segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

SPD reabre discussão sobre limite de velocidade nas auto-estradas alemãs

Na Holanda desenvolvem-se os planos para baixar universalmente a velocidade limite máxima para os 100 kms

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SPD reabre discussão sobre limite de velocidade nas auto-estradas alemãs

Emergência climática é argumento para a medida que divide os partidos da coligação no Governo. Outra tradição alemã que pode sofrer com a protecção ao clima é o lançamento de foguetes e fogos de artifício sem limites no final do ano.

Maria João Guimarães
Maria João Guimarães 30 de Dezembro de 2019, 7:00

A questão do limite de velocidade nas auto-estradas alemãs voltou ao debate público, com o Partido Social Democrata (SPD) a defender a introdução de um limite máximo geral de 130 km/h e o ministro dos Transportes, da CSU (conservadores bávaros) a rejeitar esta hipótese.

A questão já esteve em cima da mesa no ano passado por iniciativa do partido os Verdes, já que automóveis a andar com velocidades muito altas implicam um maior gasto de combustível.

Mas com a maior importância dada às alterações climáticas, agora foi o SPD quem voltou à carga. “Vamos voltar a falar disto”, disse Saskia Esken, nova co-líder do partido. “Um limite de velocidade nas nossas auto-estradas é bom para a protecção do clima, para a segurança, e para os nervos dos condutores”, enumerou, acrescentando que fora da Alemanha é normal haver um limite de velocidade geral. “Só a CSU é que faz tanto barulho por causa disso”, acusou.

O ministro dos Transportes, Andreas Scheuer, afastou a ideia. “Temos tarefas muito mais importantes do que voltar a esta questão extremamente emocional”, declarou. Além disso, acrescentou, cerca de 30% das auto-estradas têm algum tipo de limite (por terem registado mais acidentes ou terem muito volume de tráfego).

Em defesa de um limite, o diário Tageszeitung lembrava que em 2018 morreram 383 pessoas nas auto-estradas alemãs, e mais de 20 mil ficaram feridas em acidentes. O Süddeutsche Zeitung mencionava uma media de três mortos por cada 100 km de auto-estrada na Alemanha, acima dos valores do Reino Unido, Holanda, Suécia, Dinamarca, Finlândia e França.

Em Outubro, uma iniciativa dos Verdes para estabelecer um limite de velocidade geral falhou, obtendo apenas 126 votos a favor no Parlamento, e 498 contra. O SPD, como parte da coligação do Governo, seguiu a linha de voto contra. Mas entre as medidas que a nova liderança do partido, saída de uma votação dos seus membros, quer discutir com os seus parceiros de coligação está o limite de velocidade.

Uma das maiores organizações ambientais da Alemanha, a DUH (que é também responsável pelos processos em tribunal pela proibição do diesel nos centros de algumas cidades alemãs que têm níveis de poluição acima do permitido) tem apelado à introdução de um limite de 120 Km/h nas auto-estradas e de 80 km/h nas estradas nacionais (estas têm hoje um limite de 100 Km/h). Esta mudança levaria, segundo os cálculos da DUH, a cortar a emissão de até cinco milhões de toneladas de CO2 (o total anual do sector são 165 milhões de toneladas). A Holanda está a programar uma redução semelhante dos limites de velocidade com o mesmo objectivo.

O político do SPD Ralf Stegner apelou à CSU e a Scheuer que deixem esta posição “teimosa”, argumentando que “em toda a Europa, e em quase todos os países civilizados, há um limite máximo de velocidade”. Na União Europeia, os limites vão de 110 a 140 Km/h.

Em declarações ao jornal Handelsblatt, Stegner apela ao ministro que admita dar este passo “pequeno, mas supostamente fácil, para a protecção do ambiente”.

Supostamente fácil: porque o poder acelerar em troços de auto-estrada sem limites é algo muito apreciado na Alemanha, país produtor de automóveis velozes que têm um forte lobby para manter a possibilidade de andar sem limites, como sublinha o diário Süddeutsche Zeitung.

Fogo de artifício no final do ano
Se os alemães são conhecidos pela sua observação de regras, há duas grandes excepções permitidas pela lei, e uma é precisamente a possibilidade de andar sem limites em muitas das auto-estradas (a outra é poder disparar fogos de artifício e foguetes nas celebrações do ano novo).

Mas uma sondagem da estação de televisão pública ARD mostrou alguma abertura à mudança: de 53% a 45% dos alemães diziam ser a favor de um limite máximo de 130 km/h.

Quanto ao fogo-de-artifício e foguetes, esta é outra tradição ameaçada pela protecção do ambiente.

Durante o ano, foguetes e fogo-de-artifício só se podem comprar com licenças, mas nos últimos três dias do ano aparecem em quantidade nos supermercados e é possível comprá-los sem limites, apenas mostrando identificação. Mas não há um registo de quantidades compradas, o que leva a saber-se de casos como no ano passado, quando um homem de 23 anos de Hamburgo comprou 850 quilos de fogo-de-artifício antes da passagem de ano. Tinha a casa, cave e duas carrinhas cheias, e a polícia apenas soube porque foi alertada por vizinhos.

Durante um curto espaço de tempo, é possível disparar estes foguetes e fogo-de-artifício sem grandes limites. O que leva a autênticas batalhas em algumas zonas de algumas cidades do país. O hospital Charité em Berlim, por exemplo, reforça os médicos especialistas em cirurgia oftalmológica e em queimaduras nos serviços de emergência nessa altura do ano.

Algumas ruas ficam cheias de destroços e as associações ambientais como a DUH chamam a atenção para o nível de partículas no ar por causa da pirotecnia. Este ano, cidades como Berlim ou Hamburgo proibiram o disparo destes engenhos em algumas zonas durante os festejos de ano novo.

Também aqui a disposição dos alemães parece estar a mudar: uma sondagem do instituto YouGov para o grupo de media RND diz que 57% dos inquiridos são a favor de uma proibição dos foguetes e fogo-de-artifício.

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