Dois nomes hoje nos “media”:
Luís Araújo presidente do Turismo de
Portugal é sócio minoritário de uma Empresa de Alojamento Local que aluga
quartos a Turistas. Segundo Luís Araújo em termos Legais está tudo OK
Alexandre Delgado Alexandre Delgado é
o presidente do sindicato que mais trabalhadores representa a bordo dos barcos
do Douro. Mas também é sócio-gerente da Prime Marine Ship, uma empresa que
ajuda a recrutar trabalhadores também para esses barcos. Sindicalista não vê
incompatibilidade.
OVOODOCORVO
Dirigente sindical da UGT tem empresa
que selecciona trabalhadores para cruzeiros no Douro
Alexandre Delgado é o presidente do
sindicato que mais trabalhadores representa a bordo dos barcos do Douro. Mas
também é sócio-gerente da Prime Marine Ship, uma empresa que ajuda a recrutar
trabalhadores também para esses barcos. Sindicalista não vê incompatibilidade.
MARIANA CORREIA PINTO 9 de setembro de 2017, 8:55
https://www.publico.pt/2017/09/09/local/noticia/dirigente-sindical-da-ugt-tem-empresa-que-selecciona-trabalhadores-para-cruzeiros-no-douro-1784861
Já estava na Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores do
Mar (Fesmar), afecta à UGT, quando se tornou sócio-gerente da Prime Marine
Ship, uma empresa que presta serviços a alguns operadores turísticos do Douro,
fazendo “recolha de currículos, entrevistas de emprego e selecção” de
trabalhadores para os barcos. Alexandre Delgado está seguro de que “as duas
actividades não são incompatíveis”, até porque a sua empresa “não tem a palavra
final no recrutamento do trabalhador”.
O sindicalista — há mais de uma década na Fesmar e também
presidente da cooperativa MARTRAIN e membro da direcção da Associação de
Estudos e Ensinos para o Mar — diz, no entanto, estar de saída da empresa “que
nasceu para uns contratos em Moçambique” e não para as actuais finalidades.
“Por questões óbvias, o não querer mais estar lá, e questões particulares,
quero sair da empresa. Mas há compromissos que não posso deixar a meio. É como
os casamentos: é mais fácil casarmo-nos do que conseguir o divórcio”, ironiza,
sem revelar os operadores com quem a sua empresa trabalha, mas dizendo que a
Douro Azul não faz parte do lote.
O PÚBLICO contactou Alexandre Delgado como dirigente da
Fesmar, a propósito de artigo publicado na edição desta sexta-feira, que
antecipava uma manifestação marcada pela Plataforma Laboral e Sindical (PLP)
para este sábado nos cais de Gaia (10h) e Porto (15h). Em causa estão denúncias
de “medo” e “escravatura laboral” a bordo de barcos de vários operadores
turísticos.
Afinal, o que se passa a bordo dos barcos durienses? Em
entrevista ao Caderno País Positivo, do semanário SOL, em Maio de 2012,
Alexandre Delgado admitiu ter uma óptima relação com as entidades patronais. No
caso do Douro, o dirigente da Fesmar reconhece haver “alguns problemas graves”,
admite a unidade sindical, “principalmente nas empresas que nunca quiseram
subscrever os acordos e continuam a querer laborar sem qualquer controlo”. Mas
as denúncias noticiadas pelo PÚBLICO, salvaguarda, “partem de um reduzido grupo
de trabalhadores, com manifestas intenções políticas”.
Longas jornadas de trabalho, poucos dias de descanso,
“principalmente na Douro Azul”, e baixas remunerações para algumas categorias
profissionais, tendo em conta “a dureza das condições em que é prestada a
actividade” são as principais “reclamações colectivas” que os trabalhadores dos
barcos de turismo fluvial no Rio Douro fazem chegar a este sindicato que diz
representar “cerca de 600” pessoas.
A estrutura sindical admite que esta é “uma actividade muito
dura para a qual grande parte dos trabalhadores não está preparada” e justifica
dessa forma os “elevados níveis de rotatividade todos os anos”. Numa actividade
sazonal como esta é “muito difícil que as empresas façam contratações anuais” e
ainda que haja “cada vez mais trabalhadores efectivos”, “a maior parte dos
contratos são sazonais e assim continuarão”.
Quanto a pagamentos, “para um sindicato, os salários são
sempre baixos”. Mas a Fesmar sublinha que tem conseguido negociar “aumentos
salariais quase todos os anos”. “Em alguns casos e categorias profissionais
foram mesmo superiores a 12%/ 15%. São suficientes? Não, porque o trabalho é
muito duro, exige muitas horas de trabalho diário e poucos dias de descanso.”
A lista reivindicativa da PLP é longa. Entre as queixas
estão também as deficientes condições de dormida a bordo dos barcos e refeições
feitas de restos. A FESMAR admite a existência do primeiro problema, mas
desconhece o segundo, tendo apenas registo de “reclamações pontuais num ou
outro ano”. “Admitimos que tal possa acontecer noutras empresas cujos
trabalhadores não representamos”, acrescenta Alexandre Delgado.
Até 2003, diz, as embarcações do Douro estavam “em situação
de completa desregulação laboral, pois não existia nenhuma convenção colectiva
aplicável a esse tipo de actividade”. A Fesmar diz já ter iniciado várias
acções judiciais contra empresas do Douro, mas em nenhum caso houve
condenações: “As empresas pagam e acabam por chegar a acordo em tribunal.”
Alexandre Delgado conta-o para realçar a dificuldade do
trabalho do sindicato. Em algumas visitas a embarcações, aparecem apenas “dois
ou três” trabalhadores para falarem com ele e, às vezes no mesmo dia, já de
volta ao escritório, acabam por receber várias denúncias. “Querem queixar-se
mas não querem identificar-se. Isto é impossível.” Medo? “Não querem perder o
posto de trabalho”, responde.
Empresas negam
O PÚBLICO contactou as empresas Tomaz do Douro e Douro Azul,
duas das mais representativas nas travessias do Douro. A primeira não esteve
disponível para qualquer esclarecimento; a empresa de Mário Ferreira emitiu uma
nota de imprensa para “repudiar e denunciar” o artigo publicado “no que
respeita às insinuações falsas e caluniosas aí inscritas”, recusando-se a
“comentar o teor dessas insinuações”.
A Croisi Europe, empresa com sede em França e com cerca de
125 trabalhadores em cinco barcos a operar no Douro, demarca-se do retrato
“generalizado” traçado pela PLP, recusando-se a comentar a existência das
situações relatadas noutras empresas. “Só falamos por nós”, sublinhou Ricardo
Mendes da Silva. Segundo o representante da empresa em Portugal, os
trabalhadores destes barcos “são todos efectivos” e têm um “banco de horas”
para compensar as jornadas contínuas que têm de fazer frequentemente. Vida
complicada? “O trabalho a bordo de um barco é diferente do trabalho num
escritório ou outros postos de hotelaria. É duro, sim.” Também a empresa
Barcadouro quis salientar que não se revê na "acusação generalizada"
da PLP: a empresa "não tem nem nunca teve quaisquer práticas laborais
parecidas, sequer, com aquelas que terão motivado o testemunho",
escreveram num email.
Ao longo do dia desta sexta-feira, nas redes sociais e via
email, chegaram ao PÚBLICO várias denúncias que corroboram a versão defendida
pela PLP, acentuando que , em alguns casos, as pessoas preferem preservar o
anonimato, com receio de represálias.
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