Dos 150 alojamentos comprados numa rua de Alfama só um foi
para habitação própria
A larga maioria dos restantes alojamentos são destinados a
alojamento turístico.
Lusa 6 de Junho de 2019, 8:50
Investigadores acompanharam durante dois anos a evolução da
habitação numa área de 3,6 hectares à volta de uma rua de Alfama, em Lisboa, e
concluíram que, de 150 apartamentos comprados, apenas um foi destinado à
habitação própria.
O estudo, focado na análise à micro-escala da evolução da
habitação no centro de Lisboa, incidiu sobre a área à volta da Rua dos
Remédios, onde se registam 945 alojamentos clássicos e com uma população que,
em 2011, não chegava aos 900 habitantes.
Ana Gago e Agustin Cocola-Gant, investigadores do Instituto
de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa,
acompanharam o que aconteceu naquela rua entre 2015 e 2017 e cujas mudanças
espelham um processo de gentrificação e transformação do tecido social daquele
bairro histórico da capital.
Entre 2015 e 2017, na área de estudo intensivo, “foram
comprados 150 apartamentos, mas apenas um para efeitos de habitação própria”,
sendo que a maioria foi convertida em alojamento turístico e os restantes
“permaneceram vazios, tendo sido óbito de sucessivas vendas”, notam os
investigadores no estudo que está integrado no projecto “FINHABIT - Viver em
Tempos Financeiros: Habitação e Produção de Espaço no Portugal Democrático”,
coordenado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Em 2016, 25% das habitações existentes (235 das 945) estavam
destinadas ao alojamento turístico, o que representou um aumento de 60% no
espaço de apenas um ano, referem os investigadores.
Desses 235 alojamentos turísticos, apenas dois dos
apartamentos eram casas partilhadas por residentes, sendo que na pequena área
analisada 14 prédios estavam totalmente destinados a alojamento turístico,
notam os investigadores.
Segundo o estudo, entre 2015 e 2017, 27 famílias, num total
de 36 pessoas, foram forçadas a abandonar as suas casas e, das 27 casas
identificadas de onde estes residentes saíram, 18 deram lugar a alojamento
local e as restantes “permanecem vazias”.
“Para além disto, foram registados vários casos de
desalojamento directo iminente, pelo que tudo indica que estes números irão
aumentar num futuro próximo”, alerta o estudo, salientando que este processo de
desalojamento - que na maioria dos casos ocorreu por não renovação de contrato
de arrendamento ou aumentos incomportáveis de renda — “afecta não só inquilinos
com poucos recursos económicos, mas também residentes de classe média que já
pagavam rendas altas e estariam dispostos a pagar mais”.
Naquela rua, tornou-se “uma prática corrente” ver “agentes
imobiliários e gestores de propriedades a calcorrear as ruas” e a perguntar aos
residentes se querem vender os seus imóveis.
No caso de estudo, os investigadores frisam ainda que “não
se verificou uma única situação de investimento para arrendamento de longa
duração”, sendo que constataram também que há vários investidores que compram
prédios, “não para lucrar com as respectivas rendas, mas para os deixar
vazios”.
“Tudo indica que o uso de habitação como depósito de capital
também está a acontecer em Lisboa, à semelhança do que acontece noutras cidades
globais e que é estimulado pela subida dos preços da propriedade”, vincam no
estudo integrado no projeto FINHABIT, cujos resultados estão presentes no livro
A Nova Questão da Habitação em Portugal, que é lançado hoje pela Conjuntura
Actual Editora, do grupo Almedina.
Lusa
8:25
No estudo que acompanhou a habitação numa rua de Alfama, a
maioria dos alojamentos comprados foi convertida em alojamento turístico e os
restantes permaneceram vazios.
Investigadores acompanharam durante dois anos a evolução da
habitação numa área de 3,6 hectares à volta de uma rua de Alfama e concluíram
que, de 150 apartamentos comprados, apenas um foi destinado à habitação
própria.
O estudo, focado na análise à micro-escala da evolução da
habitação no centro de Lisboa, incidiu sobre a área à volta da Rua dos
Remédios, onde se registam 945 alojamentos clássicos e com uma população que,
em 2011, não chegava aos 900 habitantes.
Ana Gago e Agustin Cocola-Gant, investigadores do Instituto
de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa,
acompanharam o que aconteceu naquela rua entre 2015 e 2017 e cujas mudanças
espelham um processo de gentrificação e transformação do tecido social daquele
bairro histórico da capital.
Entre 2015 e 2017, na área de estudo intensivo, “foram
comprados 150 apartamentos, mas apenas um para efeitos de habitação própria”,
sendo que a maioria foi convertida em alojamento turístico e os restantes “permaneceram
vazios, tendo sido objeto de sucessivas vendas”, notam os investigadores no
estudo que está integrado no projeto “FINHABIT – Viver em Tempos Financeiros:
Habitação e Produção de Espaço no Portugal Democrático”, coordenado pelo Centro
de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.
Em 2016, 25% das habitações existentes (235 das 945) estavam
destinadas ao alojamento turístico, o que representou um aumento de 60% no
espaço de apenas um ano, referem os investigadores.
Desses 235 alojamentos turísticos, apenas dois dos
apartamentos eram casas partilhadas por residentes, sendo que na pequena área
analisada 14 prédios estavam totalmente destinados a alojamento turístico,
notam os investigadores.
Segundo o estudo, entre 2015 e 2017, 27 famílias, num total
de 36 pessoas, foram forçadas a abandonar as suas casas e, das 27 casas
identificadas de onde estes residentes saíram, 18 deram lugar a alojamento
local e as restantes “permanecem vazias”.
“Para além disto, foram registados vários casos de
desalojamento direto iminente, pelo que tudo indica que estes números irão
aumentar num futuro próximo”, alerta o estudo, salientando que este processo de
desalojamento – que na maioria dos casos ocorreu por não renovação de contrato
de arrendamento ou aumentos incomportáveis de renda – “afeta não só inquilinos
com poucos recursos económicos, mas também residentes de classe média que já
pagavam rendas altas e estariam dispostos a pagar mais”.
Naquela rua, tornou-se “uma prática corrente” ver “agentes
imobiliários e gestores de propriedades a calcorrear as ruas” e a perguntar aos
residentes se querem vender os seus imóveis.
No caso de estudo, os investigadores frisam ainda que “não
se verificou uma única situação de investimento para arrendamento de longa
duração”, sendo que constataram também que há vários investidores que compram
prédios, “não para lucrar com as respetivas rendas, mas para os deixar vazios”.
“Tudo indica que o uso de habitação como depósito de capital
também está a acontecer em Lisboa, à semelhança do que acontece noutras cidades
globais e que é estimulado pela subida dos preços da propriedade”, vincam no
estudo integrado no projeto FINHABIT, cujos resultados estão presentes no livro
“A Nova Questão da Habitação em Portugal”, que é lançado esta quinta-feira pela
Conjuntura Actual Editora, do grupo Almedina.
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