Ocuparam uma casa para defender o direito à habitação em
Lisboa
Assembleia de Ocupação de Lisboa ocupou prédio para alertar
para os problemas da habitação em Lisboa. Domingo há uma assembleia para se
decidir que rumo dar ao espaço.
CRISTIANA FARIA MOREIRA 15 de setembro de 2017, 21:33
https://www.publico.pt/2017/09/15/local/noticia/uma-casa-ocupada-para-defender-o-direito-a-habitacao-na-cidade-1785608
“A cidade é de quem a ocupa”, lê-se em letras garrafais na
faixa que foi colocada num prédio devoluto no coração de Arroios, em Lisboa,
que foi ocupado esta sexta-feira pela Assembleia de Ocupação de Lisboa (AOLX).
É um protesto contra o avanço da “especulação imobiliária” que tem contribuído
para o aumento das rendas e do preço das casas e empurrado as pessoas para fora
da cidade. A ideia é transformar este espaço desocupado num local “aberto à
comunidade”.
Ao PÚBLICO, João Teixeira, engenheiro de 40 anos, porta-voz
do grupo, diz que a iniciativa surgiu muito “espontaneamente” por um grupo de
pessoas que foram mudando de habitação e dando conta que “a situação é cada vez
mais complexa para quem mora em Lisboa, não só para jovens, mas para toda a
gente”.
São três da tarde quando chegamos ao número 69 da rua
Marques da Silva. Lá dentro, cerca de 20 pessoas, que não querem dar a cara,
arregaçam as mangas para limpar as devolutas fracções daquele prédio que dizem
ser uma das propriedades que a câmara de Lisboa tem desocupadas pela cidade. “A
casa já estava aberta, não foi preciso arrombar portas”, diz um dos membros do
grupo que é doutorando em Sociologia, mas prefere manter o nome fora da
conversa.
A ocupação do prédio acontece em plena campanha para as
autárquicas de 1 de Outubro, onde a questão da habitação, a gentrificação, os
impactos do turismo na cidade tem sido reconhecida, da esquerda à direita, como
a prioridade da cidade.
O fenómeno que não é exclusivo de Lisboa: “Fala-se de
gentrificação de São Francisco a Barcelona", diz o doutorando em
Sociologia. Na capital, considera, o fenómeno tem sido agravado pela má gestão
da Câmara de Lisboa que tem entregado património a “fundos de investimento” e
“entidades especuladoras”.
O grupo, que sublinha não ter “ligações a partidos,
associações, organizações políticas ou sindicais”, representa “uma fatia muito
transversal da sociedade”, diz João Teixeira. São engenheiros, empregados de
mesa ou juristas. Alguns são repetentes, tendo já participado noutras iniciativas
do género, e que querem “criar um contrapoder à gentrificação”, abrindo um
espaço fechado ao máximo de pessoas.
Apesar de abandonado, o grupo admite que o edifício está em
boas condições do ponto de vista estrutural, e que com a ocupação pretendem
“retirá-lo das malhas da especulação” e transformar um “espaço desocupado” num
local “aberto à comunidade”.
Mas há ainda muito trabalho para se fazer até transformar
aquele espaço num “equipamento social”. Para isso, trocam-se os móveis de
divisão, limpa-se o entulho acumulado por quem já ali passou. A ideia é criar
“um espaço social em que toda a gente é bem-vinda”, que será aberto a debates,
conversas sobre a cidade e as suas transformações. A finalidade de cada
fracção, porém, ainda está em aberto, “mas será sempre um espaço comunitário”,
nota João Teixeira.
No próximo domingo, o grupo vai promover uma assembleia para
discutir estas questões e definir o rumo a dar a este prédio. No sábado está
ainda prevista a realização de um debate e a apresentação de um arquivo
histórico sobre a ocupação em Portugal.
Para já, João Teixeira diz que a câmara foi informada da
ocupação, mas que ainda não obtiveram qualquer resposta. “Quando [a câmara]
iniciar o diálogo vamos ver qual é o tipo de propostas ou de aproximação que
tem e depois submeteremos isso à assembleia”, explicou o porta-voz.
E a ideia é que as iniciativas naquele espaço não se esgotem
no fim-de-semana. “Até nos tirarem daqui vamos continuar”, diz o doutorando em
Sociologia
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