segunda-feira, 10 de junho de 2019

Pousar a mala, e levantar a cabeça




Pousar a mala, e levantar a cabeça

Quando irá Portugal, finalmente, pousar a mala e levantar a cabeça?

António Sérgio Rosa de Carvalho
12 de Janeiro de 2014, 1:50

Infinito e promissor horizonte Atlântico. Proibitivo e intransponível muro Castelhano. Estes foram os factores que determinaram a expansão Portuguesa. Mas, também, o seu eterno escapismo quimérico, na procura do Devir / Identitário. Sempre baseada no acto de Partir, isto, de forma indissociável, tragicamente e dialecticamente a uma eterna fidelidade à ideia metafísica da Pátria mítica, mas inatingível.

Enquanto o mundo Protestante transforma o seu cepticismo perante a imperfeição do Mundo, precisamente numa capacidade de intervir nessa mesma realidade e transformá-la, tal como Max Weber demonstra na sua associação entre Protestantismo e a formação do Capitalismo pré Neo-Liberal...  os misteriosos Lusitanos, saltitam de escapismo em escapismo.

Agora o “Império”. Depois, o deslumbramento das promessas de abundância do clube prestigiante do desenvolvimento Europeu, como se tratasse de fenómeno mágico e instantâneo, sem inclusão de preço e responsabilidade.

Progresso? Sim houve-o. E uma das mais importantes manifestações desse mesmo Progresso constituiu o acesso ao ensino e a formação de milhares de jovens. Os tais que iriam determinar o Portugal pós Abril. Que iriam garantir e confirmar o fim desta dialéctica de Êxodo, finalmente, o interromper deste ciclo de Diásporas.

Que iriam constituir a primeira geração que iria ficar e finalmente investir neste misterioso rectângulo plantado à beira-mar atlântica.

Portugal iria finalmente ser cumprido, de forma Adulta, com a capacidade de aceitar as suas fronteiras físicas, geográficas e reais, assumindo finalmente, sem escapismos, as suas verdadeiras capacidades e transformando assim a realidade, quebrando o feitiço, destruindo esta maldição.

As centenas de milhares que partem de novo, com o sabor amargo da decepção e mágoa, para o exílio, restabelecendo o ciclo da Diáspora, ilustram um grave fenómeno com consequências não apenas demográficas e económicas para o futuro do País.

Precisamente na área da vivência/ocupação/ futuro das cidades e respectivo Património, as consequências serão terríveis.

Pois não seria esta geração que iria, através da sua criatividade cultural/empreendedorismo e actividade profissional, exigir o seu espaço, ocupar finalmente os centro históricos e habitá-los?

Em vez disso, assistimos à transformação das duas principais cidades do País, numa plataforma de eventos, num palco de investimento exclusivo na sua ocupação temporária através de hotéis, hostels e oferta de casas na hotelaria paralela.

Tudo dirigido ao novo “Bezerro de Ouro” que se chama Turismo, fenómeno importante com indiscutível potencial de reconhecimento e prestígio, com vasta dimensão económica, mas que sem gestão equilibrada, transforma as cidades em produto efémero e temporário.

Tudo isto é interpretado de forma relativizadora como fenómeno temporário, associado a uma crise, que se assume descaradamente e oficialmente de forma derrotista com declarações oficiais com apelos explícitos à emigração dos jovens, capazes e formados, como se isso não constituísse uma sangria irreversível e uma ilustração traumatizante de um falhanço da promessa que Abril, iria finalmente interromper este ciclo de eternas Diásporas.

Investe-se na tentativa de aliciar capital Internacional, nomeadamente na área do Imobiliário e Reabilitação Urbana, com promessas “douradas”, mas quem irá garantir o rigor das intervenções no Património Arquitectónico e respectivos interiores, quando estes projectos se destinam à ocupação temporária, à curta estadia e à vivência efémera da cidade vista exclusivamente como produto?

Onde estão as famílias locais a apropriar-se da cidade? A ocupá-la e a habitá-la permanentemente?

Quando irá Portugal, finalmente, pousar a mala e levantar a cabeça?

Historiador de Arquitectura

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