Pousar a mala, e levantar a cabeça
Quando irá Portugal, finalmente, pousar a mala e levantar a
cabeça?
António Sérgio Rosa de Carvalho
12 de Janeiro de 2014, 1:50
Infinito e promissor horizonte Atlântico. Proibitivo e
intransponível muro Castelhano. Estes foram os factores que determinaram a
expansão Portuguesa. Mas, também, o seu eterno escapismo quimérico, na procura
do Devir / Identitário. Sempre baseada no acto de Partir, isto, de forma
indissociável, tragicamente e dialecticamente a uma eterna fidelidade à ideia
metafísica da Pátria mítica, mas inatingível.
Enquanto o mundo Protestante transforma o seu cepticismo
perante a imperfeição do Mundo, precisamente numa capacidade de intervir nessa
mesma realidade e transformá-la, tal como Max Weber demonstra na sua associação
entre Protestantismo e a formação do Capitalismo pré Neo-Liberal... os misteriosos Lusitanos, saltitam de
escapismo em escapismo.
Agora o “Império”. Depois, o deslumbramento das promessas de
abundância do clube prestigiante do desenvolvimento Europeu, como se tratasse
de fenómeno mágico e instantâneo, sem inclusão de preço e responsabilidade.
Progresso? Sim houve-o. E uma das mais importantes
manifestações desse mesmo Progresso constituiu o acesso ao ensino e a formação
de milhares de jovens. Os tais que iriam determinar o Portugal pós Abril. Que
iriam garantir e confirmar o fim desta dialéctica de Êxodo, finalmente, o
interromper deste ciclo de Diásporas.
Que iriam constituir a primeira geração que iria ficar e
finalmente investir neste misterioso rectângulo plantado à beira-mar atlântica.
Portugal iria finalmente ser cumprido, de forma Adulta, com
a capacidade de aceitar as suas fronteiras físicas, geográficas e reais,
assumindo finalmente, sem escapismos, as suas verdadeiras capacidades e
transformando assim a realidade, quebrando o feitiço, destruindo esta maldição.
As centenas de milhares que partem de novo, com o sabor
amargo da decepção e mágoa, para o exílio, restabelecendo o ciclo da Diáspora,
ilustram um grave fenómeno com consequências não apenas demográficas e
económicas para o futuro do País.
Precisamente na área da vivência/ocupação/ futuro das
cidades e respectivo Património, as consequências serão terríveis.
Pois não seria esta geração que iria, através da sua
criatividade cultural/empreendedorismo e actividade profissional, exigir o seu
espaço, ocupar finalmente os centro históricos e habitá-los?
Em vez disso, assistimos à transformação das duas principais
cidades do País, numa plataforma de eventos, num palco de investimento
exclusivo na sua ocupação temporária através de hotéis, hostels e oferta de
casas na hotelaria paralela.
Tudo dirigido ao novo “Bezerro de Ouro” que se chama Turismo,
fenómeno importante com indiscutível potencial de reconhecimento e prestígio,
com vasta dimensão económica, mas que sem gestão equilibrada, transforma as
cidades em produto efémero e temporário.
Tudo isto é interpretado de forma relativizadora como fenómeno
temporário, associado a uma crise, que se assume descaradamente e oficialmente
de forma derrotista com declarações oficiais com apelos explícitos à emigração
dos jovens, capazes e formados, como se isso não constituísse uma sangria
irreversível e uma ilustração traumatizante de um falhanço da promessa que
Abril, iria finalmente interromper este ciclo de eternas Diásporas.
Investe-se na tentativa de aliciar capital Internacional,
nomeadamente na área do Imobiliário e Reabilitação Urbana, com promessas “douradas”,
mas quem irá garantir o rigor das intervenções no Património Arquitectónico e
respectivos interiores, quando estes projectos se destinam à ocupação
temporária, à curta estadia e à vivência efémera da cidade vista exclusivamente
como produto?
Onde estão as famílias locais a apropriar-se da cidade? A
ocupá-la e a habitá-la permanentemente?
Quando irá Portugal, finalmente, pousar a mala e levantar a
cabeça?
Historiador de Arquitectura
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