Sou branco, homem, e falo do que me apetece
Se historicamente os brancos tivessem ficado calados quanto
aos direitos dos negros, talvez hoje em dia ainda houvesse escravatura.
João Miguel Tavares
11 de Julho de 2019, 6:14
Gabriel Mithá Ribeiro, ainda a propósito do caso Maria de
Fátima Bonifácio, escreveu um texto muito interessante no Observador intitulado
“A deficiência moral da esquerda branca e activista”, que convida a uma boa
discussão – é que, se há partes com as quais concordo muito, e que me apetece
elogiar, há uma parte com a qual não concordo nada, e que estou interessado em
rebater.
Mithá Ribeiro ocupa um lugar muito original na vida
académica e intelectual portuguesa: nasceu em Moçambique, chegou a Portugal em
1980 (já com 15 anos), é professor, dedicou parte significativa da sua carreira
aos estudos africanos e – imagine-se – é de direita. Ser um liberal de direita
neste contexto é, de facto, uma absoluta raridade, e por isso dá-se esta coisa
bizarra: um português de origem africana que defende a posição de Maria de
Fátima Bonifácio enquanto ataca a esquerda com argumentos fortes.
Que argumentos são esses? Desde logo, este, contra as quotas
raciais: “É tão perversa a discriminação negativa (do passado) quanto a
discriminação positiva (do presente) porque num e noutro caso está-se
justamente a perpetuar a discriminação social, a fragmentação das sociedades, a
recusar a unidade do género humano.” A tese de Mithá é que a atribuição de
“rótulos de negros vitimizados a todos os não-brancos” – uma tentação típica da
esquerda – conduz à dissolução da “singularidade” de cada indivíduo, pois basta
ele ter a pele escura para se transformar numa “massa colectiva indistinta homogénea”.
Aquilo que a escravatura fazia para explorar o corpo negro, faz agora a
esquerda progressista para o salvar.
Essa homogeneização tem ainda outra trágica consequência: o
indivíduo negro ou cigano não se consegue libertar “do seu colectivo
guetizado”, e enquanto membro de uma “minoria sensível” está “interditado de
criticar os seus grupos de pertença”. A esta constatação, Mithá Ribeiro junta
ainda, recorrendo à sua biografia, acusações de hipocrisia à academia
portuguesa, carregada “de brancos especializados em África”, e que, no entanto,
sempre o tratou como “um proscrito intelectual”, vedando-lhe oportunidades que
ofereceu a outros. Porquê? Porque, segundo ele, “as quotas não são para os
‘pretos’ e ‘ciganos’, são para fabricar esquerdistas.” E esquerdista ele não é.
O texto é realmente muito bom e merece ser lido por toda a
gente. Mas há uma passagem que me diz respeito enquanto cidadão (e homem
branco), e da qual discordo em absoluto. A certa altura, o caso Bonifácio é
descrito como “uma panóplia de brancos” a discutir “com vivacidade clubística o
destino das minorias raciais”, sem a intervenção dos indivíduos dessas
minorias. E acrescenta: “Usurpar identidades alheias é profundamente imoral. Os
homens não representam as mulheres; os idosos não representam os jovens; os
ricos não representam os pobres; logo, os brancos não representam negros,
ciganos ou quaisquer outros.”
Este argumento é aquilo a que se chama, no debate feminista,
“mansplaining”: nenhum homem deveria discutir de forma confiante e incisiva
sobre assuntos que dizem respeito às mulheres, porque “eles” não são “elas” e
não podem ocupar o seu lugar. É um argumento de autoridade, típico das
políticas de identidade – e inutilizável por um liberal de direita. Vivemos num
espaço público comum e discutimos políticas que atingem todos. Mais: se
historicamente os brancos tivessem ficado calados quanto aos direitos dos
negros, talvez hoje em dia ainda houvesse escravatura.
A deficiência moral da esquerda branca e activista
Gabriel Mithá Ribeiro
10/7/2019, 7:162.206
A esquerda branca cujos rostos andam pela universidade e
pela comunicação social transformou a pobreza material das minorias, por
tradição circunstancial, em miséria moral que torna a pobreza endémica
A troca de opiniões entre, por um lado, Maria de Fátima Bonifácio
(crítica das quotas para as minorias raciais) e, por outro lado, Manuel
Carvalho (Público), Marta Muckznic (Observador), Ferreira Fernandes (Diário de
Notícias) e um rol de comentadores foi bastante sintomática da psicopandemia em
que vivemos. As razões são tantas que abordarei apenas algumas.
