segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Serão as ruas desertas de Bruxelas uma imagem da Europa do futuro? / Belgian police capture Paris attack suspect / Financial Times

Serão as ruas desertas de Bruxelas uma imagem da Europa do futuro?
CLARA VIANA 23/11/2015 - PÚBLICO

Paris pode ser a imagem da raiva e Bruxelas a do medo, mas também poderão vir a ser um retrato do passado e do futuro europeus – o futuro de ruas vazias que o Daesh deseja para o mundo. As reacções ao terror vistas por investigadores e não só.

Será Paris, com pessoas na rua e nas esplanadas, uma imagem do passado? E Bruxelas, quase deserta este fim-de-semana, uma imagem do futuro? A interrogação é lançada pelo sociólogo Filipe Carreira da Silva, quando questionado pelo PÚBLICO sobre o que justificará a diferença de reacção nas duas capitais face à ameaça terrorista.

Uma semana após os atentados que fizeram 130 mortos, muitos parisienses saíram à rua, como sempre fizeram, mas desta vez com um propósito claro. “Se beber uns copos, ir ao concerto ou ao jogo se vai tornar um combate, podem tremer, terroristas, porque nós estamos bem treinados!”, proclamava-se num cartaz afixado na capital francesa.

Tem sido assim desde o dia seguinte aos atentados, embora com menos gente do que é habitual nas ruas de Paris. Para Carreira da Silva, que é investigador do Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa, e foi professor na Universidade de Cambridge, “à primeira vista, a diferença entre o que se passa nas duas capitais será o facto de em Paris já ter acontecido e em Bruxelas ser ainda ‘só’ um alerta".

Mas há também esse outro cenário mais arrepiante que o investigador avança, a de Paris como a imagem de uma Europa do passado e a de Bruxelas como o retrato do futuro “desejado pelo Daesh [o nome em árabe do autoproclamado Estado Islâmico] para a Europa e o Ocidente”. “Será o nosso futuro com ruas vazias de pessoas e o exército nas ruas como neste fim-de-semana em Bruxelas?”, questiona, adiantando que para que tal “não se torne verdade não basta desejar: "Há que agir concertadamente, em nome dos valores que nos unem, de modo a garantir a paz na Europa e no próprio Médio Oriente."

O eurodeputado Paulo Rangel, que na quinta-feira chegou da capital belga, lembra que, ao contrário de Bruxelas, “Paris nunca esteve em estado de sítio”. “Há tanques nas ruas e recomendações expressas do Governo para que não se use os transportes e outros espaços públicos e as pessoas estão a seguir essas directivas. Por outro lado, as escolas e o metro vão continuar fechados e basta isso para mudar o quotidiano de toda a gente”, diz.

Ao contrário do que sucedeu em Paris, onde os principais monumentos e espaços públicos ficaram com segurança reforçada, em Bruxelas todas as forças de segurança estão envolvidas “numa caça ao homem”, em rusgas sucessivas, que as impede de assegurar a vigilância dos espaços mais movimentados, o que aumenta o sentimento de insegurança entre os habitantes, adianta Rangel, acrescentando que se vive ali com a percepção de que, em qualquer altura, poderá acontecer um “acto violento” – já não talvez o atentado para o qual as autoridades alertaram, mas uma acção levada a cabo pelos suspeitos que continuam a ser procurados e que sentem “não ter já nada a perder”. “As pessoas e as autoridades têm essa percepção”, diz.

Por toda a Europa, as medidas de segurança têm vindo a ser reforçadas, incluindo em Portugal. Rangel conta a propósito que, na quinta-feira, foi-lhe pedido o passaporte, quando desembarcou em Lisboa vindo de Bruxelas. Foi a primeira vez que tal lhe sucedeu desde que Portugal aderiu ao espaço Schengen, em 1991, mas agora os voos a partir da capital da União Europeia passaram a estar sob suspeita.

Medo versus raiva
Luísa Lima, professora de Psicologia Social no ISCTE, adianta que “têm sido estudadas dois tipos de reacção emocional a situações de terrorismo: uma centrada no medo, outra na raiva”. “O medo é um sentimento inibidor, de retracção e que aumenta a percepção de ameaça. A raiva, pelo contrário, tem um perfil mais activo, motivando à acção e que diminui a percepção de risco”, explica.

Bruxelas poderá ser assim a imagem do medo e Paris a da raiva. “O que diferencia o espoletar de uma das duas emoções é a percepção de controlo. Quando acreditamos que se pode fazer alguma coisa para prevenir novos atentados, tendemos a sentir menos medo (e mais raiva)”, especifica a investigadora, para acrescentar que, “neste caso, falamos de um tipo de controlo que não é individual, mas prende-se com a confiança nas autoridades, na tecnologia e nas instituições do próprio país”.

Este controlo “prende-se também com o orgulho nacional e a identificação com os valores associados à pátria”. Nos inquéritos internacionais, “os franceses aparecem como um dos povos em que o orgulho nacional é maior”, lembra Luísa Lima. “Esta forte identidade nacional é outra das bases de combate ao medo”, frisa.

A Bélgica está, neste aspecto, no pólo oposto, constata a socióloga Margarida Marques, da Universidade Nova de Lisboa: “É um país dividido em duas comunidades (francófona e flamenga), que vivem de costas voltas uma para a outra e com frequentes ameaças de cisão.” Por outro lado, acrescenta, “Paris sempre foi uma cidade muito mais cosmopolita do que Bruxelas e com uma muito maior tradição de ocupação do espaço público”. A acrescentar a tudo isto, refere ainda Margarida Marques, e por ser uma cidade muito mais pequena do que Paris, a percentagem da população muçulmana em Bruxelas faz-se sentir com mais acuidade, o que também poderá explicar as ruas desertas da capital belga: “Há uma maior retracção da população muçulmana nestes momentos, porque tem medo não só de ser também atingida por actos terroristas, como de ser atacada devido à facilidade com que, nestas situações, se cola tudo o que é muçulmano ao terrorismo.”

Já para o ex-eurodeputado e historiador Rui Tavares, as diferenças de base entre as duas cidades, onde já viveu, não são assim tão visíveis. “São duas cidades europeias, que não se distinguem muito uma da outra, embora Paris seja muito maior e com uma vivência mais acentuada, enquanto Bruxelas é mais contida e compartimentada.”

Tavares considera assim também que as imagens diferentes que chegam de um lado e de outro têm a que ver sobretudo com o facto de em Paris a ameaça já ter sido concretizada, e por isso a saída à rua reveste a forma de um “desafio colectivo”, enquanto em Bruxelas ainda se está na fase do “pré-acto, estando as pessoas a cooperar com as autoridades”.

Voltando a uma abordagem mais psicológica, poder-se-á afinal dizer o que já se sabe a propósito de outras situações de trauma: "não parar" é também uma forma de fazer o luto por uma enorme tragédia que, de facto, já aconteceu em Paris e que, para já, é "apenas" uma ameaça em Bruxelas.

Belgian police capture Paris attack suspect
Peter Spiegel and Jim Brunsden in Brussels

Last updated: November 24, 2015

Belgian authorities captured a man suspected of involvement in the November 13 terrorist attacks in Paris during a series of raids on Sunday night, the federal prosecutor announced.
The prosecutor stated that the man, whom he declined to identify, was charged with “participating in activities of a terrorist group” and with executing the Paris plot.
Despite the break, which occurred as Brussels was in the midst of a security lockdown ordered by the Belgian government on Saturday, Charles Michel, the prime minister, said that the city would remain at the highest terrorism alert until Monday.
“The Belgian government and the Belgian people are confronted with a difficult situation,” Mr Michel said. “We are doing everything possible with the security services to return to normal as quickly as possible.”
Separately late on Monday, the US state department issued a global travel alert, citing “increased terrorist threats” from militant groups in various regions around the world. Potential attackers could target private or government interests, it said in a statement, noting that “the likelihood of terror attacks will continue as members of (Islamic State) return from Syria and Iraq”, and additionally it warned of a “continuing threat from unaffiliated persons” planning attacks on an individual basis.
The Belgian alert level, which signals that authorities believe there is a “serious and imminent” threat of an attack, has led to closed schools, cancelled sporting and culture events and the shutting down of all underground public transport.
Belgian security services are still in the midst of a nationwide manhunt for Salah Abdeslam, who was long believed to be the only alleged Paris plotter to have survived the attack. But Belgian investigators announced that Mr Abdeslam had not been found in the Sunday raids, meaning that the man charged on Monday was an additional suspect.
The sprawling investigation into the Paris attacks also continued in France, where investigators found what one intelligence official said was an explosive belt like the ones used in the atrocity in a rubbish bin in Montrouge, in the south of the French capital.
Two men who drove Mr Abdeslam back to Brussels in the hours after the Paris attacks have told Belgian investigators that they believed he may have intended to blow himself up in Paris but ultimately decided against it.
Authorities said that 15 others detained in the Sunday raids, which were carried out across Brussels and in the southern Belgian city of Charleroi, had been released.
Seven follow-up raids were carried out in Brussels and Liège on Monday morning and led to an additional five detentions, though police immediately released two of the people.
Media had reported on Sunday night that Mr Abdeslam was seen in a BMW car near Liège on a motorway that leads into Germany, raising suspicion that he had escaped the Belgian dragnet. But in its Monday statement, the prosecutor’s office said that the BMW had no connection to the terrorism alert.
“Last night in the Liège region, a BMW vehicle rushed off when pulled over by police for a routine check,” the prosecutor’s office said in the statement. “The vehicle was identified. Further inquiries showed that there is no link at all with the ongoing operation.”
Mr Michel said that despite keeping the Belgian capital at the highest alert level, schools and public transport would reopen on Wednesday.

“The potential targets are the same as outlined yesterday,” Mr Michel said. “They include busy areas such as shopping centres, high streets and the public transport system.”

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