sexta-feira, 26 de julho de 2019

As reformas douradas dos políticos / Lista completa: Quem são os ex-políticos que recebem reformas douradas



As reformas douradas dos políticos

A ideia de um regime à parte para políticos é inaceitável e inconcebível. Ainda bem que acabou.

Luís Filipe Soares
26 de Julho de 2019, 6:05

“Debate-se hoje uma questão de todo pertinente nas sociedades democráticas: será que servir a coisa pública, só por si, já não constitui estímulo suficiente para os cidadãos? A resposta a esta pergunta parece, dadas as mordomias, benesses e regimes de excepção previstos no nosso ordenamento jurídico para os que servem a coisa pública, um rotundo e cristalino não!” Este preâmbulo dava o mote ao Projeto de Lei do Bloco de Esquerda apresentado em outubro de 2004, que marcou o início do fim das subvenções vitalícias.

Não são direitos, são privilégios de uma casta. Não é minimamente compreensível que um detentor de um cargo político por 12 anos conquistasse o direito a uma pensão para toda a vida como acontecia a governantes, deputados ou autarcas. A ideia de um regime à parte para políticos é inaceitável e inconcebível. Ainda bem que acabou.

O toque de finados do regime de privilégio aconteceu finalmente em 2005. Mudada a composição da Assembleia da República e com um novo Governo, apenas o CDS faltou com o seu voto para acabar com as regalias. No entanto, fechada a porta, PS e PSD abriram a janela às benesses, introduzindo um regime transitório que manteve as subvenções vitalícias que já estavam em pagamento e a possibilidade de novos requerimentos pelos deputados, governantes ou autarcas, que cumprissem os requisitos à data do fim de regime.

Em 2013 conseguimos acabar com este regime regime transitório, apesar de muitas vozes revoltadas pelo centrão. Dessas vozes, um conjunto de deputados de PS e PSD fizeram um pedido de fiscalização da constitucionalidade desta medida. O Tribunal Constitucional deu-lhes razão e um último sopro de vida às subvenções vitalícias.

Contudo, se o enredo político mostra como existiu muita má vontade para acabar com as reformas “douradas”, o processo recente mostra como há muita má consciência nas pontas soltas que subsistem. A lista dos beneficiários das subvenções vitalícias foi divulgada em 2016, após um longo braço de ferro jurídico com o Ministério do Trabalho. A Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA) deu razão à transparência e a lista veio à praça pública: permanecem 320 beneficiários de subvenções vitalícias. Mas foi sol de pouca dura, já que pouco tempo depois o Ministério do Trabalho suspendeu a divulgação da lista alegando restrições do novo regulamento da Proteção de Dados.

Questionado o ministério sobre a decisão, logo a responsabilidade foi atirada para a Caixa Geral de Aposentações (CGA). A transparência foi mandada para a casa de partida, reinando novamente a opacidade. Como o apagão da lista não passou no escrutínio público, o PS veio tentar salvar a face desta trapalhada a prometeu alterar a lei de proteção de dados para tornar possível a divulgação dos nomes.

Só que o tempo passou e a proposta não chegou. Afinal, virados os holofotes mediáticos para um outro tema qualquer, o PS meteu a intenção junto com a lista: na gaveta. Foi no início da semana, quando o tema entrou novamente no radar, que o PS foi forçado a mais uma cambalhota e o Governo correu a legislar. Em contra-relógio fizeram o que antes era impossível.

Poderíamos recorrer a Noam Chomsky e dizer que se tratou de uma estratégia bem orquestrada, a tal do problema-reacção-solução onde maquiavelicamente se cria a perceção de um problema para potenciar uma reação e apresentar depois uma solução salvífica. É certo que nunca houve nenhum problema legal, dado que em todo este tempo a CGA continua a divulgar outras listas de nomes como é o caso dos funcionários públicos que se reformam e do valor das suas pensões individuais. Mas, também, nunca houve nenhuma vontade de divulgar a lista dos beneficiários das subvenções vitalícias. Na verdade, tratou-se de falhar deliberadamente num dos pilares de uma democracia: a transparência. É que a elite gosta das suas benesses e privilégios, mas tem vergonha quando lhe apontam o dedo.

