segunda-feira, 9 de março de 2020

O Palácio Povolide, casa do Ateneu de Lisboa, já é monumento de interesse público



PATRIMÓNIO
O Palácio Povolide, casa do Ateneu de Lisboa, já é monumento de interesse público

Edifício da rua das Portas de Santo Antão é casa de um dos clubes mais antigos de Lisboa e da histórica Cervejaria Solmar. Além do prédio, também o património móvel integrado está classificado.

Cristiana Faria Moreira
Cristiana Faria Moreira 9 de Março de 2020, 14:06

Palácio sobreviveu ao terramoto, tendo sido adquirido pelo Conde de Burnay aos Condes de Valadares e Povolide

O Palácio Povolide, que desde Junho de 1895 alberga o Ateneu Comercial de Lisboa, foi reconhecido como monumento de interesse público. Segundo o despacho da secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Carvalho Ferreira, publicado em Diário da República esta segunda-feira, a classificação inclui não só o edifício da Rua das Portas de Santo Antão, mas também todo o património móvel integrado.

Este palácio sobreviveu ao terramoto, tendo sido adquirido pelo Conde de Burnay aos Condes de Valadares e Povolide. Nele encontra-se instalada, além do Ateneu, a Cervejaria Solmar que, com o seu património móvel integrado, também já está classificada como monumento de interesse público desde o ano passado.

Apesar de o edifício ter sido “profundamente” alterado nos anos de 1886-1887, manteve “uma considerável dignidade e qualidade arquitectónicas, sobretudo ao nível da fachada, onde se destaca um dos mais perfeitos e raros portais seiscentistas de Lisboa”, lê-se no despacho da secretária de Estado. “Também o interior conserva ainda vários elementos decorativos que importa manter. E, acima de tudo, conserva uma atmosfera que deve ser preservada, trazida pelo Ateneu Comercial de Lisboa que o alugou em 1895, que se encontra igualmente noutras agremiações aproximadamente da mesma época, como o Grémio Literário, o Círculo Eça de Queiroz ou a Sociedade de Geografia de Lisboa”, diz ainda o documento. Estes clubes já têm também o estatuto de “Entidade de Interesse Histórico e Cultural ou Social Local”, atribuído pela Câmara de Lisboa.

Um testemunho notável da História
Para esta decisão pesou o facto de esta centenária colectividade ser um “testemunho notável de vivências ou factos históricos, à sua extensão e ao que nela se reflecte do ponto de vista da memória colectiva e à sua importância do ponto de vista da investigação histórica ou científica”.

O Ateneu teve “um papel cultural expressivo e um papel social e desportivo muito importante”, reconheceu ao PÚBLICO a historiadora Maria João Figueiroa, a propósito de um livro sobre as histórias e memórias dos clubes e associações da freguesia de Arroios.

Quando o Ateneu Comercial de Lisboa se mudou para o 110 da Rua das Portas de Santo Antão, a associação tinha já década e meia de actividade. Criado em 1880, no âmbito das comemorações do tricentenário da morte de Camões, o Ateneu foi estando sempre ligado a vários movimentos culturais e sociais da cidade.

Nasceu pela mão de um grupo de trabalhadores do comércio, que se envolveu numa luta pela melhoria do horário de trabalho, pelo direito a ter mais dias de descanso, mas que queria também estender o acesso ao ensino e à cultura a mais pessoas, duas áreas a que acediam apenas as famílias mais abastadas.

Com o passar do tempo, o papel do Ateneu Comercial de Lisboa na cidade foi perdendo importância. Para trás ficaram os tempos dos campeonatos de xadrez, dos saraus de ginástica, da equipa de esgrima, das exposições, das tertúlias de leitura. A piscina, que era uma das principais responsáveis por ali fazer entrar dinheiro, também fechou. Existia um restaurante e bar chamado Primeiro Andar, que também fechou as portas.

O Ateneu viu-se ainda envolvido num longo processo de insolvência, que parece ter sido ultrapassado durante o Verão do ano passado, quando foi anunciado que o Palácio Povolide seria parcialmente vendido a um grupo de investidores, garantindo a recuperação do edifício histórico, mas acrescentando também uma “componente imobiliária” ao projecto.

Com esta classificação, qualquer intervenção que seja feita agora neste imóvel ficará sujeita às restrições previstas na lei e dependem da aprovação prévia da Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC).

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