Dezasseis
meses depois, o Cais do Sodré foi “devolvido aos peões”
Durante
a tarde de sábado, o Cais do Sodré foi apresentado de cara lavada
aos lisboetas, com mais zonas pedonais e um reordenamento do
estacionamento.
CLAUDIA CARVALHO
SILVA 18 de Março de 2017, 22:12
“O Cais do Sodré
nem parece o mesmo”, comenta Domicília Rocha com duas amigas,
durante a tarde de sol em que foi inaugurado o renovado espaço.
“Está mais bonito, foi finalmente devolvido aos peões”,
salienta. Passa todas as semanas no Cais do Sodré e afiança que a
diferença é notória: “Antes tinha muitos carros estacionados. As
obras são necessárias e neste caso valeram a pena”. Os cidadãos
foram convidados pela Câmara de Lisboa para a iniciativa “A Rua é
Sua”,para comemorar o término das obras que começaram em Novembro
de 2015, com o objectivo de dar à cidade “uma nova frente
ribeirinha”.
Agora que estão
concluídas as obras, as opiniões que neste sábado se ouvia diziam
que o Cais do Sodré está melhor. Mais airoso, mais bonito. À
espera para ver o presidente da câmara estava Fernanda Lima, de 68
anos, que não esconde o seu agrado em relação ao novo espaço:
“Lisboa parece outra, isto é uma maravilha”. “Moro aqui há
mais de 50 anos e nunca houve obras tão perfeitas quanto estas. E
ainda falta muita coisa mas tudo leva o seu tempo”, afirma.
Esta restruturação
do Cais do Sodré corresponde a um investimento de, aproximadamente,
3,6 milhões de euros, explica Fernando Medina, presidente da Câmara
Municipal de Lisboa (CML). “É hoje um gosto podermos entregar esta
obra à cidade”, diz, porque oferece “uma vista mais desafogada
sobre o Tejo e muito mais zonas de lazer para aqueles que andam a
pé”.
Durante as
declarações de Fernando Medina, ouvia-se ao fundo o concerto de B
Fachada, que cantava músicas de Zeca Afonso, para assinalar os 30
anos da sua morte. Ao anoitecer, actuaram os Dead Combo.
Em relação ao
longo congestionamento provocado pelas obras, Fernando Medina
considera ser obrigatório “agradecer a paciência” dos
lisboetas, acrescentando que sem estes constrangimentos não seria
possível obter este resultado e “uma melhoria da fluidez em
matéria de circulação viária”. Não tão de acordo está Mário,
um motorista de táxi de serviço em frente ao terminal fluvial do
Cais do Sodré: “O trânsito está pior; os passeios ficaram mais
bonitos e grandes mas isso à custa da supressão de faixas de
rodagem”. Ainda assim, diz que o melhor é esperar que estejam
concluídas as obras no Campo das Cebolas para perceber se existe, ou
não, uma melhoria do tráfego.
Uma forte aposta no
transporte público
Conforme ia
avançando a tarde, ia aumentando o congestionamento nos transportes
públicos. Os autocarros passam cheios, os eléctricos também e no
comboio há passageiros em pé. Em frente à estação de comboios do
Cais do Sodré, na zona em que se apanham os autocarros e o eléctrico
pouco espaço sobra na longa fila de pessoas que espera transporte.
Na sexta-feira, a Câmara de Lisboa tinha partilhado uma publicação
no Facebook a convidar os cidadãos a descobrirem o "novo"
Cais do Sodré, “utilizando os transportes públicos” – mas
esta saturação não é causada pelo convite. Verifica-se nos outros
dias, agravando-se aos fins-de-semana e nas horas de ponta.
Isabel Gama mora na
Lapa e é utilizadora de transportes públicos; espera que o final
das obras no Cais do Sodré se traduza numa melhoria destes serviços.
“Eram filas enormes de pessoas para apanhar os transportes públicos
e um trânsito infindável”, conta.
Um dos objectivos
das obras de requalificação do Cais do Sodré é o reorganizar o
estacionamento – que deixa de poder fazer-se no cais – e dos
transportes públicos. “A verdade é esta: não há possibilidade
de melhorarmos a circulação e a vida na cidade sem uma forte aposta
no transporte público”, frisa Fernando Medina, considerando que se
perderam 100 milhões de passageiros por se ter assistido a uma
degradação dos transportes públicos em Lisboa.
Agora, com a
municipalização da Carris, o presidente da CML acredita que é
possível que haja uma qualificação do espaço público a par do
transporte público: “Deve haver mais transportes, mais pessoas a
usarem e mais qualidade”.
Fernando Medina diz
que ainda estão em curso obras na cidade que pretendem oferecer mais
“espaço público de qualidade” aos cidadãos. Para já, em “Maio
ou Abril”, ficará concluída a ligação do Cais do Sodré ao
Largo de Santos, através de “um grande passeio” ao longo da
Avenida 24 de Julho, que melhorará a circulação pedonal e incluirá
uma ciclovia, segundo o autarca.
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