João
Braga acusado de racismo e homofobia por comentário aos Óscares
"A
distribuição dos Trumps – Agora basta ser-se preto ou gay para
ganhar os Óscares", escreveu o fadista no Facebook, antes de
ser saraivado pelas críticas dos que consideraram o comentário
racista e homofóbico. SOS Racismo vai apresentar queixa.
Natália Faria
NATÁLIA FARIA 28 de
Fevereiro de 2017, 19:00
A atribuição do
Óscar de Melhor Filme a Moonlight, um filme sobre o que significa
ser jovem, negro e homossexual na América de hoje, não terá caído
bem ao fadista português João Braga. Num comentário deixado na sua
página do Facebook, e numa altura em que já se sabia que a
estatueta não pertencia afinal a La La Land: Melodia de Amor, o
fadista escreveu: “A distribuição dos Trumps – Agora basta
ser-se preto ou gay para ganhar os Óscares”. Indiferentes à
pretensa ironia, os amigos e nem por isso do Facebook inundaram a
caixa de comentários do fadista com centenas de acusações de
racismo e homofobia.
Manifestando também
o seu repúdio por tais declarações, que qualificou como
"profundamente racistas e homofóbicas", a associação SOS
Racismo anunciou em comunicado que vai apresentar uma participação
à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial,
"exigindo bom senso e sentido de responsabilidade dos diferentes
actores sociais" para que estes não andem a sedimentar
preconceitos, alimentar estereótipos e a legitimar racismos. É que,
no diálogo que entretanto estabeleceu com os seus "amigos"
no Facebook, João Braga acabou por qualificar como "imbecis,
curtos de cerebelo e preconceituosos" todos os que o apelidaram
de racista e homofóbico, "entre outras aleivosias".
A maioria das
reacções ao post sobre "a distribuição dos Trumps" é
irreproduzível pelo tom insultuoso, mas, entre quem aconselha o
fadista a estudar o seu próprio ADN e os que sumarizam as
descobertas alcançadas por inúmeros negros nos mais diversos campos
científicos, os mais suaves constatam, por exemplo, que “já não
basta ser idoso e experiente para se ser bem-educado, bem formado e
respeitável”. E abundam, além disso, as fotografias de
homossexuais a trocar carícias.
Algumas horas depois
da publicação inicial, o fadista voltou à sua página no Facebook
para, num novo post escrito em maiúsculas, reagir do seguinte modo:
“Chiça, que os herdeiros de Estaline são mesmo avessos à
liberdade de expressão!”.
O PÚBLICO não
conseguiu contactar o fadista. Mas, em declarações à revista
Flash, João Braga mostrou-se surpreendido com a virulência das
reacções, já que, sustentou, o que escreveu não pretendia ser
mais do que “uma ironia” e “uma graçola”. “Pus aquilo em
tom irónico, sem ofender ninguém", considerou. Assim, o que o
fadista quereria ter dito, segundo as explicações do próprio, é
que o tom de pele não deve ser critério para coisa alguma. “Já o
ano passado aquela revolta do Spike Lee [actor que reclamou por não
haver negros entre os nomeados para os Óscares] é uma coisa
incompreensível. Não é por um gajo ser preto, tibetano ou chinês
que merece mais ou menos receber um Óscar”, enfatizou Braga,
replicando uma explicação que ele próprio colocou na rede social,
em resposta a alguns dos comentários, e onde atribui as escolhas da
edição deste ano dos Óscares "à campanha que o senhor Lee
fez no ano passado". O fadista lamentou ainda que a noite dos
Óscares se tenha transformado "num comício político"
anti-Trump.
De resto, para o
fadista os insultos de que foi alvo inscrevem-se no que considera ser
uma tendência generalizada que leva a que haja reacções
desproporcioandas sempre que alguém fala em “pretos” ou “gays”
nas redes sociais. “Ou saltam do armário ou saltam da cubata”,
sintetizou.
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