Há um manifesto
contra o rumo do urbanismo em Lisboa
Lisboa Precisa é
um apelo assinado por arquitectos, engenheiros, professores, políticos e
activistas que não concordam com as políticas urbanísticas de Manuel Salgado e
querem devolver o debate à cidade. Segunda-feira há uma conferência de imprensa
de apresentação do manifesto.
Cristiana Faria Moreira
Cristiana Faria
Moreira 26 de Julho de 2019, 21:06
A apresentação do
projecto “de uma torre gigantesca nos terrenos da antiga fábrica da Portugália,
na Almirante Reis, completamente desenquadrada de toda a tipologia daquela
avenida, uma das mais antigas de Lisboa, foi a gota de água” para que um grupo
de personalidades — “desgostosas com o governo, supostamente de esquerda, que a
cidade está a levar” — decidisse escrever um manifesto em que se coloca contra
as políticas, sobretudo urbanísticas, do executivo liderado por Fernando
Medina. Quem o diz é Fernando Nunes da Silva, professor universitário e antigo
autarca na capital, que é um dos signatários do manifesto Lisboa Precisa.
Nunes da Silva
não lhe chama movimento; diz antes que é “uma iniciativa bastante inorgânica,
que resultou de conversas entre pessoas que estão a ficar extremamente
preocupadas com o rumo que o urbanismo está a levar na cidade de Lisboa, com
situações que põem em causa as próprias normas do Plano Director Municipal”.
Entre os projectos criticados pelo grupo, além do da Portugália, está o já
construído “monstro” das Picoas ou “o disparatado licenciamento de imponentes
edifícios de serviços na Praça de Espanha, que irão obstruir as vistas da
Fundação Gulbenkian”.
Entre os
signatários do documento, que reúne cerca de 70 nomes, estão arquitectos,
engenheiros, antigos autarcas, professores, activistas ou deputados como Pedro
Soares ou Jorge Falcato, do Bloco de Esquerda. Mas também figuram nessa lista
nomes como o do militar de Abril Otelo Saraiva de Carvalho ou da historiadora
Raquel Varela.
Para o antigo
autarca de Lisboa, que é um dos mentores do projecto, este é um grupo de
cidadãos “muito variado, que tem várias simpatias políticas”, que decidiram
agir depois do que se passou com a Portugália. O objectivo, continua, é “pura e
simplesmente” fazer “uma chamada de consciência” para as políticas, não só de
urbanismo, mas também de promoção de habitação na cidade. “Exigimos por isso
que o património imobiliário do município seja posto ao serviço da população e
não seja mais uma acha para a fogueira da especulação imobiliária”, lê-se no
documento.
“A cidade está a
transformar-se numa cidade apenas para ricos e turistas. A sua população está a
ser expulsa a uma velocidade absolutamente incrível. A câmara acordou
muitíssimo tarde para o problema, mas mesmo assim continua a permitir este tipo
de empreendimentos altamente especulativos”, atira Nunes da Silva, notando
ainda a falta de investimento em “habitação de rendas acessíveis”.
Este manifesto
quer também ser uma forma de “quebrar o silêncio ensurdecedor a que as pessoas
que no passado tiveram posições mais críticas, e que se bateram por uma câmara
mais democrática, se remeteram”, nota.
Depois das
eleições, diz Nunes da Silva, o grupo gostaria de “começar a lançar debates
sobre grandes temas da cidade” — algo que diz ter desaparecido da cidade de
Lisboa. As posições deste grupo serão apresentadas na próxima segunda-feira, às
12h, no Fórum Lisboa, sede da Assembleia Municipal.
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