Uma panóplia de brancos discutiu com vivacidade clubística o
destino das minorias raciais sem que indivíduos que partilham essas identidades
interviessem. Pelo menos, com ou sem a opinião de «pretos» e ciganos, nada se
alteraria numa troca de argumentos entre brancos. A omnisciência branca ou, em
rigor, o narcisismo branco basta-se a si mesmo.
Este novo paternalismo branco limitou-se a reciclar o do
tempo colonial. Agora já não é o dever moral dos brancos «civilizar e
cristianizar os pretos» mas proteger os ditos cujos, mais os ciganos, da
«discriminação». As raças inferiores, essas, continuam no quintal, no recreio,
infantilizadas.
Em dias de tempestade verbal como esta, se me sobra algum
respeito (ainda assim muito) reservo-o a brancos que falam em nome próprio, em
defesa da sua identidade branca, como Maria de Fátima Bonifácio. Não me sinto
obrigado a respeitar brancos que usurpam sentimentos, identidades,
representatividades de terceiros. Não por uma birra qualquer, mas porque
usurpar identidades alheias é profundamente imoral. A representatividade social
existe para ser tomada a sério. Os homens não representam as mulheres; os
idosos não representam os jovens; os ricos não representam os pobres; logo, os
brancos não representam negros, ciganos ou quaisquer outros.
Quem não respeita isto, não respeita os outros, não respeita
a democracia, não reconhece dignidade às outras identidades, mesmo quando elas
preferem o silêncio, ou sobretudo por isso. Há sempre razões para silêncios,
mesmo quando não são óbvias. O silêncio pode ser a forma mais inteligente, em
certas matérias, para os indivíduos pesarem custos e benefícios a longo prazo.
É preciso deixar muito claro que a questão racial tem uma
dimensão de dor psicológica para a intimidade de negros, mestiços, mulatos,
ciganos e outros mais, e pode não ser tanto pelas razões propaladas, antes por
uma impossibilidade quase genética de os indivíduos se descartarem de
responsabilidades próprias no seu destino, nos seus sucessos e falhanços.
Trazer tais matérias para a praça pública pode ser justamente o contrário da
solução que a sanidade mental dos indivíduos pode necessitar. Há matérias em
que não se deve ser invasivo da intimidade, sensibilidade, identidade de terceiros.
Se é para ser estridente, desbocado, deixem que as minorias o façam na primeira
pessoa.
Ninguém tem o direito de forçar um indivíduo a tomar
partido, a tomar posição ou a assumir assuntos que pode querer guardar para si
mesmo, para a sua intimidade. Por que razões é que quando se discute racismo
são quase todos brancos? O que hoje se passa é de tal modo grosseiro que
equivale mais ou menos a questionar o filho de pais de pertenças raciais
distintas: Olha lá, tu és do «clube» racial da tua mamã ou és do «clube» do teu
papá? Afinal tu és branco como o teu pai ou «preto» como a tua mãe?
Por absurdo que possa parecer, é deste modo que se comportam
os atuais sistemas sociais face a situações de miscigenação racial, e pertenças
raciais das minorias em geral. As questões identitárias foram remetidas para o
espaço público por vias de tal modo patológicas que as nossas sociedades
necessitam de uma profunda reforma moral.
Deixar em aberto a questão das identidades raciais, não ser
social ou, pior, politicamente invasivo na matéria para que cada um decida o
sentido e relevância que lhes queira atribuir em função da sua própria
identidade é, por norma, a opção mais digna e favorável à gestão do interior de
famílias que integram identidades raciais distintas, uma realidade crescente
nos dias que correm, mas também a opção mais favorável à gestão de questões
inter-raciais que oriente a ação do Estado. O papel pedagógico do Estado é o de
se demarcar do fator racial, regular-se por princípios universais permitindo
que a vida social tenha autonomia na gestão por si mesma do que é complexo,
íntimo.
Colocar sequer a hipótese de quotas raciais jamais libertará
os seus defensores de propensões totalitárias, violentas, que atingirão os
supostos beneficiados, além dessa atitude ser contrária à dignidade de qualquer
moral social, o referente por excelência que faz funcionar as sociedades. Estas
só escapam à anomia (uma forma polida de dizer loucura) se se orientarem por
valores, normas, princípios e regras universais válidas do mesmo modo para
todos. É tão perversa a discriminação negativa (do passado) quanto a discriminação
positiva (do presente) porque num e noutro caso está-se justamente a perpetuar
a discriminação social, a fragmentação das sociedades, a recusar a unidade do
género humano.
