PATRIMÓNIO
O Palácio
Povolide, casa do Ateneu de Lisboa, já é monumento de interesse público
Edifício da rua
das Portas de Santo Antão é casa de um dos clubes mais antigos de Lisboa e da
histórica Cervejaria Solmar. Além do prédio, também o património móvel
integrado está classificado.
Cristiana Faria
Moreira
Cristiana Faria
Moreira 9 de Março de 2020, 14:06
Palácio
sobreviveu ao terramoto, tendo sido adquirido pelo Conde de Burnay aos Condes
de Valadares e Povolide
O Palácio
Povolide, que desde Junho de 1895 alberga o Ateneu Comercial de Lisboa, foi
reconhecido como monumento de interesse público. Segundo o despacho da
secretária de Estado Adjunta e do Património Cultural, Ângela Carvalho
Ferreira, publicado em Diário da República esta segunda-feira, a classificação
inclui não só o edifício da Rua das Portas de Santo Antão, mas também todo o património
móvel integrado.
Este palácio
sobreviveu ao terramoto, tendo sido adquirido pelo Conde de Burnay aos Condes
de Valadares e Povolide. Nele encontra-se instalada, além do Ateneu, a
Cervejaria Solmar que, com o seu património móvel integrado, também já está
classificada como monumento de interesse público desde o ano passado.
Apesar de o edifício
ter sido “profundamente” alterado nos anos de 1886-1887, manteve “uma
considerável dignidade e qualidade arquitectónicas, sobretudo ao nível da
fachada, onde se destaca um dos mais perfeitos e raros portais seiscentistas de
Lisboa”, lê-se no despacho da secretária de Estado. “Também o interior conserva
ainda vários elementos decorativos que importa manter. E, acima de tudo,
conserva uma atmosfera que deve ser preservada, trazida pelo Ateneu Comercial
de Lisboa que o alugou em 1895, que se encontra igualmente noutras agremiações
aproximadamente da mesma época, como o Grémio Literário, o Círculo Eça de
Queiroz ou a Sociedade de Geografia de Lisboa”, diz ainda o documento. Estes
clubes já têm também o estatuto de “Entidade de Interesse Histórico e Cultural
ou Social Local”, atribuído pela Câmara de Lisboa.
Um testemunho
notável da História
Para esta decisão
pesou o facto de esta centenária colectividade ser um “testemunho notável de
vivências ou factos históricos, à sua extensão e ao que nela se reflecte do
ponto de vista da memória colectiva e à sua importância do ponto de vista da
investigação histórica ou científica”.
O Ateneu teve “um
papel cultural expressivo e um papel social e desportivo muito importante”,
reconheceu ao PÚBLICO a historiadora Maria João Figueiroa, a propósito de um
livro sobre as histórias e memórias dos clubes e associações da freguesia de
Arroios.
Quando o Ateneu
Comercial de Lisboa se mudou para o 110 da Rua das Portas de Santo Antão, a
associação tinha já década e meia de actividade. Criado em 1880, no âmbito das
comemorações do tricentenário da morte de Camões, o Ateneu foi estando sempre
ligado a vários movimentos culturais e sociais da cidade.
Nasceu pela mão
de um grupo de trabalhadores do comércio, que se envolveu numa luta pela
melhoria do horário de trabalho, pelo direito a ter mais dias de descanso, mas
que queria também estender o acesso ao ensino e à cultura a mais pessoas, duas
áreas a que acediam apenas as famílias mais abastadas.
Com o passar do
tempo, o papel do Ateneu Comercial de Lisboa na cidade foi perdendo
importância. Para trás ficaram os tempos dos campeonatos de xadrez, dos saraus
de ginástica, da equipa de esgrima, das exposições, das tertúlias de leitura. A
piscina, que era uma das principais responsáveis por ali fazer entrar dinheiro,
também fechou. Existia um restaurante e bar chamado Primeiro Andar, que também
fechou as portas.
O Ateneu viu-se
ainda envolvido num longo processo de insolvência, que parece ter sido
ultrapassado durante o Verão do ano passado, quando foi anunciado que o Palácio
Povolide seria parcialmente vendido a um grupo de investidores, garantindo a
recuperação do edifício histórico, mas acrescentando também uma “componente
imobiliária” ao projecto.
Com esta
classificação, qualquer intervenção que seja feita agora neste imóvel ficará
sujeita às restrições previstas na lei e dependem da aprovação prévia da
Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC).
Sem comentários:
Enviar um comentário