terça-feira, 23 de julho de 2019

Mais de 70% do que ardeu em Vila de Rei e Mação era floresta que estava a regenerar-se



Mais de 70% do que ardeu em Vila de Rei e Mação era floresta que estava a regenerar-se

Incêndio consumiu quase 10 mil hectares, o equivalente à área ocupada pela cidade de Lisboa.

Rita Marques Costa 23 de Julho de 2019, 19:17

Até às 11h de segunda-feira, 71,1% do que ardeu em Vila de Rei e Mação eram matos altos e floresta até cinco metros. Este universo inclui “muito do que regenerou depois de 2003”, confirma Paulo Fernandes, especialista em fogos florestais na Universidade de Trás-os-Montes e Alto e Douro.

As estimativas, geradas automaticamente pelo Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS, na sigla inglesa) através do cruzamento com os dados do Corine Land Cover sobre o uso do solo, mostram ainda que o pinheiro-bravo e outras coníferas foram a segunda categoria mais afectada: 20% da área ardida estava ocupada por este tipo de árvores. Outros 7,6% do território consumido pelas chamas estavam ocupados com explorações agrícolas.

107.807
toneladas de dióxido de carbono (pelo menos) emitidas pelo incêndio

No documento gerado automaticamente, o EFFIS inclui ainda estimativas sobre as emissões provocadas pelos incêndios. No caso do fogo que deflagrou em Vila de Rei e Mação até ao fim da manhã de segunda-feira, tinham sido produzidas 107.807 toneladas de dióxido de carbono — segundo o Greenhouse Gas Equivalent Calculator, uma ferramenta da Agência de Protecção do Ambiente norte-americana consultada pelo PÚBLICO, estas emissões correspondem à utilização de energia em 11.711 habitações durante um ano; ou ao carregamento de 12,4 mil milhões de smartphones.

Mas o especialista Paulo Fernandes diz que, tendo em conta a área ardida até segunda-feira, as emissões de dióxido de carbono foram muito superiores: cerca de 270.300 toneladas de CO2, mesmo usando um “valor conservador para a biomassa consumida”. Conclusão: “O valor do EFFIS está muito subestimado.”

“O valor das emissões depende da quantidade de biomassa que existe, da sua humidade e da área ardida”, explica o especialista. Nos incêndios de Pedrógão, as emissões ultrapassaram um milhão de toneladas.

9631
hectares destruídos pelas chamas entre 20 e 22 de Julho

Os números mais recentes sobre área ardida no EFFIS mostram que o incêndio consumiu 9631 hectares. Este ano, já arderam 18.606 hectares, um valor próximo da média entre 2008 e 2018 para o mesmo período: 24.622 hectares.

Já o número de fogos com mais de 30 hectares — esta plataforma só contabiliza incêndios com estas características — já corresponde a mais do dobro da média entre 2008 e 2018: são 123.

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