Há outro detalhe da loucura dos tempos. Ao longo de quatro
séculos, negros das mais variadas origens, estatutos (as comunidades ancestrais
africanas organizam-se por linhagens, isto é, desde a origem que marcam
diferenças sociais), línguas, crenças, hábitos, tradições em África eram,
depois, amalgamados nos países de destino da escravatura como se fossem todos
iguais. Bastava serem negros para se reconverterem numa massa coletiva
indistinta homogénea, para desaparecerem enquanto indivíduos e, com isso,
dissolvia-se a singularidade e subjetividade que a condição humana acarreta. Por
ironia, esse passado está hoje bem vivo pela ação do igualitarismo de esquerda.
Faz parte do ativismo-progressista insistir em distribuir
rótulos de negros vitimizados a todos os não-brancos. Nessa amálgama cabem o
dr. António Costa e demais canecos, mulatos, mestiços das mais variadas
ascendências, africanos de distintas proveniências, ricos e pobres,
sul-americanos, asiáticos, árabes e berberes, animistas, cristãos ou islâmicos,
nascidos dentro e fora do Ocidente, entre múltiplas diversidades que até podem
alimentar conflitos entre elas, no entanto, enquanto minorias tuteladas pela
esquerda ficam compelidas a amar-se entre si e instigadas a odiar os brancos, a
sua nova carta de alforria. Os ativismos antirracistas e anti-discriminação
fazem tábua rasa da multiplicidade de sentidos de pertença, interesses, hábitos
de vida, atitudes, comportamentos, costumes, tradições, condições
socioeconómicas dos não-brancos.
Em matéria de relações raciais existe, portanto, uma relação
direta entre ignorância e defesa convicta de determinadas posições. E não me
estou a referir a Maria de Fátima Bonifácio que teve a dignidade de se colocar
na pele branca, a dela. Estou a referir-me aos que partilham essa mesma
pertença racial mas que vestem sem pudor a pele de «pretos», ciganos ou de
outras minorias. O tal Rui Pena Pires que espoletou a atual vaga em favor das
quotas para as minorias no parlamento ou nas universidades faz parte de uma
universidade que nunca me deu uma oportunidade, o que me fez bater com a porta.
Há minorias e minorias, «pretos e pretos», pobres e pobres. O ISCTE-IUL havia
de ter vergonha nesta matéria, uma universidade carregada de brancos
especializados em África – a minha área de especialização – e que fez de mim um
proscrito intelectual, felizmente o preço da minha liberdade. E vejam-se as
barbaridades que se escrevem e dizem sobre África. As quotas não são para os
«pretos» e «ciganos», são para fabricar esquerdistas.
Mas é importante clarificar ainda outra questão. O que marca
as sociedades ocidentais é o primado do indivíduo sobre o coletivo, sendo o
inverso na tradição islâmica ou na tradição soviética. Isso para sublinhar que,
no mundo ocidental, nunca serão os negros ou os ciganos enquanto coletivos a
«subir na vida», mas todos os indivíduos de todas as pertenças raciais, e cada
um por si. Negros, brancos, mestiços, pobres, remediados e todos os demais. É
por serem assim que as sociedades ocidentais articulam, melhor do que muitas
outras, mobilidade social com coesão social.
Por isso, é do caminho cultural da descoberta do indivíduo
enquanto tal de que mais necessitam os segmentos que mais recentemente se vão
integrando na tradição ocidental, as minorias.
Acontece que só é possível libertar o indivíduo do seu grupo
de pertença primário ou natural (racial, religioso, étnico) quando o meio
social é favorável à crítica social, ainda que ela possa ofender. É tão
fundamental a crítica social entre os mais variados grupos de pertença, quanto
– como muito bem explicou Nietzsche – a crítica virada para o interior do
próprio grupo de pertença. A última é a condição primeira da libertação do
indivíduo do coletivo primário a que está filiado, isto é, nenhum indivíduo é
livre se não partir de pressuposto de criticar sempre que entender o seu grupo
de pertença, a sua religião (pessoal, familiar ou dos ascendentes), o seu
estado, os que no quotidiano estão mais próximos de si, as suas origens. Sem
isso não existe liberdade que, no Ocidente, ou é individual ou simplesmente não
existe. E não existindo nas sociedades livres e dinâmicas, o indivíduo não se
consegue afirmar.
