quarta-feira, 11 de março de 2020

Quero lá saber quanto é que já gastou, sra. ministra


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Coranavírus: chegou o momento de ir mais longe

Há um inimigo declarado que é preciso eliminar. E é assim que temos de encarar os próximos dias.

DAVID PONTES
12 de Março de 2020, 6:49

Quem hoje ao final da tarde fosse a um supermercado perceberia que os portugueses, limpando as prateleiras de alimentos, já interiorizaram a gravidade da crise provocada pela covid-19. No entanto, quem na mesma tarde tivesse passado pela linha de Cascais, e olhado para as praias cheias de banhistas em Março, também entenderia que há muitos outros a não querer entender a natureza do problema que vive o país e o mundo. É preciso ser claro: o açambarcamento é errado, mas o instinto dos primeiros é muito mais correcto do que a displicência dos segundos.

Ao longo das últimas semanas, temos visto a mancha do vírus a alastrar-se pelo mundo, o número de contágios e de mortos a aumentar imparável, até ultrapassar os cem mil infectados. A resposta da maioria dos países foi tentar o difícil exercício de equilíbrio entre os custos que podem representar medidas que paralisem a actividade económica e cívica e a necessidade de tentar suster ao máximo as probabilidades de contágio.

Portugal não foi diferente. Seguimos os passos dos conselhos, dos avisos às populações, de procurar isolar as cadeias de contágio, de preparar meios clínicos, de fechar instituições, até de tentar isolar localidades onde irromperam surtos mais significativos. Pelo caminho houve hesitações, declarações contraditórias, quem se adiantasse às medidas das autoridades nacionais, o que não estando isento de críticas não deixa de ser natural, porque ninguém tem um manual escrito para uma situação desta dimensão.

É chegado o momento de ir mais longe, muito mais longe. O exemplo de descontrolo de Itália, onde foram tentadas medidas mitigadoras antes de chegar à quarenta de toda a população, em contraste com o que aconteceu em Macau, onde medidas de isolamento total redundaram em fraquíssimas taxas de infecção, tem de servir de ensinamento.

Paralisar um país nunca será uma medida fácil, mas permitir que o SNS entre em total ruptura, perante o aumento previsível de casos, conduzirá a prejuízos muito semelhantes e, mais importante do que isso, a uma perda de vidas que poderia ser evitada.


Há um inimigo declarado que é preciso eliminar. E é assim que temos de encarar os próximos dias, como um conflito em larga escala contra o vírus, com todas as medidas excepcionais que são justificadas pela situação extraordinária que vivemos, adoptando medidas mais alargadas. Possa cada um dos portugueses, o seu Governo e as autoridades sanitárias estar à altura dos tempos difíceis que são já a realidade de hoje.

CORONAVÍRUS
Quero lá saber quanto é que já gastou, sra. ministra

Qual a razão para testar um Presidente da República assintomático e não testar doentes com pneumonia internados num hospital central? É deste tipo de exigência que eu falo.

JOÃO MIGUEL TAVARES
12 de Março de 2020, 6:27

No meu último artigo afirmei que o combate ao coronavírus e às suas brutais consequências na economia portuguesa seria a prova do algodão da qualidade deste governo e da capacidade de liderança de António Costa. Muita gente ficou indignada com tal declaração, por entender que não se fazem contas políticas no combate a uma pandemia – seria assim uma espécie de mesquinhice e de golpe baixo politiqueiro. É uma teoria extraordinária, esta, e também muito tonta: se a competência de um governo não se avalia em horas de urgência, avalia-se quando, exactamente? Quando a economia cresce no mundo inteiro e tudo corre de feição? Assim qualquer um serviria para primeiro-ministro.

Lamento: uma pandemia não só não justifica a suspensão do juízo crítico sobre a competência de um governo, como exige um escrutínio bem apertado sobre a liderança de todo o processo e a capacidade de controlar a propagação da doença. Isto não é uma questão de sorte ou azar. Azar teve a China, onde a epidemia nasceu, e não podia fazer grande coisa quanto a isso. Em Portugal, já é uma questão de competência. Nós sabíamos que o vírus iria chegar mais tarde ou mais cedo, pelo que a preparação do país para o enfrentar (ainda ontem o director-geral da Organização Mundial de Saúde criticou os “níveis alarmantes de inacção” em todo o mundo), e a forma como as autoridades forem capazes de limitar a sua expansão, é evidentemente matéria de avaliação política, e convém que ela seja bastante exigente.

Até agora, aquilo a que tenho assistido nestes primeiros dias de maior alarme não é especialmente reconfortante, até porque, à boa maneira portuguesa, a informação escasseia. Custa-me perceber tanta obsessão no “reforço” da linha SNS24, e tão pouco esforço no desenvolvimento de aplicações digitais que aproveitem as imensas potencialidades dos smartphones, como tem acontecido na China ou na Coreia do Sul, permitindo aos cidadãos receberem informação diferenciada (não é, de todo, igual viver na Póvoa de Varzim ou em Beja), em tempo real e de forma passiva, o que evitaria o entupimento desnecessário das velhas linhas telefónicas.

Na manhã de ontem, Marta Temido esteve no Parlamento a dizer que “as medidas aplicadas para conter a epidemia do novo coronavírus em Portugal já tiveram um impacto de 10 milhões de euros no orçamento da Saúde” e que a tutela está muito esforçadamente “a trabalhar para acomodar esta despesa”; e Graça Freitas esteve a dar uma entrevista para o podcast de Daniel Oliveira. Nada contra audições parlamentares, nem contra o podcast do Daniel Oliveira, no qual até já participei – mas será que Freitas e Temido não tinham nada de mais urgente para fazer na manhã de ontem?

Cara senhora ministra: estou-me bem nas tintas para os 10 milhões que já gastou, um valor, aliás, que me parece ridículo face à dimensão da ameaça da covid-19. É para estas ocasiões que servem os bolsos do Estado. O que eu gostava mesmo de saber é como é que as medidas de contenção falharam no Hospital de Santa Maria, onde, de repente, se descobrem doentes infectados internados há vários dias com pneumonias, comprometendo instalações e pessoal hospitalar. Importa pouco saber se são 10, 100 ou mil milhões de euros, mas importa muito saber isto: qual a razão para testar um Presidente da República assintomático e não testar doentes com pneumonia internados num hospital central? É deste tipo de exigência que eu falo; e são estas as perguntas a que é urgente responder.

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