O senhor que se
segue no urbanismo em Lisboa
Ricardo Veludo já
era colaborador na área da habitação da autarquia e coordenava agora o programa
Renda Acessível.
Sebastião Almeida
31 de Julho de 2019, 19:10
Ricardo Veludo,
47 anos, coordenador da equipa de missão do Programa Lisboa Renda Acessível,
apresentado pela Câmara de Lisboa desde 2016, assume agora o pelouro do
Planeamento, Urbanismo, Património e Obras Municipais, substituindo Manuel
Salgado no cargo.
O programa de
ajuda à habitação da câmara prevê parcerias entre o município e o sector
privado. Cabe à autarquia disponibilizar terrenos e edifícios na sua posse,
enquanto os privados ficam com a missão de os construir e reabilitar. As rendas
são aprovadas e fixadas pela câmara e as habitações atribuídas através de
sorteio.
Fernando Nunes da
Silva, antigo vereador da Mobilidade da câmara de Lisboa, fala do novo vereador
municipal como “um dos bons alunos de Engenharia do Território, na área do
Planeamento e do Urbanismo” do Instituto Superior Técnico. Integrou, durante os
últimos dois mandatos, o pelouro da Habitação na cidade.
Antes de herdar
os pelouros de Manuel Salgado, foi colaborador directo na área do Urbanismo e
Transporte, durante o mandato de Nunes da Silva, entre 2009 e 2013.
O também professor no Departamento de
Engenharia Civil do Instituto Superior Técnico fala de Veludo como “alguém que
conhece bem os meandros do imobiliário” e que está “particularmente habilitado
a impedir que o planeamento urbano e a legislação sejam trapaceadas”.
Sobre o cargo que
Ricardo Veludo assume agora, Nunes da Silva afirma que o novo vereador do
Urbanismo em Lisboa “herda uma pesada herança”.
“Ninguém chega a estes lugares sem assumir alguns compromissos”, frisa.
O ex-vereador espera que esta “mudança corresponda a um virar de página no
urbanismo da cidade de Lisboa”.
Manifesto Lisboa
Precisa é apresentado hoje contra “desmandos urbanísticos” na capital
29.07.2019 às
13h07
Manifesto com
mais de 70 signatários arrasa a situação do urbanismo e a especulação
imobiliária em Lisboa e exige um Plano Especial de Recuperação da Cidade
O manifesto
Lisboa Precisa, que reúne mais de 70 signatários contra a situação do urbanismo
e a especulação imobiliária na capital, será apresentado esta segunda-feira no
Fórum Lisboa, sede da Assembleia Municipal.
A iniciativa
surgiu após uma “conversa espontânea” entre Fernando Nunes da Silva, professor
do Instituto Superior Técnico e antigo vereador da Mobilidade da Câmara
Municipal de Lisboa, e outros signatários com fortes ligações à CML durante a
Feira do Livro. “Achámos que era altura de dizer basta ao rumo que a capital
está a levar e ao silêncio ensurdecedor por parte da autarquia que deixa passar
todas as obras em silêncio”, diz ao Expresso Fernando Nunes da Silva.
De acordo com o
ex-vereador, o anúncio do licenciamento de uma torre gigantesca, nos terrenos
da antiga fábrica da Portugália, na Almirante Reis, foi a “gota de água”, uma
vez que se trata de uma obra completamente desenquadrada de toda a tipologia
daquela avenida, uma das mais antigas de Lisboa, sendo vital “levantar a voz
contra os desmandos urbanísticos que têm vindo a ser perpetrados na cidade de
Lisboa”.
Neste projeto,
Fernando Nunes da Silva critica ainda a posição da Ordem dos Arquitetos, que
acusa de ter desvalorizado os critérios técnicos.“Acho lamentável que a Ordem
dos Arquitetos tenha discutido o assunto – se pode ou não haver torres em
Lisboa – avaliando apenas se a arquitetura é boa ou má – esquecendo o Código
Deontológico e abdicando dos seus critérios técnicos em função dos interesses e
do poder do momento”, sustenta o professor universitário.
Fernando Nunes da
Silva alerta também para as consequências do rumo do urbanismo na capital, onde
a especulação imobiliária está a conduzir à expulsão de vários moradores. E
acusa a autarquia lisboeta de ser o “agente promotor” dessa especulação
imobiliária numa altura em que o mercado tem forte procura por parte de
estrangeiros. “Somos contra a existência de uma empresa de caráter privado, mas
com capital 100% da Câmara Municipal de Lisboa, que atua como uma Câmara dentro
da Câmara, mas com plenos poderes urbanísticos sem controlo do plenário da
Câmara Municipal e do órgão soberano do controle do município, a Assembleia
Municipal de Lisboa”, pode ler-se no manifesto.
MENOS 70 MIL
HABITANTES NUMA DÉCADA
O documento
sublinha que a capital perdeu nos últimos dez anos mais de 70 mil habitantes –
50 mil só entre 2011 e 2016 – e que o número de alojamentos locais aumentou de
três em 2009 para 44 mil em 2018, sendo Portugal “um dos países europeus com
menor taxa de habitação pública”, razão pela qual se exige um Plano Especial de
Recuperação da Cidade.
O antigo vereador
da Mobilidade da Câmara de Lisboa lamenta também que a autarquia tenha vendido
500 mil euros em património imobiliário quase tudo destinado para a hotelaria,
sobretudo hotéis de luxo. “Neste momento não há limites. O sector urbanístico
não é de todo transparente e o que estamos a assistir é a uma inversão total
daquilo que devia acontecer. Tal como dizia Helena Roseta, o urbanismo
transformou-se numa Casa da Moeda”, insiste.
Fernando Nunes da
Silva realça ainda o “fracasso” do programa de habitação acessível, sublinhando
que apenas 120 fogos estão em construção quando já se está a meio do mandato.
Entre os
subscritores do manifesto encontram-se o ativista da ZERO Acácio Pires, o
politólogo André Freire, o militar de Abril Otelo Saraiva de Carvalho, o
deputado do BE Pedro Soares e a historiadora Raquel Varela.
A ideia, explica
Fernando Nunes da Silva, é após as eleições legislativas, em outubro, promover
debates para questionar para onde vai Lisboa e que alternativas existem para a
capital. “Espero francamente que sejam discussões abertas para acabar com um
muro de cumplicidades e silêncios, porque isso dá sempre mau resultado. É de
transparência que precisa a Administração Pública e Lisboa de soluções
democráticas”, conclui.
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