Cruzeiros
no Porto de Lisboa devem crescer 475% nos próximos dez anos
Novo
terminal de cruzeiros de Santa Apolónia ficará pronto em Maio.
Cidade de Lisboa vai receber uma das maiores feiras de cruzeiros do
mundo, em Setembro de 2018.
LUÍSA PINTO 17 de
Março de 2017, 19:13
O Porto de Lisboa
esteve durante muitos anos a destoar do crescimento positivo que foi
alcançado pelos outros portos nacionais, nomeadamente Leixões e
principalmente Sines, que tem beneficiado do aumento da movimentação
de carga de transbordo. Mas a taxa de crescimento de quase 20% que
alcançou em Janeiro e Fevereiro, face ao período homólogo de 2016,
altura em que se mantinha em vigor a greve dos estivadores, é o
sinal definitivo que ajuda a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, a
acreditar que o Porto de Lisboa inverteu a tendência negativa e vai
recuperar do atraso em que mergulhou quando comparado com os
principais portos nacionais.
Se tudo correr como
o que está previsto na estratégia para o aumento da competitividade
portuária no Porto de Lisboa, que a ministra do mar, Ana Paula
Vitorino, apresentou esta sexta-feira em Alcântara, daqui a dez
anos, a infra-estrutura terá um novo terminal de contentores na
margem sul, mais precisamente no Barreiro, o terminal de contentores
de Alcântara estará mais eficiente, e os lisboetas terão mais
espaço para a fruição das zonas ribeirinhas, depois da passagem
das zonas não utilizadas para os municípios. As cargas movimentadas
em contentores crescerão 155% e o turnaround de navios cruzeiros
aumentará 475% ate 2026. O investimento previsto atinge os 746
milhões de euros, com o terminal do Barreiro a absorver a principal
fatia (600 milhões)
O Terminal
Multimodal no Barreiro só avançará se receber luz verde ambiental
– e esse é um dos factores de incerteza. E a paz social que
permitiu ao Porto de Lisboa voltar às margens positivas, com o
acordo que pôs fim à greve dos estivadores em Maio do ano passado
só se poderá manter se as partes continuarem a honrar os seus
compromissos. A “greve por solidariedade” que os estivadores
portugueses anunciaram fazer como parte da luta dos estivadores
espanhóis acabou por ser desconvocada mas ainda antes de isso se
saber, aos microfones da TSF, a ministra do Mar já dizia que os
períodos de greve que tinham sido anunciados não tinham assumido
proporções (pelo horário escolhido, no período de almoço) que a
fizessem temer a diminuição do movimento de cargas.
Foi, pois, uma
ministra optimista, aquela que esta sexta-feira anunciou também o
facto de o Porto de Lisboa ter sido escolhido para receber uma das
maiores feiras de cruzeiros do mundo, a Seatrade Cruise Med, em
Setembro de 2018. O novo terminal de passageiros de Santa Apolónia
deverá estar pronto dentro de dois meses.
Outros pilares da
estratégia que foi apresentada pela ministra do Mar em Lisboa são:
o aumento da navegabilidade do estuário do tejo até Castanheira do
Ribatejo – para permitir o transporte de contentores em barcaças
até à Plataforma Logística que o grupo ETE está a arrancar
naquela localização, resgatando o projecto que chegou a ser
concessionado à Abertis, entretanto falida; e também criar o Campus
do Mar, um centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação, a
instalar na zona da Doca de Pedrouços, onde em cerca de 18 hectares
seja possível criar e desenvolver um ecossistema de organismos
públicos, laboratórios de investigação e start-ups que concentrem
as actividades ligadas ao mar.
Notícia corrigida
às 21h08: não há um terminal de cruzeiros a ser construído em
Alcântara, como estava escrito, mas em Santa Apolónia.
Enquanto que
Amsterdão toma a decisão de deslocar o terminal de Cruzeiros da
zona norte do porto para longe, em Lisboa constrói-se o Terminal no
coração do presépio de Alfama ...
