Desmatamento da Amazônia pode triplicar com Bolsonaro, dizem
cientistas
Ações planejadas por candidato podem fazer desmatamento
subir 268%, saltando dos atuais 6,9 mil km² para 25,6 mil km² ao ano
Por Giovana Girardi, do Estadão Conteúdo access_time 23 out
2018, 20h39
Amazônia: bioma pode ser afetado por redução do trabalho de
fiscalização do Ibama, pela autorização da mineração em terras indígenas e pela
saída do Brasil do Acordo de Paris (iStock/Thinkstock)
Cientistas, ambientalistas, ex-ministros do Meio Ambiente,
além do atual gestor da pasta, vêm alertando há algumas semanas que, se o
candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) cumprir o que vem prometendo para
a área ambiental, caso seja eleito, o desmatamento da Amazônia poderia
disparar.
Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) – justamente o órgão que hoje monitora o desmatamento no bioma
– acabou de fazer essa conta e estimou que a perda da floresta pode triplicar.
Trabalhando com uma modelagem matemática, eles simularam
como pode se dar a movimentação pelo uso da terra na Floresta Amazônica em um
cenário em que o Ministério do Meio Ambiente seja subordinado ao Ministério da
Agricultura, que o trabalho de fiscalização do Ibama seja reduzido, que a
mineração seja autorizada em terras indígenas, e que o Brasil saia do Acordo de
Paris – situações que foram sinalizadas nos últimos meses por Bolsonaro e sua
equipe.
Essas ações, somadas à demanda internacional por
commodities, poderiam fazer o desmatamento subir 268%, saltando dos atuais 6,9
mil km² (valores do ano passado) para 25,6 mil km² por ano já a partir de 2020,
segundo os cálculos feitos pela matemática e cientista da computação Aline
Soterroni e pelo engenheiro mecânico Fernando Ramos, ambos do Inpe, com
pesquisadores da Áustria e dos Estados Unidos.
Esse valor é muito próximo das taxas observadas no início
dos anos 2000, quando se chegou a um pico de 27,8 mil km² em 2004. Foi essa
situação que motivou a adoção, por parte da então ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, de uma série de ações combinadas para controlar a devastação da
floresta. Em 8 anos, a taxa caiu 83%, chegando ao valor mais baixo em 2012 –
4,6 mil km². De lá para cá, o índice vem flutuando e cresceu um pouco, mas
ainda abaixo dos 8 mil km².
Especialistas de várias áreas, inclusive do agronegócio mais
moderno, consideram que várias fatores contribuíram para a enorme queda até
2012: criação de novas unidades de conservação e de terras indígenas, melhor
aplicação da legislação ambiental existente, intervenções nas cadeias de
fornecimento e restrições de crédito e multas e embargos de desmatadores
ilegais. Além da variação do mercado internacional de commodities.
Alterações nessa complexa estrutura têm efeito imediato.
Recentes quedas no orçamento do Ibama, por exemplo, nos anos de 2016 e 2017
levaram a um repique da taxa. A mudança do Código Florestal e movimentações no
Congresso para redução de unidades de conservação também.
Para chegar à estimativa do que pode ocorrer num eventual
cenário de baixa governança ambiental, os pesquisadores trabalharam com uma
modelagem econômica já conceituada do Inpe que simula a competição por terra
para atender à crescente demanda global por importantes commodities, como carne
bovina e soja.
O modelo, publicado anteriormente em revistas científicas,
se mostrou eficaz quando usado em retrospectiva, ou seja, quando se considerou
variáveis passadas para validá-lo para as simulações futuras. Ele foi usado
pelo governo brasileiro para construir suas metas de conter o desmatamento
ilegal até 2030 que foram submetidas junto ao Acordo de Paris.
Agora os pesquisadores avaliaram as movimentações que podem
ocorrer no período de 2020 a 2030 e fizeram uma média anual. “É um modelo
econômico de equilíbrio para o uso da terra. Ele simula numericamente a
competição pelo uso da terra para produção de commodities agrícolas, entre eles
soja e carne. É um modelo global, que responde à demandas”, explica Aline.
“No ‘cenário Bolsonaro’, simulamos o não cumprimento do
Código Florestal, com a competição pelo uso da terra sendo regida pela demanda.
O resultado é que, em uma década, o desmatamento médio para vai 25,6 mil km².
Não é algo absurdo de se imaginar, pois já tivemos taxas parecidas em 2004,
quando praticamente não havia políticas de combate ao desmatamento”, continua a
pesquisadora. “O modelo indica numericamente um retrocesso.”
Especialistas do chamado “agronegócio moderno” têm ponderado
que Bolsonaro é um legalista e que deve seguir o que prevê o Código Florestal,
permitindo somente o desmatamento legal – no caso da Amazônia, 20% da área da
propriedade rural.
Ramos argumenta que só a existência da lei não garante seu
cumprimento. “Em 2004 o Código Florestal era até mais restritivo (ele foi
alterado em 2012) e isso não evitou que o desmatamento passasse de 27 mil km².
Não é questão de existir legislação, mas de ser cumprida. Se o Ministério do
Meio Ambiente, o Ibama e o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade, que cuida de unidades de conservação) perdem força, se acabar
com os mecanismos de governança, como o governo brasileiro vai cumprir a lei?”
Outra ponderação que vem sendo feito por especialistas do
agro é que o mercado externo vai reagir a produtos provenientes de áreas
desmatadas, o que pode acabar inibindo uma degradação maior. Para os
pesquisadores, porém, até essa reação ocorrer, a floresta já poderá ter sido
fortemente afetada.