A posição indefensável do PS mostra o ridículo da ocultação das listas de privilegiados e a defesa da casta. O sapo que o PS engoliu é a vitória da democracia. A democracia vive de escrutínio e tem de respirar transparência, não aceita poderes absolutos que se julgam acima da sociedade.

O autor escreve segundo o novo Acordo Ortográfico



Lista completa: Quem são os ex-políticos que recebem reformas douradas
PORTUGAL 12.08.2016 às 18h01

 A Caixa Geral de Aposentações publica, pela primeira vez, a lista dos ex-polítcos que recebem a Subvenção Vitalícia. A VISÃO conta-lhe em primeira mão quem são e quanto recebem. Marques Mendes é o único na lista que pediu para suspender por iniciativa própria.

MÁRCIA GALRÃO
Jornalista

Durante anos, um pacto de silêncio entre partidos e políticos manteve em segredo a lista de quem recebe as chamadas pensões "douradas" ou subvenções mensais vitalícias.

Hoje, a Caixa Geral de Aposentações publica pela primeira vez a lista dos beneficiários, depois de um parecer da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos nesse sentido. Todos os beneficiários foram notificados da divulgação, tal como a VISÃO já lhe tinha dado contado aqui.

Carlos Melancia e Rocha Vieira, os últimos governadores de Macau, são aqueles que têm as pensões mais milionárias. Melancia recebe desde o ano de 1998 uma pensão vitalícia de 9727 euros e Rocha Vieira tem direito a mais de 13 mil euros desde 2000 (um valor que por imposição legal tem uma redução parcial).

Mas há muitos outros nomes de figuras de topo da política portuguesa nesta lista. Deputados, ex-deputados, presidentes de câmara, ex-primeiros ministros e líderes partidários históricos. Quem renunciou já não aparece. Quem ocupa cargos públicos não está a receber nada enquanto os exercer. E quem declare outras atividades remuneradas em mais de 1257 euros pode ter o montante reduzido ou nem sequer estar a receber. Mas têm direito a elas e a lista mantém todos discriminados.

António Guterres, Pedro Santana Lopes e José Sócrates são os ex-primeiros-ministros que estão na lista. O candidato à ONU tem uma pensão de 4138 euros e segundo a CGA está a receber parte desse valor. Sócrates aufere 2635 euros desde junho, um valor um pouco abaixo daquele que tinha comunicado publicamente há algumas semanas. E o atual provedor da Santa Casa da Misericórdia não está neste momento a receber nada dos 2199 euros a que tem direito desde 2005.

Nomes sonantes não faltam. Carlos Carvalhas, António Arnaut, António Capucho, Maldonado Gonelha, Anacoreta Correia, Deus Pinheiro, Ângelo Correia, Manuel Alegre ou Zita Seabra são alguns dos que recebem esta pensão dourada.

Ex-presidentes da Assembleia da República estão em destaque. Barbosa Melo é o que tem a reforma vitalícia mais alta: 4296 euros desde o ano 2000. Mas Assunção Esteves também está na lista, com 3432 euros, tal como Mota Amaral, com 3115 euros.

Depois temos ainda os empresários de sucesso que um dia já foram políticos. É o caso de Faria de Oliveira, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos, que não estando a receber a subvenção por imposição legal, tem direito a 3228 euros dos tempos em que foi secretário de Estado e ministros dos governos de Cavaco Silva. Também Ferreira do Amaral tem direito a 3048, não os estando a receber.

Há ainda um grupo caraterístico de ex-políticos que apesar de terem tido problemas com a Justiça são parte desta lista de pensionistas dourados. Armando Vara, com 2014 euros (reduzida parcialmente), Duarte Lima, com 2289 euros e Dias Loureiro, com 1571 (reduzidos totalmente por imposição legal).

No Conselho de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa sentam-se alguns destes pensionistas. Domingos Abrantes, do PCP, recebe desde 1994, 2685 euros. Adriano Moreira, com 2685 euros (reduzidos parcialmente) ou Leonor Beleza, que por presidir à Fundação Champalimaud não está atualmente a receber os 2566 euros que lhe foram atribuídos a partir de 2006. Marques Mendes, que também se senta na mesa de conselheiros da Presidência, é o único nome na lista que suspendeu por iniciativa própria a reforma de 3311 euros, a que tem direito desde 2007.

São mais de 330 nomes que fazem parte desta lista até aqui confidencial.


Sem comentários: