Cavaco
deverá sublinhar desafios ao dar posse a Costa
No
Palácio da Ajuda, às 16 horas, Cavaco dá posse a Costa. É o
arranque do XXI Governo, de minoria, com apoio da esquerda
parlamentar, que se anuncia de combate. O programa é debatido a 1 e
2 de Dezembro.
São José Almeida
26/11/2015 – PÚBLICO
Quando hoje, às
16h, der posse ao XXI Governo, chefiado pelo líder do PS, António
Costa, o Presidente da República deverá apresentar a sua posição
sobre o processo de formação do executivo, bem como a leitura que
faz dos desafios que se apresentam a Portugal na próxima
legislatura.
Não é expectável
que Cavaco Silva apresente um caderno de encargos, tanto mais que
está em fase final do seu segundo mandato presidencial, mas tudo
indica que, no discurso de posse do Governo, o Presidente repita o
que tem sido a sua atitude de procurar sinalizar os obstáculos e as
dificuldades que o país ainda tem enfrentar e a necessidade de que
seja feita uma governação cuidada e dentro do que são os
compromissos do país e em obediência às regras que estão
estabelecidas com os credores da dívida. Outra questão que deverá
ser reafirmada pelo Presidente é a necessidade de o Governo
respeitar as instituições e os acordos internacionais a que está
obrigado.
No Palácio da
Ajuda, tomarão posse todos os membros do Governo, os 17 ministros e
os 41 secretários de Estado, numa cerimónia conjunta à imagem do
que aconteceu a 30 de Outubro, com o XX Governo, liderado por Pedro
Passos Coelho. Antes, Passos será recebido ao meio-dia pelo
Presidente, ainda como primeiro-ministro em gestão, depois de, pela
manhã, presidir ao última reunião do Conselho de Ministro do
executivo cessante, que foi derrotado no Parlamento a 10 de Novembro
com uma moção de rejeição do programa apresentada pelo PS e
aprovada também pelo BE, PCP, PEV e PAN.
Após tomar posse e
entrar na residência oficial de São Bento, António Costa preside
ao primeiro Conselho de Ministros na sexta de manhã. Estreia-se como
primeiro-ministro nos palcos internacionais, estando presente na
Cimeira Europeia em Bruxelas sobre refugiados no domingo e na Cimeira
do Clima em Paris, na segunda-feira. Já na terça e quarta-feira
será a vez de debater o programa de Governo no Parlamento.
Combate político
O Governo liderado
por António Costa é um Governo de combate político que reúne
algumas figuras com história própria na política institucional
portuguesa e no PS, bem como estreantes nas lides governativas, sendo
que alguns destes têm contudo experiência partidária.
Sendo um executivo
minoritário que vive de acordos políticos com o BE, o PCP e o PEV,
a componente e o peso político de alguns dos seus membros é grande,
mas igualmente importante é a frente parlamentar onde António Costa
colocou o seu presidente de partido, Carlos César, que apresentou
aos deputados como “o número dois do Governo”, quando este foi
eleito líder parlamentar do PS.
É a César que
caberá gerir o embate parlamentar com o PSD e o CDS, em cujas
bancadas estarão Passos Coelho e Paulo Portas, bem como coordenar a
gestão dos entendimentos com os parceiros de acordos. Além de
Carlos César, a frente do Governo na Assembleia será desempenhada
pelo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Pedro Nuno
Santos.
A importância da
experiência política neste Governo é simbolizada pelo segundo nome
no organigrama oficial: o ministro dos Negócios Estrangeiros,
Augusto Santos Silva. Com história política própria desde jovem,
Santos Silva é um dos veteranos dos governos socialistas: secretário
de Estado da Administração Educativa (1999-2000), ministro da
Educação (2000-2001) e da Cultura (2001-2002) com António Guterres
e depois ministro dos Assuntos Parlamentares (2005/2009) e da Defesa
(2009/2011), nos executivos de José Sócrates, a cujo “núcleo
político” pertenceu.
Depois de o modelo
inicial de Governo de António Costa ter sido alterado pela recusa de
Elisa Ferreira de aceitar ser ministra dos Assuntos Europeus, cabe a
Santos Silva liderar a frente europeia, uma das apostas de Costa que
pretende ter uma atitude negocial e impositiva perante os parceiros
europeus, pelo que precisa de alguém com consistência política
nesta pasta. Sob a tutela de Santos Silva ficará a secretária de
Estado dos Assuntos Europeus, Margarida Marques, membro do
Secretariado do PS, histórica dirigente da JS, que foi alta
funcionária em Bruxelas.
No Conselho de
Ministros irão ter assento outros ministros com peso político
próprio: Vieira da Silva (Trabalho, Solidariedade e Segurança
Social), João Soares (Cultura), Capoulas Santos (Agricultura), Ana
Paula Vitorino (Mar), Maria Manuel Leitão Marques (Presidência e da
Modernização Administrativa), estas duas últimas com poderes
transversais.
Num executivo
composto por treze ministros e quatro ministras e completado por 41
secretário de Estado dos quais 16 são mulheres, e em que pela
primeira vez em Portugal há um membro negro de origem africana
(Francisca Van Dunem, na Justiça), além de um primeiro-ministro de
origem goesa, há vários estreantes. Refira-se ainda que é a
primeira vez que há uma secretária de Estado amblíope, Ana Sofia
Antunes (Inclusão das Pessoas com Deficiência) e um secretário de
Estado de origem cigana, Carlos Miguel (Autarquias Locais).
Alguns já com
experiência política – Mário Centeno (Finanças), Eduardo
Cabrita (Adjunto), João Soares (Cultura), Manuel Heitor (Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior), Adalberto Campos Fernandes (Saúde),
Pedro Marques (Planeamento e das Infraestruturas), Manuel Caldeira
Cabral (Economia) e Matos Fernandes (Ambiente). Outros absolutos
estreantes: Azeredo Lopes (Defesa), Constança Urbano de Sousa,
(Administração Interna), Francisca Van Dunem (Justiça) e Tiago
Brandão Rodrigues (Educação).
Refira-se ainda que
no XXI Governo voltam a estar autonomizados os Ministérios do Mar,
da Cultura, da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, do Planeamento
e das Infraestruturas e do Ambiente
Sem comentários:
Enviar um comentário