Projecto para Miradouro de Sta. Catarina prevê vedação com
dois metros
Relvado à volta do Adamastor será substituído por arbustos e
a zona de pedra lioz vai ser aumentada. Está prevista para breve uma reunião de
apresentação e discussão do projecto.
João Pedro Pincha
JOÃO PEDRO PINCHA 29 de Novembro de 2018, 22:30
A vedação provisória foi instalada um dia depois de a câmara
ter anunciado as obras, que ainda não começaram
O projecto de requalificação do Miradouro de Santa Catarina,
em Lisboa, prevê uma vedação à volta de todo o espaço público com dois metros
de altura e outra, mais baixa, em redor da zona verde, onde a relva vai ser
substituída por arbustos.
Os documentos do atelier de arquitectura paisagista Proap, a
que o PÚBLICO teve acesso, revelam que, apesar da polémica instalada há uns
meses, o miradouro deverá mesmo ter um gradeamento e três portas que permitirão
o seu encerramento. “Foi um pedido que a câmara nos fez para poder pensar em,
eventualmente, fechar o miradouro à noite”, explica Iñaki Zoilo, um dos
arquitectos da Proap que trabalhou no projecto.
O anúncio da câmara de Lisboa de que o miradouro ia ter
obras e passaria a ter vedação e horários de acesso, em Julho, apanhou de
surpresa muitas pessoas, que rapidamente se organizaram em movimentos opostos.
Um grupo de moradores, cansado do que diz ser a falta de higiene urbana e a
insegurança do espaço, congratula-se com a decisão. Um outro grupo, chamado
“Libertem o Adamastor!”, acusa a autarquia de querer ‘privatizar’ o miradouro.
Iñaki Zoilo explica que a Proap foi contactada “há uns
meses” pela câmara para fazer “uma revisão do projecto”. O atelier “ganhou o
concurso de requalificação do miradouro em 2003”, lembra o arquitecto, mas o
projecto “só foi implementado dez anos depois, em 2013” – e com diferenças face
ao anterior.
“Sempre foi muito importante para nós ter uma zona verde.
Uma zona relvada aberta, onde as pessoas podiam passar e ficar”, diz Zoilo. A
par disso, a Proap quis igualmente “criar uma zona de estadia mais franca”, o
que levou à colocação dos grandes blocos de pedra lioz que agora existem, e que
conferem ao miradouro a aparência de um anfiteatro sobre a cidade. “Logo desde
o período inicial, a zona relvada teve grande atracção e alguma utilização
incorrecta”, continua o projectista, afirmando que o sistema de rega ficou
danificado e a relva acabou por não resistir.
Apesar de o relvado ter sido já substituído mais do que uma
vez, ele nunca teve “um período de vida muito prolongado”, pelo que avançou uma
solução que “já tinha sido discutida noutras ocasiões”, diz Iñaki Zoilo. A
relva vai assim dar lugar a um “maciço arbustivo” com espinheiros, juníperos,
alecrim, vinha-virgem, jasmim e ligustro-do-Japão, entre outros. “A zona verde
terá uma vedação à volta para impedir o acesso e evitar a sua degradação.”
Para compensar o espaço de usufruto que se perde com essa
vedação, “a actual zona relvada será ligeiramente diminuída e a zona do lioz
alargada, para permitir que as pessoas tenham área suficiente para poder estar”,
acrescenta Zoilo.
Divergências mantêm-se
As explicações dadas pelo arquitecto correspondem ao que o
vice-presidente da câmara tinha dito ao PÚBLICO em Julho, aquando do
encerramento do miradouro. Duarte Cordeiro afirmou então que pretendia colocar
duas vedações: uma em redor do espaço verde, outra abarcando todo o miradouro,
de modo a “estabelecer momentos de descanso que facilitem a sua manutenção”.
Na memória descritiva do projecto lê-se que as vedações e
portões deverão ser metálicos, “utilizando o aço galvanizado”. Está ainda
prevista a instalação de um novo sistema de rega, que passará a ser gota a gota
e não de aspersão, como até agora.
Os documentos a que o PÚBLICO teve acesso já foram mostrados
e fornecidos aos representantes dos dois grupos em oposição. Nas duas últimas
semanas houve reuniões entre a câmara, membros desses grupos e os arquitectos
paisagistas.
O movimento Libertem o Adamastor! já enviou uma carta ao
executivo autárquico a reiterar a discordância com as opções tomadas. “Mantemos
a oposição e a discordância de que a vedação prevista neste projecto seja
instalada de forma a que permita o arbitrário encerramento do espaço público do
miradouro e que seja estabelecido um horário de acesso”, lê-se na missiva. “A
preservação da segurança pública e do sossego e repouso dos moradores não
depende necessariamente desse encerramento nocturno do miradouro, mas sim de um
policiamento de proximidade e de incentivos à urbanidade dos utentes”, defende
o movimento, apelando ainda à criação de “estruturas e equipamentos que
fomentem a frequência por crianças e idosos”.
Já Vigília Santos, uma das moradoras que dá a cara por uma
petição que defende o encerramento do espaço à noite, mostrou-se satisfeita com
o projecto que lhe foi mostrado. “Aquilo não vai voltar ao que era antigamente,
mas pelo menos vai ser um miradouro onde as pessoas podem estar sem ser
agredidas”, disse.
Está prevista uma reunião pública de apresentação e
discussão do projecto, mas ainda não tem data marcada. “Nas próximas semanas
iremos reformular [consoante as sugestões] e fechar o projecto na sua versão
final”, afirma Iñaki Zoilo.
tp.ocilbup@ahcnip.oaoj
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