Maria Flor
Pedroso demite-se da RTP
Em causa estão as
polémicas relacionadas com o programa Sexta às 9.
PÚBLICO e Lusa 16
de Dezembro de 2019, 12:09
A directora de
informação da RTP, Maria Flor Pedroso, demitiu-se nesta segunda-feira do cargo,
confirmou a estação pública em comunicado.
Flor Pedroso
colocou o seu lugar à disposição, por “considerar que, face aos danos
reputacionais causados à RTP, não tem condições para a prossecução de um
trabalho sério, respeitado e construtivo, como sempre tem feito”, escreve o
Conselho de Administração da estação. “Após auscultação dos motivos
apresentados pela directora e exclusivamente por esses motivos”, o Conselho de
Administração considera não ter “outra alternativa que não seja aceitar essa
decisão”.
O Conselho de
Administração elogia a “idoneidade e currículo irrepreensível” de Flor Pedroso
e a “linha editorial” “assente num jornalismo objectivo e rigoroso, livre e
independente”, em “absoluto contraste com a crescente tendência para um
jornalismo populista e sensacionalista que repudiamos veementemente e que é
imperativo combater”.
“O Conselho de
Administração nomeará em breve uma nova direcção à qual continuará a exigir a
implementação das melhores práticas, para que o jornalismo feito pela RTP seja
o mais complexo, o mais sério, o mais credível e o mais isento, ao total de
serviço do público”, conclui a nota.
O que explica a
demissão de Maria Flor Pedroso?
O Conselho de
Redacção da RTP tinha convocado para esta segunda-feira um plenário de
jornalistas sobre o conflito entre a equipa do Sexta às 9, coordenado pela
jornalista Sandra Felgueiras, e a directora de informação da televisão pública,
Maria Flor Pedroso.
Em causa está um
relato feito pela coordenadora do programa, em 11 de Dezembro, numa reunião com
o Conselho de Redacção a propósito do programa sobre o lítio, em que adiantou
que o Sexta às 9 estava a investigar suspeitas de corrupção no âmbito do
processo de encerramento do Instituto Superior de Comunicação Empresarial
(ISCEM), que passava pelo alegado recebimento indevido de “dinheiro vivo”.
Nesse âmbito,
Sandra Felgueiras acusou Maria Flor Pedroso de ter transmitido informação
privilegiada à visada na reportagem (a directora do ISCEM, Regina Moreira).
Depois da intervenção de Flor Pedroso, o programa televisivo cancelou a
reportagem. Segundo Maria Flor Pedroso, tratou-se apenas de uma tentativa de
“ajudar” a investigação.
As críticas de
Sandra Felgueiras são rejeitadas “liminarmente” pela directora de Informação,
de acordo com as actas do Conselho de Redacção e com a posição enviada à
redacção por Maria Flor Pedroso na passada sexta-feira, a que o PÚBLICO teve
acesso.
Numa nota enviada
ao PÚBLICO, na sexta-feira, a direcção de informação da RTP explica que Maria
Flor Pedroso foi docente de jornalismo radiofónico no instituto desde 2006. No
final de uma “reunião de docentes”, no dia 8 de Outubro, foi interpelada por
Regina Moreira, “dando-lhe conta de que tinha recebido vários contactos e
chamadas do Sexta às 9 com um pedido de entrevista que ela não queria dar”.
Numa tentativa de defender “os interesses da RTP” perante a “reiterada recusa
da entrevista”, Maria Flor Pedroso sugeriu que a directora do ISCEM respondesse
por escrito “sem, nunca, a ter informado da investigação do Sexta às 9”.
De acordo com a
convocatória do Conselho de Redacção da RTP, os membros do órgão consideram que
“a gravidade dos acontecimentos revelados obriga à auscultação de todos os
elementos da redacção”, pelo que é convocado um plenário de jornalistas para
hoje com um único ponto da ordem de trabalhos: “situação DI [direcção de
informação]/Sexta às 9”.
Mais de 130
jornalistas com Maria Flor Pedroso
Até às 18h de
domingo, mais de 130 jornalistas tinham subscrito um abaixo-assinado em defesa
de Maria Flor Pedroso, uma iniciativa que arrancou na sexta-feira e conta com
nomes de profissionais de várias gerações e meios, desde Adelino Gomes,
Henrique Monteiro, Anabela Neves, Francisco Sena Santos, Rita Marrafa de
Carvalho, São José Almeida ou Sérgio Figueiredo.
“Confrontados com
o grave ataque público à integridade profissional da jornalista Maria Flor
Pedroso, os jornalistas abaixo-assinados não podem deixar de tomar posição em
sua defesa, independentemente das questões internas da empresa onde é directora
de informação, que manifestamente nos ultrapassam”, referem os 133 jornalistas
que subscrevem o documento.
No
abaixo-assinado, com quatro pontos, os jornalistas – de várias redacções –
apontam que “Maria Flor Pedroso é jornalista há mais de 30 anos, sem mácula”,
uma “jornalista exemplar” e “reconhecida e respeitada pelos pares”.
Os subscritores
defendem que a directora de informação da RTP “é uma das mais sérias
profissionais do jornalismo português”, tendo chegado “por mérito ao cargo que
actualmente ocupa”.
Maria Flor
Pedroso é “defensora irredutível do jornalismo livre, rigoroso”, “sem cedências
ao mediatismo, a investigações incompletas, ou à pressão de poderes de qualquer
natureza”, sublinham no abaixo-assinado.
Recordam ainda
que a profissional “foi escolhida pelos pares para presidir à Comissão
Organizadora do 4.° Congresso dos Jornalistas Portugueses, uma iniciativa que
se revelou um marco na discussão dos problemas da profissão”.
Maria Flor
Pedroso “é frontal”, “rejeita favores” e “nunca foi acusada de mentir”,
salientam no seu abaixo-assinado.
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