Scientists are terrified that Brazil’s new president will
destroy the ‘lungs of the planet’
Hilary Brueck
30 Oct 2018 1480
On Sunday, Brazil elected the far-right presidential
candidate Jair Bolsonaro.
Scientists across the globe are worried about Bolsonaro’s
plans.
Bolsonaro has indicated he wants to plow through Brazil’s
Amazon, the Earth’s biggest and most diverse tropical rainforest, which helps
cool the planet.
Jair Bolsonaro, Brazil’s far-right presidential candidate,
swept the polls on Sunday to win the election.
“Brazilians are exhausted by corruption, by rising violence,
by an economy that just hasn’t improved,” and Bolsonaro has made a lot of
promises to fix those things, according to Peter Prengaman, The Associated
Press’ Brazil news director.
Bolsonaro, who has been called the “Trump of the Tropics”
and has a history of making anti-gay, misogynistic, violent, and racist
comments, is also taking aim at the country’s environmental policies. And
scientists across the globe are worried.
As Brazil’s president, Bolsonaro will control nearly
two-thirds of the Amazon, the largest tropical rainforest on Earth. He has
argued that too many environmentally protected areas are hampering the
country’s development.
Bolsonaro has said he’s thinking about opening up a highway
through the Amazon and barring environmental nongovernmental organizations like
Greenpeace and the World Wildlife Fund from the country, The Guardian reported
earlier this month.
Bolsonaro plans to cut down more of the world’s largest
tropical rainforest, and critics fear he’ll ‘institutionalize genocide’ in the
Amazon
Bolsonaro recently promised reporters that Brazil would stay
in the Paris agreement, the landmark global climate deal he has been critical
of in the past. But it’s unclear how he’d uphold Brazil’s end of that deal
while simultaneously cutting down large swaths of the Amazon, which helps keep
the world cool.
Bolsonaro has also indicated he plans to eliminate Brazil’s
Ministry of the Environment, Science magazine reported.
“His reckless plans to industrialize the Amazon in concert
with Brazilian and international agribusiness and mining sectors will bring
untold destruction to the planet’s largest rainforest and the communities who
call it home and spell disaster for the global climate,” Christian Poirier, the
program director of Amazon Watch, said in a statement after Bolsonaro’s
election.
Poirier isn’t the only one who’s concerned.
“I think we are headed for a very dark period in the history
of Brazil,” Paulo Artaxo, a climate change researcher at the University of Sao
Paulo in Brazil, told Science. “There is no point sugarcoating it. Bolsonaro is
the worst thing that could happen for the environment.”
Genevieve Guenther, who founded EndClimateSilence.org, said
on Twitter that Bolsonaro’s election “guarantees that Brazil will do nothing to
curb pollution emission and untold acres of the Amazon rainforest will be
destroyed,” while the meteorologist Eric Holthaus argued that a forest-privatization
scheme that the new president has in mind is essentially “planetary suicide.”
Other scientists, like Jess Phoenix, a volcanologist who ran
in a Democratic primary race in Southern California over the summer, agreed.
Some indigenous people who live in the forest said they
feared that more loggers and miners could head toward their homes under
Bolsonaro.
“We are very scared. I fear for my own life,” Dinaman Tuxa,
the national coordinator of Brazil’s Association of Indigenous Peoples, said in
an interview with Brazil de Facto, adding that Bolsonaro would
“institutionalize genocide.”
Christopher Dick, a tropical-plant expert at the University
of Michigan, said on Twitter that if Bolsonaro “carries through on his rhetoric
we can expect tribal genocide, torture of dissidents, and climate altering
destruction of Amazon forest.”
“This is a nightmare scenario,” he added. “I hope I am
wrong.”
The Amazon is literally breathing life into the planet
Plants in the rainforest suck carbon dioxide from the
atmosphere, use the carbon to grow, and release oxygen back into the air. This
is why the Amazon, which covers 2.1 million square miles, is often referred to
as the “lungs of the planet.”
The forest helps our spinning ball breathe carbon dioxide in
and exhale oxygen back out, performing a critical check on human-fueled climate
change. Scientists have estimated that the Amazon may house one-sixth of the
carbon stored in vegetation around the world.
Environmental experts argue that this carbon-sucking system
is one of the best solutions we have for climate change.
“We have to take carbon dioxide basically out of the
atmosphere in order to prevent a very dangerous increase in temperature, and
major increases in floods, severe storms, and heat waves,” Doug Boucher, a
science adviser at the Union of Concerned Scientists, told Grist magazine
earlier this month. “The best way we know to take carbon dioxide out of the
atmosphere is to preserve and rebuild forests.”
Though the Amazon is the most diverse forest on the planet,
scientists say that less than 0.5% of its flowering plant species have been
studied for their medicinal potential, according to the WWF. A damning new
report the organization released Tuesday said it found that “a fifth of the
Amazon has disappeared in just 50 years.”
As Brazil has raced to keep pace with demand for more beef
and soybean production, pieces of the Amazon the size of entire countries have
been cleared. In one particularly intense tree-cutting period from 1991 to
2000, an area the size of Spain was cut down. That rapid pace of deforestation
has slowed in recent years, though the trend of trading trees for livestock and
agriculture is expected to continue.
Even though Amazonian soil is not good for farming,
scientists estimate that an area the size of Delaware, or more than 1,900
square miles, was bulldozed through last year, and they expect that to rise
under Bolsonaro.
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