Para onde vão as trotinetas
Lisboa está transformada num autêntico circo, num
laboratório experimental onde tudo o que aparece de novidade deve ser por aqui
testado, só para darmos esses ares de modernices muito apanágio das nossas
gentes
12/07/2019
José Paulo do Carmo
Na rua onde moro, em Campo de Ourique, existem pelo menos
dois invisuais. Esta semana deparei-me com um deles, já de noite, a tropeçar
numa das trotinetas que deixam habitualmente nos passeios. Felizmente que não
caiu e conseguiu contornar o objeto com a ajuda de um simpático vizinho que
passava ao lado. Como se já não bastasse a falta de estacionamento, que faz com
que os carros, nesta zona da cidade, aproveitem as passadeiras para descansar
enquanto os seus proprietários vão dormir, com a conivência da polícia, que
fecha os olhos durante a noite, agora temos também esta mistura entre um
triciclo e uma mota para abandalhar e complicar ainda mais aquilo que é já de
si um caos.
Dizem que é moderno. Que temos de nos habituar. Mas a
verdade é que Lisboa está transformada num autêntico circo, num laboratório
experimental onde tudo o que aparece de novidade deve ser por aqui testado, só
para darmos esses ares de modernices muito apanágio das nossas gentes. A
verdade é que, depois da invasão dos tuk-tuks, que na Tailândia e em Moçambique
são sinónimo de falta de dinheiro para ter um carro mas aqui são sinónimo de
diferenciação, vemos agora estes novos veículos a motor fazer as delícias dos
turistas mais jovens e dos que por cá habitam e o usam para pequenas
distâncias.
O problema é que licenciaram o uso das trotinetas primeiro e
esqueceram-se das regras, deixando-as para depois. E é veros seus condutores no
meio da estrada, a ultrapassar pela direita e pela esquerda, nos passeios ou
nas ciclovias, tudo vale. Sem capacete, sem proteções e sem o mínimo de noção
do perigo que acarretam para eles próprios. Através de um dispositivo de
localização é permitido deixar as trotinetas em qualquer lado, no meio do
passeio ou à frente de portas e portões, o que leva ao desespero de muitos.
Todos os dias é posta em causa a segurança dos peões, sobretudo dos idosos e
daqueles que têm mobilidade reduzida. Uma anarquia total sem o mínimo de
respeito pelo Código da Estrada, uns em contramão, outros a fazer rotundas ao
contrário e a jogar à apanhada entre amigos, uns atrás dos outros pela estrada
e fora dela.
Este problema já tem meses e ninguém faz nada. Não quero com
isto acabar com as ditas ou com qualquer outro meio de transporte. Aquilo que é
importante é assegurar a segurança das pessoas e a organização da própria
cidade. Não pode ser só taxar e ver os cifrões que estas empresas pagam e nada
fazer quanto ao triste espetáculo a que assistimos todos os dias nas ruas. Já
há, aliás, modelos ilegais a circular em Lisboa que podem atingir velocidades
próximas dos 90 km/hora, o que se torna um verdadeiro perigo para todos. É
verdade que são mais ecológicas e que acabam por ser uma alternativa engraçada
para deslocações curtas e para uma visita a certas zonas, mas é preciso definir
estacionamentos, perceber que é fundamental o uso do capacete e regulamentar o
seu uso mediante o Código da Estrada. Senão, qualquer dia corremos o risco de
qualquer um poder utilizar o que quer e será fácil de imaginar o que vai ser
das ruas, sabendo da criatividade existente por aí…
As novas formas de mobilidade são um escape ao trânsito cada
vez mais intenso que se faz sentir e percebe-se a adesão cada vez maior, mas o
tema dos seguros, da segurança e da urbanidade tem de ser discutido para que os
centros das cidades não virem feiras populares.
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