FAMÍLIA REAL
BRITÂNICA
Annus horribilis
II? A rainha Isabel II vai reflectir sobre outro ano difícil
O marido perdeu a
carta por se envolver num acidente de viação, os netos desentenderam-se
publicamente, e o filho André teve de abdicar das funções reais por se ver nas
malhas do escândalo de abusos sexuais de Jeffrey Epstein.
Michael Holden/Reuters 22 de Dezembro de 2019, 20:30
Quando a rainha
Isabel II do Reino Unido fizer o seu discurso de dia de Natal à nação, encerra
um dos anos mais difíceis do seu longo reinado.
Nos últimos 12
meses, o marido recebeu um aviso da polícia por ter estado envolvido num
acidente, os netos William e Harry desentenderam-se publicamente e o terceiro
filho, André, ficou ainda mais emaranhado no escândalo sobre a sua ligação a
Jeffrey Epstein, o financeiro americano caído em desgraça por cometer abusos
sexuais.
Em 1992, quando a
rainha falou em annus horribilis, referia-se ao colapso dos casamentos de três
dos seus filhos – incluindo o do príncipe Carlos, o herdeiro, casado com a
princesa Diana – e o incêndio que danificou seriamente o seu castelo de
Windsor. “Obviamente, ela não vai usar a mesma frase”, diz Junor, “mas suspeito
que em muitos aspectos este ano foi pior”.
Em Janeiro, o
marido de 98 anos de Isabel I, Filipe, esteve envolvido num acidente em
Sandringham, a propriedade da família no leste de Inglaterra. Teve que abdicar
da sua carta de condução depois de a polícia lhe ter dado um aviso por conduzir
sem cinto de segurança.
O neto Herry e a
sua mulher Americana, Meghan, enfrentaram histórias cada vez mais hostis na
imprensa, culminando com um processo aberto pelo casal contra contra uma série
de tablóides. Harry também disse que ele e o irmão se tinham afastado, sem dar
pormenores.
A própria rainha
envolveu-se num imbróglio político devido ao “Brexit”, a saída do Reino Unido
da União Europeia, ao suspender o Parlamento em Setembro a pedido do
primeiro-ministro Boris Johnson, o que foi considerado inconstitucional pela
mais alta instância judicial do país.
Mas a maior carga
negativa foi provocada pela ligação de André a Epstein, e às acusações de que o
príncipe teve relações sexuais com uma adolescente de 17 anos.
A entrevista do
filho da rainha deu à BBC em Novembro, negando a acusação e ter tido qualquer
comportamento impróprio, foi considerado pelos media britânicos como um
desastre, o que levou a afastar-se da vida pública.
Porém, o ano pode
não se saldar num completo desastre.
“A maior parte
das pessoas vão olhar para 2019 como um ano não muito bom para a instituição
monárquica, mas a rainha sai-se bastante bem”, diz Dickie Arbiter, secretário
de imprensa da rainha de 1988 a 2000. “A monarquia evoluiu ao longo de mil
anos. Teve muita coisa contra ela, mas sobreviveu. Sobreviveu a 1992 e
sobreviveu à abdicação [de Eduardo VIII] em 1936, e vai sobreviver a 2019”.
Alguns dizem
mesmo que a família pode, eventualmente, emergir mais forte – e que os traumas
deste ano podem criar as fundações para uma mudança para uma família real com
menos membros, que é um velho desejo do futuro rei, o príncipe Carlos.
O herdeiro foi
uma peça fundamental para o afastamento de André, que efectivamente foi
despedido do seu emprego, diz o historiador especializado em família real
Robert Lacey.
“De alguma forma,
é uma tragédia, mas é uma mais valia ver Carlos a ter um papel positive nos
acontecimentos”, acrescenta Lacey, que foi consultor na popular série da Netfix
The Crown. “Ao fim de 20 anos, Carlos está finalmente a conseguir impor a sua
vontade”.
Para assinalar os
50 anos de reinado de Isabel II, em 2002, mais de uma dezena de membros da
família real apareceram na varanda do Palácio de Buckingham. Uma década depois,
estavam lá apenas a rainha, o marido, Carlos e a mulher Camila, e os filhos deste,
William, com a mulher Kate, e Harry.
Para Lacey, se
André dominou as notícias nos jornais e nos noticiários, ofuscando mesmo a dado
momento as recentes eleições legislativas, a decisão do Supremo Tribunal em
Setembro teve mais significado, já que provavelmente proclamou o fim das poucas
prerrogativas que restavam à monarquia e questionando o seu papel
constitucional no futuro.
“Pode ter
reduzido o monarca a um papel essencialmente cerimonial”, diz Lacey.
“Este inédito
envolvimento do Supremo Tribunal não questiona a existência da monarquia – por
enquanto. Mas se certas decisões e prerrogativas vão passar a ser controladas,
ou retiradas, porque razão tem o primeiro-ministro que continuar a ir falar
semanalmente com a rainha?”, questiona o especialista.
Já se viu que vai
haver muito que conversar à mesa de Natal da família real – que se chamam a si
próprios A Firma -, que se reúne em Sandringham na semana que vem.
Uma das pessoas
com cujo apoio podem contar é o arcebispo de Cantuária, Justin Welby, líder
espiritual de 80 milhões de anglicanos. “Penso que não podemos esperar que eles
sejam santos sobre-humanos porque ninguém é assim”, disse numa entrevista à The
Big Issue, uma revista que ajuda os sem-abrigo.
“Todos cometem
erros, todos são humanos. Não faço comentários sobre os membros da família
real, mas posso dizer que estou abismado com a dádiva deles a este país”.
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