domingo, 19 de março de 2017

Cruzeiros no Porto de Lisboa devem crescer 475% nos próximos dez anos / Too many tourists? Amsterdam to move cruise terminal / A Manhattan flutuante por ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO


Cruzeiros no Porto de Lisboa devem crescer 475% nos próximos dez anos
Novo terminal de cruzeiros de Santa Apolónia ficará pronto em Maio. Cidade de Lisboa vai receber uma das maiores feiras de cruzeiros do mundo, em Setembro de 2018.

LUÍSA PINTO 17 de Março de 2017, 19:13

O Porto de Lisboa esteve durante muitos anos a destoar do crescimento positivo que foi alcançado pelos outros portos nacionais, nomeadamente Leixões e principalmente Sines, que tem beneficiado do aumento da movimentação de carga de transbordo. Mas a taxa de crescimento de quase 20% que alcançou em Janeiro e Fevereiro, face ao período homólogo de 2016, altura em que se mantinha em vigor a greve dos estivadores, é o sinal definitivo que ajuda a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, a acreditar que o Porto de Lisboa inverteu a tendência negativa e vai recuperar do atraso em que mergulhou quando comparado com os principais portos nacionais.

Se tudo correr como o que está previsto na estratégia para o aumento da competitividade portuária no Porto de Lisboa, que a ministra do mar, Ana Paula Vitorino, apresentou esta sexta-feira em Alcântara, daqui a dez anos, a infra-estrutura terá um novo terminal de contentores na margem sul, mais precisamente no Barreiro, o terminal de contentores de Alcântara estará mais eficiente, e os lisboetas terão mais espaço para a fruição das zonas ribeirinhas, depois da passagem das zonas não utilizadas para os municípios. As cargas movimentadas em contentores crescerão 155% e o turnaround de navios cruzeiros aumentará 475% ate 2026. O investimento previsto atinge os 746 milhões de euros, com o terminal do Barreiro a absorver a principal fatia (600 milhões)

O Terminal Multimodal no Barreiro só avançará se receber luz verde ambiental – e esse é um dos factores de incerteza. E a paz social que permitiu ao Porto de Lisboa voltar às margens positivas, com o acordo que pôs fim à greve dos estivadores em Maio do ano passado só se poderá manter se as partes continuarem a honrar os seus compromissos. A “greve por solidariedade” que os estivadores portugueses anunciaram fazer como parte da luta dos estivadores espanhóis acabou por ser desconvocada mas ainda antes de isso se saber, aos microfones da TSF, a ministra do Mar já dizia que os períodos de greve que tinham sido anunciados não tinham assumido proporções (pelo horário escolhido, no período de almoço) que a fizessem temer a diminuição do movimento de cargas.

Foi, pois, uma ministra optimista, aquela que esta sexta-feira anunciou também o facto de o Porto de Lisboa ter sido escolhido para receber uma das maiores feiras de cruzeiros do mundo, a Seatrade Cruise Med, em Setembro de 2018. O novo terminal de passageiros de Santa Apolónia deverá estar pronto dentro de dois meses.

Outros pilares da estratégia que foi apresentada pela ministra do Mar em Lisboa são: o aumento da navegabilidade do estuário do tejo até Castanheira do Ribatejo – para permitir o transporte de contentores em barcaças até à Plataforma Logística que o grupo ETE está a arrancar naquela localização, resgatando o projecto que chegou a ser concessionado à Abertis, entretanto falida; e também criar o Campus do Mar, um centro de Investigação, Desenvolvimento e Inovação, a instalar na zona da Doca de Pedrouços, onde em cerca de 18 hectares seja possível criar e desenvolver um ecossistema de organismos públicos, laboratórios de investigação e start-ups que concentrem as actividades ligadas ao mar.


Notícia corrigida às 21h08: não há um terminal de cruzeiros a ser construído em Alcântara, como estava escrito, mas em Santa Apolónia.


Enquanto que Amsterdão toma a decisão de deslocar o terminal de Cruzeiros da zona norte do porto para longe, em Lisboa constrói-se o Terminal no coração do presépio de Alfama ...

