O Público publica hoje este artigo à volta do percurso do
Principe Carlos. Embora lhe faça justiça nalguns aspectos, ilustrando-os, este
artigo mantém um tom ambíguo, logo denunciado pela ambiguidade do seu título: ‘O
paciente inglês’… que deveria de imediato ser substituído por ‘O promissor
inglês’
A escolha da imagem também é nítidamente ambígua, para não dizer tendenciosa ...
Comparar com a imagem do artigo da Vanity Fair no 'post'
anterior.
A popularidade e a aceitação e reconhecimento do seu notável
e coerente percurso não tem deixado de crescer. OVOODOCORVO publica hoje um
artigo do Guardian sobre o grande sucesso de Pounbury, uma vila baseada coerentemente nas suas ideias sobre o
Urbanismo, e concebida em conjunto com Leon Krier.
O editor de OVOODOCORVO publicou em colaboração com Leon
Krier a tradução para a Língua Portuguesa do Manifesto “Arquitectura Escolha ou
Fatalidade” da autoria de Krier.( ver posts abaixo)
OVOODOCORVO
O príncipe Carlos faz 70 anos: o paciente inglês
O príncipe de Gales celebra esta semana o seu 70.º
aniversário. À medida que a rainha Isabel II foi caminhando para o mais longo
reinado da história da monarquia britânica, o herdeiro da coroa bateu também o
recorde da maior espera para subir ao trono. Depois de um percurso marcado por
opiniões controversas e pelos escândalos de infidelidade, Carlos garante que
será um monarca isento.
CATARINA LAMELAS MOURA 11 de Novembro de 2018, 8:35
O filho mais velho de Isabel II tornou-se herdeiro da coroa
aos três anos, após a morte do seu avô materno, o rei Jorge VI EVAN
BARNES/REUTERS
Em toda a história da monarquia britânica nenhum herdeiro
esperou tanto tempo para suceder ao trono. O príncipe Carlos celebra esta
quarta-feira, 14 de Novembro, o seu 70.º aniversário e prepara-se para,
qualquer dia, assumir o cargo mais importante da sua vida – apesar de já ter
ultrapassado a idade da reforma da maioria das pessoas.
Num documentário que se estreou esta semana na televisão, o
príncipe falou sobre a postura que irá adoptar enquanto monarca. Garantiu, por
exemplo, que a partir do momento em que subir ao trono não irá envolver-se em
temas controversos ou expressar opiniões da mesma forma como fez ao longo da
vida. Há muito que o herdeiro da coroa se pronuncia sobre tópicos como o
ambiente e a arquitectura moderna, levantando críticas entre aqueles que
defendem que os membros da realeza não devem interferir neste tipo de assuntos.
É uma atitude contrastante com a da actual monarca, que é conhecida
precisamente pela sua abordagem passiva.
Em 1984, por exemplo, Carlos classificou uma proposta de
expansão da National Gallery, em Londres, como um “mamarracho monstruoso [tradução
livre]”, durante um discurso que supostamente seria não mais do que um elogio
ao 150.º aniversário da Royal Institute of British Architects. Tornaram-se
também alvo de crítica as cartas que tinha por hábito escrever a diferentes
ministros e primeiros-ministros — incluindo, por exemplo, a Tony Blair. Eram
conhecidas como spider memos e há três anos o Guardian publicou uma série
delas. Em 1993, o príncipe fundou a Poundbury, uma vila-modelo localizada em
terras pertencentes ao ducado da Cornualha, construída de forma contrastante
com grande parte dos subúrbios da época, com uma maior densidade populacional e
centrada no peão em vez do carro.
“Apesar de os seus críticos classificarem os seus pontos de
vista como ‘ofensivos, reaccionários e irreflectidos’, os conservadores do
património têm agora um papel de maior destaque no desenvolvimento urbano,
mostrando que Carlos ou influenciou a mudança de tendência ou conseguiu
prevê-la”, aponta a BBC. Foi também pioneiro no que toca a causas ambientais,
defendendo a produção orgânica e avisando contra o aquecimento global. Em 1990,
fundou uma empresa de produtos orgânicos, a Duchy Organic, cujos lucros
revertem a favor das causas apoiadas pela Prince of Wales's Charitable
Foundation.
“Carlos apercebeu-se há muito tempo que iria ser príncipe de
Gales durante um longo período. Ele planeou a sua vida de acordo com isso e não
teria tido a capacidade de realizar metade do que conseguiu se se tivesse
tornado rei mais cedo”, afirma um amigo íntimo da família real, citado pela
Vanity Fair.
O filho mais velho de Isabel II tornou-se herdeiro da coroa
aos três anos, após a morte do seu avô materno, o rei Jorge VI. Aos nove anos
ganhou o título de príncipe de Gales e aos 20 teve a sua cerimónia de
investidura. Estudou em Cambridge e seguiu uma carreira militar na Marinha,
durante a década de 1970, focando-se mais tarde no papel de membro da família
real, a partir do casamento com Diana, em 1981.
O filho mais velho do seu casamento com a chamada “princesa
do povo” — William — parece ter planeado
o seu percurso com uma lógica semelhante. Numa entrevista à BBC em 2016, o
segundo na linha de sucessão ao trono afirmou que, actualmente, um dos seus
focos é a família e a educação dos três filhos. “A minha avó está extremamente
activa ao leme da família, como monarca. O meu pai está extremamente ocupado
com as suas actividades de caridade e outras responsabilidades. Há o tempo e o
espaço para explorar outras formas de fazer um trabalho digno”, disse,
acrescentando ainda: “Acho que a família real tem de se modernizar e
desenvolver. Esse é o desafio para mim.” Garantiu também que não tinha pressa
em chegar ao trono.
