São proibidos, mas os copos descartáveis continuam nas
Festas de Lisboa
Câmara de Lisboa decretou que em 2019 não podia haver copos
descartáveis e que, no próximo ano, também não pode haver pratos e talheres de
plástico de uma só utilização.
João Pedro Pincha
João Pedro Pincha 24 de Junho de 2019, 21:14
Sexta-feira, 14 de Junho. O Santo António já se acabou mas a
festa prossegue um pouco por toda a cidade. No pequeno Largo de São Vicente
acumula-se uma multidão à espera do nome maior do cartaz dessa noite: Ruth
Marlene, que virá fazer uma espécie de best of intercalado com alguns temas
mais recentes.
Enquanto a artista não chega, abastece-se o corpo de bebida.
Em algumas bancas os vendedores apresentam um copo de plástico mais resistente,
explicam que custa um euro e que, mediante a devolução do copo e de uma
moedinha falsa, o euro volta para a carteira do consumidor. Mas isso não
acontece em todas as barraquinhas: a escassos metros há foliões que recebem as
suas bebidas em copos descartáveis.
Não é caso único. Na noite anterior, no Largo da Graça,
diversas bancas também estavam a vender cerveja em copos de uma só utilização;
na Alameda, este fim-de-semana, igualmente durante um concerto de Ruth Marlene,
o cenário era idêntico. E o PÚBLICO ainda testemunhou que não é muito difícil
encontrar arraiais, em vários sítios da cidade, onde as bebidas estão à venda
em copos descartáveis.
Acontece que, a partir deste ano, os copos de plástico
descartável estão proibidos nas Festas de Lisboa. Segundo o despacho que regula
as “condições de realização dos arraiais de Lisboa”, publicado em Dezembro de
2018 no Boletim Municipal, “as entidades organizadoras dos arraiais populares
são obrigadas a garantir a) em 2019, a não utilização de copos de plástico
descartável e b) em 2020, a não utilização de copos, pratos e talheres de
plástico descartável”.
De entre os muitos arraiais e retiros populares que se
realizam durante o mês de Junho, 19 são directamente subsidiados pela câmara de
Lisboa através da EGEAC, a empresa municipal responsável pelas Festas. Nesses
arraiais “foi estipulado o uso de copos reutilizáveis”, ficando o modelo de
gestão à escolha de cada organizador, explica fonte oficial daquela empresa.
Nos outros, apesar de a EGEAC não ter qualquer influência, “o regulamento tem
de ser cumprido em qualquer caso”.
O arraial que esteve montado nos largos de São Vicente e da
Graça foi organizado pela Junta de Freguesia de São Vicente e não teve apoio da
EGEAC. Um responsável pelo evento, que durou dez dias e atraiu milhares de
pessoas, explicou ao PÚBLICO que a autarquia mandou fazer 35 mil copos reutilizáveis,
o que se revelou insuficiente para a elevadíssima procura. Por isso é que,
entre os 60 feirantes, muitos houve que recorreram ao clássico copo
descartável.
À semelhança de outras entidades, a junta de São Vicente
contratou uma empresa de logística para produzir, distribuir, armazenar, lavar
e devolver os copos reutilizáveis. Cada copo custou 75 cêntimos à junta, mas
chegou ao consumidor final com o preço de um euro para que os feirantes, com um
lucro de 25 cêntimos por copo, se sentissem incentivados a vendê-los em vez dos
descartáveis. O que, ainda assim, não evitou a resistência de diversos
vendedores, que se queixaram do tempo perdido a explicar o sistema de entrega e
devolução.
Nos arraiais apoiados pela EGEAC foi a cerveja Sagres,
principal patrocinadora das Festas, que se encarregou de produzir e distribuir
os copos reutilizáveis. “Esses copos não têm o logótipo das juntas, mas da
Sagres. Recomendamos a todos os operadores que cobrem um euro, devolvendo-o no
fim, e que troquem de copo sempre que a pessoa pedir uma bebida nova”, diz Nuno
Pinto de Magalhães, director de comunicação da marca.
“Neste momento ainda não temos os números fechados. Vamos
aguardar pelo encerramento das Festas, no final de Junho, para contabilizar
efectivamente os copos disponibilizados”, explica, por sua vez, a EGEAC.
Além dos arraiais apoiados pela empresa municipal, a Sagres
fez ainda acordos comerciais com juntas de freguesia e outros arraiais para
fornecimento de cerveja, o que, nalguns casos, significou também a
disponibilização de copos. “O copo reutilizável não é um negócio”, diz Nuno
Pinto de Magalhães.
A venda de cerveja e a exposição obtida pela marca durante
os dias de festa ultrapassam largamente a despesa feita em copos. Mas, apesar
da aposta, nas cinco freguesias do centro histórico (S. Maria Maior, S.
Vicente, Sto. António, Misericórdia e Estrela), a Sagres contratou uma empresa
privada para ajudar os serviços de higiene urbana e ainda concedeu apoios
financeiros a instituições (escuteiros, por exemplo) que se responsabilizassem
pela recolha de copos descartáveis.
Sejam ou não apoiados pela EGEAC, os arraiais têm liberdade
para escolher o modelo que preferirem na gestão dos copos reutilizáveis: São
Vicente só devolve o euro se o copo for acompanhado da tal moedinha falsa, mas
outras festas há que basta entregar o copo, desde que tenha sido adquirido
naquele local. Em vários arraiais os copos têm o logótipo da junta de freguesia
ou da entidade que organiza, o que impossibilita a sua troca noutro sítio. O
responsável de São Vicente comenta ao PÚBLICO que não veria com maus olhos que
a EGEAC definisse um modelo único para todo a cidade.
A partir de 1 de Janeiro de 2020, a venda de plásticos
descartáveis no espaço público vai ser proibida pela câmara de Lisboa.
Sem comentários:
Enviar um comentário