Casa Pereira da Conceição |
E que dizer da antiga casa de chás e cafés Casa Pereira da
Conceição na Rua Augusta agora vendida e totalmente ‘colonizada’ pelo “Mundo
Fantástico da Sardinha Portuguesa,” e pela a “Casa Portuguesa do Pastel de
Bacalhau” !!!???
OVOODOCORVO
Joalharia da Baixa tornou-se venda de souvenirs e deixou de
ser Loja com História
A Barreto & Gonçalves fazia parte do primeiro lote de
espaços comerciais reconhecidos pelo programa Lojas com História. A firma
continua a existir, só deixou de ter loja aberta ao público. A mudança do ramo
de negócio e as alterações interiores levaram a câmara a retirar a distinção.
João Pedro Pincha
João Pedro Pincha 10 de Julho de 2019, 22:14
Nas montras do número 17 da Rua das Portas de Santo Antão,
em Lisboa, já não moram jóias, castiçais e jarras. A loja da Ourivesaria e
Joalharia Barreto & Gonçalves, que estava aberta naquele local desde 1920,
fechou e deu lugar a uma loja de souvenirs. Galos de Barcelos, ímanes e outras
recordações de Portugal povoam agora as vitrines ladeadas pela característica
moldura de ferro vermelho.
A firma Barreto & Gonçalves não desapareceu, assegura a
sua gerente, apenas deixou de ter loja aberta ao público. “Foi uma opção
pessoal. Neste momento, sentimos que tinha chegado a altura”, diz Joana Barreto
Leitão, neta de um dos fundadores da casa.
Como a loja mudou de ramo e o novo arrendatário fez
alterações à decoração interior, o espaço deixou de ter a distinção Lojas com
História, atribuída pela câmara de Lisboa em Julho de 2016. A Barreto &
Gonçalves fazia parte do primeiro lote de espaços comerciais reconhecidos por
aquele programa municipal, que actualmente tem cerca de 140 lojas distinguidas.
Apesar de a loja já vender souvenirs desde há vários meses,
na semana passada ainda constava do site das Lojas com História. Contactada
pelo PÚBLICO, a câmara acabou por retirar a Barreto & Gonçalves da lista
uns dias depois. “De facto a loja já não é uma Loja com História, uma vez que houve
prejuízo dos critérios de distinção, primeiro pela mudança de actividade e
depois pelo desmantelamento da mesma”, esclareceu Sofia Pereira, coordenadora
da iniciativa.
Segundo a responsável, “as alterações interiores são da
responsabilidade dos proprietários do estabelecimento” e apenas “as alterações
que carecem de autorização são as efectuadas no exterior”. Recentemente, a
actual gerência mandou pintar o exterior de modo a retirar as palavras “Ouro”,
“Prata” e “Jóias” que subsistiam na fachada.
Dessa primeira lista de 63 lojas distinguidas em 2016 já
desapareceram alguns nomes. A Casa Frazão, que vendia tecidos na Rua Augusta,
foi um dos casos mais recentes de encerramento, mas a este se podem juntar os
da Camisaria Pitta, na mesma Rua Augusta, ou da Aníbal Gravador, na Rua Nova do
Almada. A Tabacaria Martins, que também constava desse primeiro lote de
reconhecimentos, esteve à beira de fechar em 2017, mas a intervenção da
autarquia acabou por dar um final feliz à história.
Desde há dois anos que está em vigor um Regime de
Reconhecimento e Protecção de Estabelecimentos e Entidades de Interesse
Histórico, que garante às lojas classificadas o prolongamento automático dos
contratos de arrendamento durante cinco ou dez anos.
tp.ocilbup@ahcnip.oaoj
TÓPICOS
A nau de bacalhau com velas de queijo e corvos de massapão
A autenticidade e a sobrevivência da nossa identidade está
ameaçada pelo triunfo efémero do Híbrido.
