sábado, 13 de julho de 2019

Para onde vão as trotinetas



Para onde vão as trotinetas

Lisboa está transformada num autêntico circo, num laboratório experimental onde tudo o que aparece de novidade deve ser por aqui testado, só para darmos esses ares de modernices muito apanágio das nossas gentes

12/07/2019
José Paulo do Carmo

Na rua onde moro, em Campo de Ourique, existem pelo menos dois invisuais. Esta semana deparei-me com um deles, já de noite, a tropeçar numa das trotinetas que deixam habitualmente nos passeios. Felizmente que não caiu e conseguiu contornar o objeto com a ajuda de um simpático vizinho que passava ao lado. Como se já não bastasse a falta de estacionamento, que faz com que os carros, nesta zona da cidade, aproveitem as passadeiras para descansar enquanto os seus proprietários vão dormir, com a conivência da polícia, que fecha os olhos durante a noite, agora temos também esta mistura entre um triciclo e uma mota para abandalhar e complicar ainda mais aquilo que é já de si um caos.

Dizem que é moderno. Que temos de nos habituar. Mas a verdade é que Lisboa está transformada num autêntico circo, num laboratório experimental onde tudo o que aparece de novidade deve ser por aqui testado, só para darmos esses ares de modernices muito apanágio das nossas gentes. A verdade é que, depois da invasão dos tuk-tuks, que na Tailândia e em Moçambique são sinónimo de falta de dinheiro para ter um carro mas aqui são sinónimo de diferenciação, vemos agora estes novos veículos a motor fazer as delícias dos turistas mais jovens e dos que por cá habitam e o usam para pequenas distâncias.

O problema é que licenciaram o uso das trotinetas primeiro e esqueceram-se das regras, deixando-as para depois. E é veros seus condutores no meio da estrada, a ultrapassar pela direita e pela esquerda, nos passeios ou nas ciclovias, tudo vale. Sem capacete, sem proteções e sem o mínimo de noção do perigo que acarretam para eles próprios. Através de um dispositivo de localização é permitido deixar as trotinetas em qualquer lado, no meio do passeio ou à frente de portas e portões, o que leva ao desespero de muitos. Todos os dias é posta em causa a segurança dos peões, sobretudo dos idosos e daqueles que têm mobilidade reduzida. Uma anarquia total sem o mínimo de respeito pelo Código da Estrada, uns em contramão, outros a fazer rotundas ao contrário e a jogar à apanhada entre amigos, uns atrás dos outros pela estrada e fora dela.

Este problema já tem meses e ninguém faz nada. Não quero com isto acabar com as ditas ou com qualquer outro meio de transporte. Aquilo que é importante é assegurar a segurança das pessoas e a organização da própria cidade. Não pode ser só taxar e ver os cifrões que estas empresas pagam e nada fazer quanto ao triste espetáculo a que assistimos todos os dias nas ruas. Já há, aliás, modelos ilegais a circular em Lisboa que podem atingir velocidades próximas dos 90 km/hora, o que se torna um verdadeiro perigo para todos. É verdade que são mais ecológicas e que acabam por ser uma alternativa engraçada para deslocações curtas e para uma visita a certas zonas, mas é preciso definir estacionamentos, perceber que é fundamental o uso do capacete e regulamentar o seu uso mediante o Código da Estrada. Senão, qualquer dia corremos o risco de qualquer um poder utilizar o que quer e será fácil de imaginar o que vai ser das ruas, sabendo da criatividade existente por aí…

As novas formas de mobilidade são um escape ao trânsito cada vez mais intenso que se faz sentir e percebe-se a adesão cada vez maior, mas o tema dos seguros, da segurança e da urbanidade tem de ser discutido para que os centros das cidades não virem feiras populares.

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