Mais de 70% do que ardeu em Vila de Rei e Mação era floresta
que estava a regenerar-se
Incêndio consumiu quase 10 mil hectares, o equivalente à
área ocupada pela cidade de Lisboa.
Rita Marques Costa 23 de Julho de 2019, 19:17
Até às 11h de segunda-feira, 71,1% do que ardeu em Vila de
Rei e Mação eram matos altos e floresta até cinco metros. Este universo inclui
“muito do que regenerou depois de 2003”, confirma Paulo Fernandes, especialista
em fogos florestais na Universidade de Trás-os-Montes e Alto e Douro.
As estimativas, geradas automaticamente pelo Sistema Europeu
de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS, na sigla inglesa) através do
cruzamento com os dados do Corine Land Cover sobre o uso do solo, mostram ainda
que o pinheiro-bravo e outras coníferas foram a segunda categoria mais
afectada: 20% da área ardida estava ocupada por este tipo de árvores. Outros
7,6% do território consumido pelas chamas estavam ocupados com explorações
agrícolas.
107.807
toneladas de dióxido de carbono (pelo menos) emitidas pelo
incêndio
No documento gerado automaticamente, o EFFIS inclui ainda
estimativas sobre as emissões provocadas pelos incêndios. No caso do fogo que
deflagrou em Vila de Rei e Mação até ao fim da manhã de segunda-feira, tinham
sido produzidas 107.807 toneladas de dióxido de carbono — segundo o Greenhouse
Gas Equivalent Calculator, uma ferramenta da Agência de Protecção do Ambiente
norte-americana consultada pelo PÚBLICO, estas emissões correspondem à
utilização de energia em 11.711 habitações durante um ano; ou ao carregamento
de 12,4 mil milhões de smartphones.
Mas o especialista Paulo Fernandes diz que, tendo em conta a
área ardida até segunda-feira, as emissões de dióxido de carbono foram muito
superiores: cerca de 270.300 toneladas de CO2, mesmo usando um “valor
conservador para a biomassa consumida”. Conclusão: “O valor do EFFIS está muito
subestimado.”
“O valor das emissões depende da quantidade de biomassa que
existe, da sua humidade e da área ardida”, explica o especialista. Nos
incêndios de Pedrógão, as emissões ultrapassaram um milhão de toneladas.
9631
hectares destruídos pelas chamas entre 20 e 22 de Julho
Os números mais recentes sobre área ardida no EFFIS mostram
que o incêndio consumiu 9631 hectares. Este ano, já arderam 18.606 hectares, um
valor próximo da média entre 2008 e 2018 para o mesmo período: 24.622 hectares.
Já o número de fogos com mais de 30 hectares — esta
plataforma só contabiliza incêndios com estas características — já corresponde
a mais do dobro da média entre 2008 e 2018: são 123.
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