António Sérgio Rosa de Carvalho
9 de Janeiro de 2016, 1:25
Em Lisboa, os últimos dias de 2015 foram dominados na
opinião pública, pelo polémico e imposto desaparecimento do Palmeira.
O Palmeira era um restaurante “atascado” de consideráveis
dimensões em notável espaço térreo Pombalino, conjugando respectivas abóbodas e
pilares com antiga e genuína decoração “Portugal/Português”.
Aqui, azulejos e ferragens junto a autênticos pastéis de
bacalhau (sem queijo) permitiam associações mentais em “viagens por serras e
vales” no tempo das estradas nacionais, com árvores ancestrais apresentando
bandas brancas reveladas por redondos faróis pejados de mosquitos, feixes
luminosos invasores de silhuetas campestres sobre um glorioso e estrelado céu
nocturno, dominado pelas abóbodas do Firmamento.
Tudo isto terminou abruptamente. A C.M.L. decidiu vender o
edifício, na parte superior uma ruína, sem acautelar a garantia de
sobrevivência deste notável e autêntico estabelecimento. Isto, depois de
apregoar aos quatro ventos a criação do Projecto “Lojas com História”., que
garantiu a formulação de extensas e completas listas de estabelecimentos a preservar,
definidas por notáveis seguidores de Ulisses.
Estas heróicas listas e intenções só apresentavam uma
sombra. A C.M.L. não garantia a protecção perante a implacável e arbitrária Lei
do Arrendamento. Assim, declarava-se impotente e também vítima, numa mítica,
heróica e eterna luta entre as intenções, a defesa do valor único cultural de
tais estabelecimentos, e a realidade dos valores e interesses dos investidores
que se sobrepunham aos valores culturais.
Havia portanto uma essência pura de “Dr. Jeckill” no
organismo da C.M.L., que sucumbia assim por impotência, ás maléficas intenções
vindas do “exterior”.
Mas a perversidade reside precisamente no facto de que tal
como na conhecida novela, “Dr. Jeckill” e “Mr. Hyde” são duas facetas da mesma
pessoa. E não se trata aqui, apenas. de um conflicto entre duas essências no
mesmo organismo, em luta interna e permanente.
Não, mais perversamente, aqui, a existência de “Dr. Jeckill”
é um falso mito criado por “Mr. Hyde”.
Por outras palavras, a principal causa do desaparecimento
dos Estabelecimentos é a política urbanística desenvolvida pela C.M.L. e
respectivos licenciamentos concedidos.
Na avalanche de projectos de hóteis e residências turísticas
permitida e licenciada pela C.M.L. está presente uma ausência total de
estratégia ou visão futura. Cada projecto, no actual estado de coisas, implica
inevitávelemente o desaparecimento de qualquer estabelecimento existente,
independentemente da sua antiguidade ou do seu reconhecido e apregoado
insubstituível valor cultural.
Embora todos reconheçam que a autenticidade e a diferença
local e cultural, constituem a principal e determinante razão da visita
turística, Lisboa está a ser destruída sistemáticamente na sua identidade e a
ser transformada numa artificial plataforma onde a banalidade, o pastiche e o
híbrido triunfam.
Numa grave crise económica, repentinamente o Turismo surgiu
como balão de oxigénio salvador.
Como em Portugal nada se medita, reflecte ou se planeia,
tudo simplesmente parece nos acontecer, aceitamoss estes processos como
inevitáveis. No entanto estes processos conhecem responsáveis e são estimulados
ou contrariados por alguém.
Numa Lisboa onde o “pastel de bacalhau com queijo” triunfa,
a autenticidade e a sobrevivência da nossa identidade está ameaçada pelo
triunfo efémero e irreversivelemente destruidor do Híbrido.
A nau heráldica e respectivos atributos iconográficos
originalmente símbolo das características, virtudes e valores da nobre Urbe,
está a ser lentamente mas irreversívelmente transformada numa “nau de bacalhau,
com velas de queijo e corvos de massapão.”
Historiador de Arquitectura
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