A desgraça negra, cigana ou islâmica que há décadas as
empurra para a guetização é justamente filha do paternalismo da esquerda. O
texto de Maria de Fátima Bonifácio deixou isso a nu. A esquerda impede, e de
forma dolosa, qualquer crítica vinda de fora às minorias raciais, étnicas ou
religiosas. Quem o faz é logo «racista», «islamofóbico», entre outros rótulos
que visam o seu silenciamento e, se possível, assassinato social da branca ou
branco que arrisque tal ousadia. Desse modo, não apenas o indivíduo pertencente
a minorias sensíveis não se liberta do seu coletivo guetizado, como ainda quem
pertence a uma minoria está interditado de criticar os seus grupos de pertença
ou, no mínimo, o aparelho ideológico em peso (imprensa, universidades, ensino,
partidos políticos, intelectuais, meios artísticos) desincentiva fortemente
tais ousadias.
Mesmo que tenha razões de sobra (querer estudar, viver
tranquilo, trabalhar, estar em casa em segurança e sem ser incomodado pela
música do vizinho, educar os filhos e filhas, entre outros), o pobre não pode
criticar o pobre, o negro não pode criticar o negro, o cigano o cigano, o
islâmico o islâmico, por aí adiante. Todos só podem criticar o branco. É assim
que a esquerda, a nova escravocrata, os educa a afundarem-se nos seus bloqueios
e traumas.
A esquerda branca cujos rostos andam pelas universidades e
pela comunicação social – Rui Pena Pires, Boaventura Sousa Santos, Manuel
Carvalho, Ferreira Fernandes, Daniel Oliveira, Fernanda Câncio, Isabel Moreira,
Alexandra Lucas Coelho, entre tantos outros – transformou a pobreza material
das minorias, por tradição circunstancial, em miséria moral que torna a pobreza
endémica. Estamos perante um grupo de indivíduos com rostos e nomes concretos
(fora os internacionais) que mais tem produzido pobreza, instabilidade social,
violência, desintegração social entre as minorias. Sujeitos moralmente
patológicos.
Claro que estas matérias não se esgotam aqui. Mas é por uma
profunda diferença na orientação da moral social (matéria para outros textos)
que são contranatura – e ainda bem! – as aproximações entre a direita e a
esquerda. Não vejo qualquer problema moral, bem pelo contrário, na aproximação
entre a direita moderada e ideias e movimentos que uns apressados rotulam de
extrema-direita. Antes vejo um problema moral profundo na aproximação entre a
direita moderada e a esquerda moderada e qualquer outra esquerda, as últimas
moral e intelectualmente falidas e, por isso, nociva para as sociedades.
Apartheid chegou a Portugal?
António Maria Saldanha
11/7/2019, 0:55
Quotas raciais são um retrocesso civilizacional.
Relembram-nos regimes racistas onde seres humanos eram tratados de forma
diferente pela cor da pele e não favorecerão a resolução de problemas sociais.
Nos últimos dias, surgiu a notícia no jornal Público de que
o PS poderá propor no seu programa eleitoral a criação de quotas raciais para
negros e ciganos, quer no acesso ao ensino superior, quer nas listas à
Assembleia da República. Segundo o secretário-nacional socialista, Rui Pena
Pires, com a adopção desta medida o PS pretenderia ‘corrigir a falta de
diversidade no espaço público’, ‘responder aos problemas que estão para além da
desigualdade social’ e criar ‘condições para uma maior visibilidade e
intervenção dos portugueses de origem africana e cigana’.
Esta notícia foi alvo das mais diversas reacções, sendo de
longe a mais polémica, a opinião expressa pela historiadora Maria de Fátima
Bonifácio no jornal Público, com o título ‘Podemos? Não, não podemos’. Fátima
Bonifácio justificou uma posição contrária às quotas raciais para negros e
ciganos afirmando que nem uns nem outros partilham ‘as mesmas crenças
religiosas e os mesmos valores morais’ ou fazem parte da mesma ‘entidade
civilizacional’ que os restantes portugueses.
Ora, a razão pela qual discordo da opinião de Fátima
Bonifácio é precisamente a mesma que me faz discordar frontalmente da ideia de
estabelecer quotas raciais para o que quer que seja.
Fátima Bonifácio incorre em generalizações, alegando que os
portugueses negros e ciganos se auto-excluem da comunidade nacional, não tendo
em conta o relevante número de negros e mesmo ciganos que estão plenamente
integrados na sociedade portuguesa. A opinião de Fátima Bonifácio reforça a
ideia de que a sociedade portuguesa está dividida entre portugueses e
‘forasteiros’ africanos e ciganos de culturas exóticas, opostas e
inconciliáveis com a nossa.
