domingo, 15 de dezembro de 2019

Guterres "decepcionado" com cimeira do clima pede que ninguém se renda / Alterações climáticas. Não temos 12 anos para minimizar os efeitos, mas apenas 18 meses, por António Sérgio Rosa de Carvalho



Guterres "decepcionado" com cimeira do clima pede que ninguém se renda

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, está "dececionado com os resultados" da cimeira sobre o clima (COP25), mas apelou aos países que continuem a lutar contra a crise climática sem se "renderem".

António Guterres pede aos países para não se "renderem" depois de não terem chegado a acordo em todos

Lusa
15 Dezembro 2019 — 14:56

"Acomunidade internacional perdeu uma oportunidade importante para mostrar uma maior ambição na mitigação e adaptação para enfrentar a crise climática", lamentou António Guterres, no final da cimeira da ONU sobre o clima que terminou este domingo em Madrid, dois dias depois do previsto.

No encontro, os países conseguiram chegar a acordo quanto à urgência para conter as alterações climáticas, mas não houve consenso quanto aos pontos essenciais. Por exemplo, as regras dos mercados internacionais de carbono foi um dos assuntos adiado para o próximo ano.

"Não devemos render-nos", apelou o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), numa declaração escrita citada pela agência de notícias espanhola EFE.

António Guterres destacou que "está mais do que decidido" que 2020 será "o ano em que todos os países se comprometem a fazer o que a ciência" diz: é necessário ser neutro em carbono até 2050 e a "não ir mais além dos 1,5 graus de aumento da temperatura do planeta".

A 25.ª cimeira do clima, a maior de toda a história, começou a 2 de dezembro e deveria ter terminado na sexta-feira, mas apenas hoje (15 de dezembro) os trabalhos foram encerrados com a aprovação do documento "Chile-Madrid, Hora de Agir".

A regulação dos mercados de carbono foi um dos temas mais debatidos durante a COP25 e, inicialmente, estava incluído no documento final, mas decidiu-se debatê-lo em separado.

O novo acordo pede um aumento da ambição dos compromissos de luta contra as alterações climáticas e apresenta várias medidas que têm como objetivo apoiar os países mais vulneráveis.

São dadas diretrizes ao Fundo Verde do Clima para destinarem recursos para perdas e danos dos países mais vulneráveis aos fenómenos climáticos, assim como é pedido aos países desenvolvidos que apoiem financeiramente os mais frágeis.

Além disso, cria-se a "Rede Santiago", que permite canalizar assistência técnica de organizações e especialistas para esses mesmos países mais vulneráveis.

Na COP25 foram mobilizados 89 milhões de dólares (80 milhões de euros), provenientes de diversos países para o Fundo de Adaptação e mais de 80 países anunciaram que apresentarão em 2020 compromissos de luta contra as alterações climáticas mais ambiciosos do que os atuais.

O número de multinacionais comprometidas com a neutralidade carbónica (não produzir mais emissões de gases com efeito de estufa do que aquelas que tem capacidade de fazer desaparecer) em 2050 passou de 90, na cimeira de Nova Iorque, em setembro passado, para 117 na cimeira de Madrid.


O número de grandes cidades comprometidas com a neutralidade passou de uma centena, na cimeira de Nova Iorque, para 398, na COP25. O número de países comprometidos com a neutralidade carbónica passou de 66 para 73




OPINIÃO
Alterações climáticas. Não temos 12 anos para minimizar os efeitos, mas apenas 18 meses

Este Verão a Europa de Norte sentiu directamente e de forma extrema os efeitos indiscutíveis do aquecimento global, e no entanto, ao contrário de um momento de consciencialização e de gravitas, a festa hedonista dos eventos permanentes nas cidades, das viagens low cost e das viagens do turismo de massas não abrandou.

António Sérgio Rosa de Carvalho
6 de Agosto de 2019, 22:22

Isto afirmou o príncipe Carlos, para muitos um desconhecido no seu tenaz e coerente percurso, desde a adolescência, de defensor do ambiente, durante o seu discurso oficial de liderança, perante os ministros dos negócios estrangeiros dos países da Comonwealth.

