chegada de 361 navios
e de 617 mil passageiros.
Segundo estimativas do Governo, a nova infra-estrutura
deverá gerar um “impacto directo e indirecto na economia superior a 100 milhões
de euros até 2020”.
Recorde-se que, em Setembro do próximo ano, Lisboa vai
acolher uma das maiores feiras de cruzeiros do mundo, a Seatrade Cruise Med.
São “obra e passos concretos importantes para fazer acontecer o mar",
considerou a ministra na mesma cerimónia.
O PÚBLICO tentou obter mais esclarecimentos junto do
Ministério do Mar que remeteu as questões para a APL.
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