Não concordo com a tese de Fátima Bonifácio por considerar
que a origem étnica de um ser humano não lhe confere qualquer tipo de
características culturais inatas e problemas de exclusão social. E é
precisamente esta a ideia em que se baseiam as quotas raciais.
O sistema de quotas raciais apresenta graves problemas e
gera enormes injustiças. Um dos problemas mais evidentes é o facto de o
critério para decidir quem é negro e quem não é, ser absolutamente subjectivo.
Como decidir a partir de que tom de pele um mulato teria direito a quota
racial? Os órgãos encarregues de tomar este tipo de decisões lembrariam
demasiado os tribunais raciais nazis implementados pelas Leis de Nuremberga,
que estabeleciam critérios para determinar quem era judeu, negro ou cigano. No
Brasil, onde existem quotas raciais, já ocorreu o caricato caso de dois irmãos
gémeos idênticos serem julgados de forma diferente, sendo um considerado negro
e outro considerado branco, dada a subjectividade dos critérios.
As quotas raciais poderão também reforçar o racismo e os
preconceitos. O economista americano afro-descendente Thomas Sowell, na sua
obra ‘Affirmative Action Around the World’, analisou os efeitos de políticas de
discriminação positiva em diversas partes do mundo. Sowell concluiu que sempre
que essa discriminação é feita através de características biológicas o racismo
acaba por se acentuar. Verificou que, por exemplo, estabelecendo-se quotas
raciais no acesso ao ensino superior, a longo prazo as maiorias tendem a
desconfiar de profissionais negros das mais diversas áreas, por julgarem que
estes estariam a exercer aquela profissão não por mérito, mas por terem
beneficiado de quotas. Um preconceito absurdo mas que seria resultado dessas
políticas de discriminação pela cor da pele.
Outro dos problemas mais notórios do sistema de quotas
raciais é que este sistema tem como critério unicamente a cor da pele. Ora,
este critério único pode gerar injustiças óbvias, como beneficiar negros com
elevadas capacidades económicas em detrimento de brancos com dificuldades
económicas, ou beneficiar negros com pior currículo que brancos com melhor
currículo provenientes do mesmo contexto social.
É verdade que há um problema de exclusão social em Portugal.
No entanto, as quotas raciais não só não o resolveriam como também o poderiam
agravar. Uma melhor alternativa seria o reforço de bolsas de estudo para os
portugueses mais desfavorecidos, ou em limite a criação de quotas sociais para
esses estudantes, independentemente de serem brancos, negros, ciganos, amarelos
ou esquimós. Com a introdução destas medidas, os cidadãos negros e ciganos
desfavorecidos serão também naturalmente beneficiados. O que não podemos, de forma
alguma, é dividir a sociedade com base na cor da pele. Esta divisão não seria
mais que a institucionalização do racismo.
Se o estado português implementasse um sistema de quotas
raciais estaria a dizer-nos que negros ou ciganos não deveriam ingressar na
universidade com as mesmas vagas que outros portugueses brancos,
independentemente de estes serem pobres ou não. Negros teriam vagas específicas
para eles, à semelhança do que acontecia no antigo regime sul-africano do
apartheid, onde negros tinham bares, autocarros ou casas de banho específicas
para eles. A divisão racista de uma sociedade nunca poderá ser uma coisa boa,
mesmo que seja implementada tendo em vista a resolução de um problema social.
Segregar uma fatia da população por aspectos raciais, não tendo em conta
factores económicos, não trará qualquer avanço. Não passará de um retrocesso
civilizacional travestido de progresso social.
Sonho com uma sociedade cada vez mais unida e coesa. Um país
sem racismo, onde todos os seres humanos sejam tratados como iguais, sem olhar
à cor da pele. Um Portugal onde todos se sintam portugueses e estejam
plenamente integrados, independentemente da etnia, religião, ou capacidade
económica. Orgulho-me de viver num país onde cidadãos das mais diversas origens
étnicas ascendem aos mais altos cargos da Nação. Medidas como quotas raciais
são instrumentos de divisão da sociedade e de segregação racial. Não quero isso
para o meu país. Estamos todos no mesmo barco, somos todos Portugueses. Apenas
com uma comunidade unida conseguiremos cumprir Portugal.
Estudante, 18 anos
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