Too
many tourists? Amsterdam to move cruise terminal
Business November
3, 2016
Amsterdam’s cruise
ship terminal will have to move from its current location close to
Amsterdam central station in the IJ, city alderman Kajsa Ollongren
said on Thursday. ‘The pressure placed on the city by tourists is
too great. We have to get a better grip on the situation and moving
the PTA will be unavoidable,’ the Financieele Dagblad quoted her as
saying. Ollongren said there were various locations suitable for a
new terminal. ‘It will be in a westerly direction, such as towards
Zaanstad,’ she said. PTA director René Kouwenberg said he was
disappointed at the news. ‘Cruise ship visits are important for
Amsterdam and the fact that the ships can come right into the city is
one of the reasons it is so popular among passengers and cruise
companies.’ Limited impact Last year, 134 large cruise ships came
to Amsterdam, up eight on 2014. The PTA was already looking into a
possible second location to cope with future growth. However, moving
the PTA will only have a limited impact on tourist numbers,
Kouwenberg said, adding that tourists will want to come to the city
centre, however they arrive. ‘Cruise ship passengers account for
just 2% of the city’s tourists, and half of them go to other
places, such as Volendam,’ he said. While the most important motive
for moving the terminal was the impact of tourism, the debate about a
permanent crossing over the IJ is also ongoing, Ollongren said. There
is growing support for the building of a bridge over the waterway,
which would make the cruise terminal inaccessible.
Vamos
ter garantida, mesmo em frente a Alfama, a dominadora e esmagadora
omnipresença de uma verdadeira Manhattan.
ANTÓNIO SÉRGIO
ROSA DE CARVALHO
3 de Março de 2016,
6:30
Há alguns anos
atrás, a possível construção da Manhattan de Cacilhas, preocupava
aqueles que se indignavam com a possibilidade de ver crescer na
Margem Sul, mesmo em frente ao Centro Histórico, uma selva de torres
que iriam dominar e esmagar o horizonte de Lisboa.
No entanto, com o
completar em breve do Terminal de Cruzeiros vamos ter garantida,
mesmo em frente a Alfama, a dominadora e esmagadora omnipresença de
uma verdadeira Manhattan, constituída por colossos flutuantes em
volume e altura, com uma capacidade gigantesca e renovada de despejar
avalanches de turistas, confirmadoras da transformação de Lisboa
numa Monocultura e da sua redução a uma Monofuncionalidade.
Veneza tornou-se no
exemplo extremo de como uma Turistificação maciça pode destruir
toda a autenticidade e identidade de uma cidade.
Assim, a população
residente de Veneza foi reduzida a 59.000 habitantes. No entanto,
recebe num dia de Verão 130.000 turistas. Veneza recebe anualmente
entre 14 a 15 milhões de habitantes.
Todo o edificado do
centro histórico foi transformado em residência secundária de
aposentados milionários ou está ao serviço da residência
turística, seja em hotéis ou residência temporárias.
É quase impossível
de encontrar uma loja de comércio local.
Veneza luta há anos
contra os navios de cruzeiros de alta tonelagem, e, depois de uma
breve vitória em Novembro de 2014, onde parecia que os mesmos iriam
ser banidos do Centro, com o desenvolvimento de um porto alternativo,
a nomeação de um novo presidente da Câmara anulou esta aparente
vitória.
Enquanto Fernando
Medina afirma que o centro histórico está a ser recuperado e Manuel
Salgado se declara impotente, depois de ter entregue a cidade aos
especuladores, todos os dias recebemos notícias confirmadoras de que
o mesmo processo se está a desenrolar em Lisboa.
A sede do Diário de
Notícias, a da antiga Rádio Renascença, o edifício do Brás e
Brás, o Palácio Costa Cabral, etc., etc., numa interminável lista
crescente.
Vem agora a CML
declarar oficialmente a intenção de implementar o seu programa de
Lojas com História acrescentando ao seu conselho consultivo, um
grupo de trabalho a fim de analisar, com rigor, caso a caso, os
processos.
Ora atenção a esta
formulação: O grupo de trabalho será chamado a emitir um “parecer
prévio não vinculativo” quando estiverem previstas “operações
urbanísticas que tenham impacto directo sobre as lojas
distinguidas”. Um parecer, portanto, Não Vinculativo.
Isto mereceu
comentários e moções na Assembleia Municipal, assim como as
perguntas das Juntas de Freguesia sobre o efeito da Turistificação
e Gentrificação para as populações locais, e as perguntas do
Público ao Vereador Manuel Salgado sobre o prometido relatório
sobre os efeitos dos excessos de Turismo sobre a cidade, ficaram sem
resposta.
Aguarda-se e
espera-se agora do Conselho Consultivo e do Grupo de Trabalho do
programa Lojas com História (ou é isto a mesma coisa?) um rigor e
uma exigência confrontadora, uma consciência portanto, do perigo de
neutralização por integração que a sua missão implica.
Estes grupos de
notáveis e conhecedores têm portanto uma grande responsabilidade.
Especialmente, na
tradição de um País que não ousa exigir ou confrontar, habituado
a uma dependência sistemática, e aqui, também “flutuante”.
A frase que ficou
nestes dias foi a proferida em síntese por António Coimbra de
Matos: “Somos um País de Medrosos”.
Historiador de
Arquitectura
Sem comentários:
Enviar um comentário