terça-feira, 20 de novembro de 2018

Produção de vinho este ano vai ser a mais baixa em duas décadas / ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS VÃO AFETAR A VITICULTURA EUROPEIA ATÉ AO FINAL DO SÉCULO



ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS VÃO AFECTAR A VITICULTURA EUROPEIA ATÉ AO FINAL DO SÉCULO
A conclusão é de um estudo inédito realizado por investigadores da UTAD aplicado ao continente europeu e que foi já publicado na prestigiada revista cientifica Global Change Biology.
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OVOODOCORVO

Produção de vinho este ano vai ser a mais baixa em duas décadas
Guilherme Monteiro

Onda de calor de agosto, mas também a passagem da tempestade Leslie afetaram de forma expressiva a produção de vinho. INE estima que seja a mais baixa em duas décadas.
Ocalor que se abateu sobre Portugal em agosto, mas também a passagem da tempestade Leslie, deixaram um rasto de prejuízos elevados nas regiões vinícolas, revela o Instituto Nacional de Estatística. Assim, prevê-se que a produção de vinho vai ser a mais baixa em duas décadas.

“Na vinha, a extensão dos prejuízos causados pelas elevadas temperaturas foi variável, mas estendeu-se por quase todas as regiões vitivinícolas, prevendo-se uma das menores produções de vinho das últimas duas décadas (5,2 milhões de hectolitros)”, diz o INE. Em 2017, produziram-se 6,5 milhões de hectolitros de vinho.

Os calor excessivo de agosto “causou escaldões nos bagos”, mas foram as primeiras chuvas, a partir de meados de outubro, que prejudicaram a produção vinícola e precipitaram o fim das vindimas, diz o INE.

“Excetuando no Algarve (aumento superior a 5%) e no Alentejo (produção semelhante a 2017), todas as regiões vitivinícolas deverão registar menos produção, prevendo-se uma redução global de 20%, para os 5,2 milhões de hectolitros, a menor das últimas duas décadas”, acrescenta.

Leslie fez mais estragos
Também as searas de milho e arroz do Baixo Mondego e do Pinhal Litoral foram afetadas pela passagem da tempestade Leslie. As searas tinham resistido ao aumento das temperaturas e da insolação no verão e tinham aumentado o número e o tamanho das espigas por planta, o que fazia antever um aumento na produção. Previsões que não chegaram a ser alcançadas visto que os ventos e chuvas fortes acabaram por destruir parte das searas que ainda não tinham sido colhidas.

A produção de milho de sequeiro deverá assim manter-se igual à de 2017, 279 toneladas. Já o arroz poderá registar uma quebra para 171 toneladas, face às 180 toneladas do ano passado.

Mais kiwi. Muito mais castanha
Registo positivo para o kiwi. Apesar de a tempestade Leslie ter destruído 30% dos pomares do Baixo Vouga, a produção deverá rondar as 33 mil toneladas, a segunda maior de sempre. Ultrapassada apenas pela produção do ano passado, que ultrapassou as 35 mil toneladas.

Também a castanha, apesar de ter o ciclo produtivo em atraso, deverá aumentar 5% a produção face ao ano passado e em linha com os últimos cinco anos

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS VÃO AFETAR A VITICULTURA EUROPEIA ATÉ AO FINAL DO SÉCULO

A conclusão é de um estudo inédito realizado por investigadores da UTAD aplicado ao continente europeu e que foi já publicado na prestigiada revista cientifica Global Change Biology.

Equipa do CITAB-UTAD envolvida no estudo: (da esquerda para a direita) João Santos, Helder Fraga e Aureliano Malheiro.
por         barlavento Julho 22, 2016

A viticultura pode sofrer impactes, de forma distinta, nas diferentes regiões da Europa. A conclusão vem do estudo realizado por Helder Fraga, a realizar um pós-doutoramento na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) sob a orientação de João Santos, especialista em climatologia do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) e docente da UTAD.

Neste trabalho a equipa de investigadores do CITAB/UTAD, em colaboração com o Instituto de Investigação Agrária Francês (INRA), analisou a adequação da viticultura, produção, fenologia e índices de stresse hídrico e de azoto na Europa, para climas atuais (1980-2005) e futuros (2041-2070).

Neste estudo «inovador a nível mundial» foram simulados dois cenários, um mais moderado e outro mais gravoso, para a avaliação dos impactes do aumento futuro das concentrações de gases com efeito de estufa na viticultura Europeia. De acordo com a investigação, as alterações climáticas projetadas para a Europa “poderão modificar o terroir de cada região, incluindo a qualidade e tipicidade dos respetivos vinhos”.

Em causa está o aumento generalizado da temperatura por toda a Europa, o que poderá ter impactes significativos, quer positivos quer negativos, nas regiões vitivinícolas atuais, e permitir o aparecimento de novas regiões vitivinícolas no Centro e Norte da Europa. Por outro lado, a diminuição da precipitação no Sul da Europa conduzirá a uma intensificação do stress hídrico da videira, que em algumas regiões poderá ser particularmente severo.

«As projeções futuras indicam um aumento de produção em grande parte da Europa, inclusivamente com condições mais favoráveis para a produção de vinho de elevada qualidade nas regiões atualmente mais frias. No entanto, em algumas regiões do Sul da Europa, já atualmente muito quentes e secas, poderão surgir efeitos claramente adversos na produção e na qualidade», esclarece Helder Fraga.

A equipa de investigadores do CITAB/UTAD realizou simulações baseadas num conjunto de modelos climáticos de elevada resolução espacial e num modelo de cultura aplicado à videira, em mais de 75 000 pontos sobre a Europa. Foi simulado o desenvolvimento da videira levando em consideração as condições de clima, solo e orografia, as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono, as práticas agrícolas, entre outros parâmetros. Estas simulações exigiram elevados recursos computacionais e foram integralmente realizadas na UTAD.

Promover a sustentabilidade

Apesar dos resultados apresentados pela investigação, o cenário poderá ser menos «dramático». O especialista João Santos do CITAB/UTAD considera que as alterações climáticas devem ser encaradas como uma «oportunidade» para desenvolver práticas agrícolas mais eficientes e ambientalmente sustentáveis, procurando soluções inovadoras que tornem o setor mais competitivo.

«O que vai acontecer ao clima no futuro está muito dependente da ação do Homem no presente. Este estudo serve essencialmente como meio de apoio à decisão. Mas, caso o setor não se adapte poderá sofrer consequências indesejáveis», alerta o especialista em climatologia.

«Embora as alterações climáticas possam modificar o terroir das diferentes regiões vitivinícolas europeias, o que se sugere é um planeamento atempado de medidas de adaptação, algumas delas já a serem gradualmente implementadas pelo setor vitivinícola, de modo a garantir a sustentabilidade futura deste setor chave da economia europeia e que todos muito estimamos», finaliza João Santos.

Esta investigação está inserida no âmbito do projeto ModelVitiDouro, financiado pelo Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER) e pelo Estado Português através da Medida 4.1. Cooperação para a Inovação do programa PRODER – Programa de Desenvolvimento Rural, e insere-se numa das linhas de investigação da Plataforma da Vinha e do Vinho, um projeto recentemente criado pela UTAD.

Os investigadores estão já a desenvolver um estudo mais detalhado para as regiões vitivinícolas portuguesas.

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