Apesar de não suscitarem o mesmo apelo mediático que
William, Kate, Harry e Meghan, os membros mais velhos da família real são os
que, ano após ano, cumprem o maior número de compromissos: em 2017, Carlos
ficou em primeiro lugar (com 546 contabilizados), seguido da princesa Ana (com
540) e do príncipe André (com 326).
A popularidade dos membros mais novos já levou alguns a
especular e outros a sonhar com a remota possibilidade de o trono passar
directamente de Isabel II para William. Mas este é um cenário bastante
improvável. Richard Fitzwilliams, especialista na monarquia britânica, dá uma
resposta peremptória ao P2: “Não, não. Posso simplesmente responder que a
monarquia não funciona dessa forma.”
Durante uma cimeira com os chefes de Estado dos países da
Commonweath, em Abril, a rainha pronunciou-se sobre a sua sucessão, expressando
o desejo de que o filho, Carlos, fosse eleito como o próximo chefe da
Commonwealth. Ao contrário da coroa, este título não é automaticamente
atribuído. No dia seguinte, a primeira-ministra Theresa May confirmou que a
vontade da rainha tinha sido aprovada de forma unânime pelos líderes dos 53
países membros, sublinhando o apoio que o príncipe tem dado à Commonwealth nas
últimas quatro décadas.
Uma monarquia popular
O nome de Carlos ficou, claro, para sempre associado ao de
Diana. O 20.º aniversário da morte da princesa, no ano passado, voltou a abrir
feridas antigas. Entre os escândalos de infidelidade e do divórcio e a atitude
da rainha após a morte da princesa (considerada fria por muitos), a imagem da
monarquia britânica vacilou no final da década de 1990. Desde então, a família
real reconquistou o apoio popular, com a ajuda de uma evolução na comunicação
do Palácio de Buckingham e uma nova geração que atrai multidões de milhares nas
ruas e milhões de espectadores nas emissões televisivas das cerimónias de
casamento.
De acordo com alguns comentadores reais, é a combinação da
atitude sóbria da rainha e das transformações ao longo dos anos que tem mantido
o estatuto moderno da monarquia. Ainda assim, rainha Isabel II, escreve o
Guardian, foi “mudando a sua imagem pública de forma subtil, tornando-se mais
empática e humana, mais a imagem de uma avó”. A monarca é de longe a figura
real com mais apoio popular, de acordo com várias sondagens: a empresa de
pesquisa de mercado Ipsos-Mori questionou entre 2006 e 2016 se os britânicos estavam
satisfeitos com o trabalho da rainha e as respostas positivas variaram entre
98% e 90%, enquanto o Yougov indica que 74% das pessoas inquiridas têm uma
opinião favorável em relação a Isabel II.
Já Carlos, apesar de ter recuperado também em parte uma
opinião favorável, não é ainda assim a figura mais apoiada da monarquia. A
mesma sondagem da Ipsos-Mori mostra que em 1998, 2012 e 2016, a taxa de
satisfação em relação ao papel do príncipe subiu de 63% para 78% e depois
passou para 71%.
De acordo com um longo perfil de Carlos, publicado
recentemente pela Vanity Fair, foi feita uma campanha meticulosa para
reabilitar a imagem do príncipe, bem como para ganhar o apoio do público em
relação a Camilla Parker Bowles — com quem Carlos acabou por casar, em 2005,
com a bênção do arcebispo da Cantuária. Mark Bolland, que foi secretário
particular do príncipe entre 1997 e 2002 e conduziu este esforço de relações
públicas, garante à revista que Carlos e Camila “estão a passar um momento
muito bom”. Ainda este ano, no casamento de Harry e Meghan, o príncipe — que
acompanhou a noiva ao altar — foi altamente elogiado pela forma subtil como, ao
longo da cerimónia, teve o cuidado de se certificar de que a mãe de Meghan, Doria
Ragland, se sentia confortável.
“O afecto em massa para com Carlos não é apenas um produto
de esforços de relações públicas. O seu vasto trabalho filantrópico tocou
pessoalmente uma grande porção da população britânica”, escreve ainda a Vanity
Fair. Fitzwilliams faz a mesma ressalva, acrescentado que, apesar da “vida
privada muito controversa” de Carlos, “há apoio em todos os grupos etários à
família real”.
“Estamos num período
imprevisível politicamente”, atira ainda. “O 'Brexit' é um tema muito diviso. E
a família real personifica estabilidade, continuidade e união nacional.”
Quando discursou na abertura da cimeira da Commonwealth, a
rainha frisou precisamente esta questão. “É o meu desejo sincero que a
Commonwealth continue a oferecer estabilidade e continuidade para gerações
futuras. E decida que um dia o príncipe de Gales deverá continuar o importante
trabalho começado pelo meu pai, em 1949”, afirmou. “Continuando a estimar e
revigorar as nossas associações e actividades, acredito que vamos assegurar um
mundo mais seguro, mais próspero e sustentável para aqueles que nos seguem.”
tp.ocilbup@aruoM.anirataC
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