Too many tourists? Amsterdam to move cruise terminal
Business November 3, 2016
Amsterdam’s cruise ship terminal will have to move from its current location close to Amsterdam central station in the IJ, city alderman Kajsa Ollongren said on Thursday. ‘The pressure placed on the city by tourists is too great. We have to get a better grip on the situation and moving the PTA will be unavoidable,’ the Financieele Dagblad quoted her as saying. Ollongren said there were various locations suitable for a new terminal. ‘It will be in a westerly direction, such as towards Zaanstad,’ she said. PTA director René Kouwenberg said he was disappointed at the news. ‘Cruise ship visits are important for Amsterdam and the fact that the ships can come right into the city is one of the reasons it is so popular among passengers and cruise companies.’ Limited impact Last year, 134 large cruise ships came to Amsterdam, up eight on 2014. The PTA was already looking into a possible second location to cope with future growth. However, moving the PTA will only have a limited impact on tourist numbers, Kouwenberg said, adding that tourists will want to come to the city centre, however they arrive. ‘Cruise ship passengers account for just 2% of the city’s tourists, and half of them go to other places, such as Volendam,’ he said. While the most important motive for moving the terminal was the impact of tourism, the debate about a permanent crossing over the IJ is also ongoing, Ollongren said. There is growing support for the building of a bridge over the waterway, which would make the cruise terminal inaccessible.


A Manhattan flutuante
Vamos ter garantida, mesmo em frente a Alfama, a dominadora e esmagadora omnipresença de uma verdadeira Manhattan.


ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO
3 de Março de 2016, 6:30

Há alguns anos atrás, a possível construção da Manhattan de Cacilhas, preocupava aqueles que se indignavam com a possibilidade de ver crescer na Margem Sul, mesmo em frente ao Centro Histórico, uma selva de torres que iriam dominar e esmagar o horizonte de Lisboa.

No entanto, com o completar em breve do Terminal de Cruzeiros vamos ter garantida, mesmo em frente a Alfama, a dominadora e esmagadora omnipresença de uma verdadeira Manhattan, constituída por colossos flutuantes em volume e altura, com uma capacidade gigantesca e renovada de despejar avalanches de turistas, confirmadoras da transformação de Lisboa numa Monocultura e da sua redução a uma Monofuncionalidade.

Veneza tornou-se no exemplo extremo de como uma Turistificação maciça pode destruir toda a autenticidade e identidade de uma cidade.

Assim, a população residente de Veneza foi reduzida a 59.000 habitantes. No entanto, recebe num dia de Verão 130.000 turistas. Veneza recebe anualmente entre 14 a 15 milhões de habitantes.

Todo o edificado do centro histórico foi transformado em residência secundária de aposentados milionários ou está ao serviço da residência turística, seja em hotéis ou residência temporárias.

É quase impossível de encontrar uma loja de comércio local.

Veneza luta há anos contra os navios de cruzeiros de alta tonelagem, e, depois de uma breve vitória em Novembro de 2014, onde parecia que os mesmos iriam ser banidos do Centro, com o desenvolvimento de um porto alternativo, a nomeação de um novo presidente da Câmara anulou esta aparente vitória.

Enquanto Fernando Medina afirma que o centro histórico está a ser recuperado e Manuel Salgado se declara impotente, depois de ter entregue a cidade aos especuladores, todos os dias recebemos notícias confirmadoras de que o mesmo processo se está a desenrolar em Lisboa.

A sede do Diário de Notícias, a da antiga Rádio Renascença, o edifício do Brás e Brás, o Palácio Costa Cabral, etc., etc., numa interminável lista crescente.

Vem agora a CML declarar oficialmente a intenção de implementar o seu programa de Lojas com História acrescentando ao seu conselho consultivo, um grupo de trabalho a fim de analisar, com rigor, caso a caso, os processos.

Ora atenção a esta formulação: O grupo de trabalho será chamado a emitir um “parecer prévio não vinculativo” quando estiverem previstas “operações urbanísticas que tenham impacto directo sobre as lojas distinguidas”. Um parecer, portanto, Não Vinculativo.

Isto mereceu comentários e moções na Assembleia Municipal, assim como as perguntas das Juntas de Freguesia sobre o efeito da Turistificação e Gentrificação para as populações locais, e as perguntas do Público ao Vereador Manuel Salgado sobre o prometido relatório sobre os efeitos dos excessos de Turismo sobre a cidade, ficaram sem resposta.

Aguarda-se e espera-se agora do Conselho Consultivo e do Grupo de Trabalho do programa Lojas com História (ou é isto a mesma coisa?) um rigor e uma exigência confrontadora, uma consciência portanto, do perigo de neutralização por integração que a sua missão implica.

Estes grupos de notáveis e conhecedores têm portanto uma grande responsabilidade.

Especialmente, na tradição de um País que não ousa exigir ou confrontar, habituado a uma dependência sistemática, e aqui, também “flutuante”.

A frase que ficou nestes dias foi a proferida em síntese por António Coimbra de Matos: “Somos um País de Medrosos”.

Historiador de Arquitectura

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