Durante a recente visita oficial de Trump ao Reino Unido, estava programada uma visita a Clarence House, residência do Príncipe e de Camilla, Duquesa de Cornwall. Esta visita deveria durar 15 minutos, mas prolongou-se por 75 minutos, pois o príncipe aproveitou a oportunidade para tentar sensibilizar e convencer Trump, esse negacionista militante, da gravidade e urgência daquilo que constitui o maior desafio que a Humanidade e a Civilização, enfrentou até agora. As alterações climáticas.

O famoso relatório do IPCC, sr15, do ano passado afirma categoricamente que para manter o aumento da temperatura no limite do 1,5 graus, é imperativo reduzir as emissões de dióxido de carbono em 45% até 2030 e que a total neutralidade carbónica, com zero emissões seja atingida em 2050. Trump e a Arábia Saudita, juntamente com o Kuwait e a Rússia, têm boicotado abertamente as conclusões do Acordo de Paris.

Os Governos nada têm feito no seguimento de Paris (2015) e como as coisas estão agora vamos em direcção a um aumento de 3 graus o que corresponde a um cataclismo futuro de proporções bíblicas. Tendo em conta o tempo de planeamento das nações entre períodos de 5 ou 10 anos o limite extremo para verdadeiras decisões é realmente 2020.

A próxima data fundamental é a de 23 de Setembro. Nesta data António Guterres espera os representantes das nações do mundo para uma Cimeira decisiva sobre os desafios do Clima. Seguem-se as cimeiras COP25 no Chile e a COP26 no Reino Unido nos finais de 2020.

Mas este momento decisivo nos finais de 2020, apesar da intenção anunciada oficialmente pelo Reino Unido de zero emissões a 2050, vai ser profundamente complicado pelo tumulto caótico do “Brexit” que ameaça desintegrar o próprio Reino Unido, através de uma independência da Escócia, do País de Gales e da transformação da Irlanda num país único, pela união das duas Irlandas.

Apenas um outro exemplo, ilustrativo da frustração que o príncipe Carlos sentirá, tal como todos nós, perante a actual destruição da Amazónia por Bolsonaro. Em 2007, Carlos lança o The Prince's Rainforests Project dirigido à protecção total da Amazónia, da sua biodiversidade e das suas populações índias. Este último santuário natural e ecológico, agora mais do que nunca, pertence ao mundo.

Na Amazónia, após uma redução de 80% na taxa de desflorestação entre 2006 e 2012, neste momento, sobre Bolsonaro, o desmatamento está a tomar lugar a um ritmo de três campos de futebol por minuto. Ou seja um aumento de 62% em comparação com o mesmo período no ano passado. Bolsonaro acaba de despedir o director do Instituto responsável pelos relatórios por satélite, que confirmaram o ritmo de desflorestação. A Amazónia está a atingir o ponto limite de destruição e de não retorno.

A União Europeia tem a intenção de assinar um Acordo Comercial com a Mercosul, isto, enquanto as populações indígenas são mortas por garimpeiros e o mundo agrário Brasileiro tem a intenção de transformar a Amazónia numa imensa área de produção de carne, de soja e óleo de palma, com as conhecidas e inaceitáveis consequências ambientais.

Estamos portanto no momento decisivo para a civilização e a humanidade nunca enfrentou tamanho desafio tal como príncipe Carlos afirmou no seu discurso de abertura do Acordo de Paris.

Este Verão a Europa de Norte sentiu directamente e de forma extrema os efeitos indiscutíveis do aquecimento global, e no entanto, ao contrário de um momento de consciencialização e de gravitas, a festa hedonista dos eventos permanentes nas cidades, das viagens low cost e das viagens do turismo de massas não abrandou, numa última dança sobre o vulcão, ao som da orquestra do Titanic.

Historiador de Arquitectura

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