FCSH
cancela conferência de Jaime Nogueira Pinto
6/3/2017,
21:39
Evento
tinha sido organizado por núcleo de estudantes ligado à Nova
Portugalidade. Moção aprovada em Assembleia-Geral de Alunos e
receio de violência levaram à suspensão pela direcção da
faculdade.
O evento,
apresentado como conferência-debate na página de Facebook do
movimento Nova Portugalidade, estaria marcado há cerca de duas
semanas, para o auditório 2 da torre B da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. A pouco mais
de 24 horas da hora marcada (18h30 de terça-feira, 7 de março),
Jaime Nogueira Pinto, único orador, foi avisado de que, afinal,
“Populismo ou Democracia? O Brexit, Trump e Le Pen em debate” não
ia acontecer.
“Tinha sido
convidado por um grupo cultural de jovens patriotas, de uma
organização chamada Nova Portugalidade, para ir fazer uma
conferência. Mas parece que numa Reunião-Geral de Alunos, a
Assembleia Geral, que é maoista ou do Bloco de Esquerda, nem sei
bem, fez um grande protesto a dizer que a conferência era uma coisa
fascista, reacionária e colonialista. Parece que a contestação
subiu de tom e a Associação de Estudantes exigiu à direção da
faculdade, que já tinha cedido um espaço, para cancelar a
conferência”, explica o escritor e politólogo ao Observador.
De acordo com Jaime
Nogueira Pinto, convidado pelo núcleo de alunos da FCSH ligado à
Nova Portugalidade, foi o próprio diretor da faculdade que o
informou da decisão, alegando questões de segurança: “Também me
disse que, mais tarde, com um clima mais calmo, a direção teria o
maior interesse em convidar-me para falar sobre o tema na faculdade,
num contexto menos político e mais académico”.
Parece que já há
tempos [alunos da FCSH] entraram aos berros numa conferência da
embaixadora de Israel. A mim não me incomodaria muito, tive alguma
experiência disso na minha meninice, mas percebo que a direção da
faculdade tenha tido medo que desse distúrbios e pancadaria, não
seria nenhum massacre, mas pronto… “
Segundo a ata da
Reunião-Geral de Alunos (RGA), a que o Observador teve acesso, na
passada quinta-feira, dia 2, foi apresentada uma moção “para que
fosse cancelado o pedido de reserva de sala feito pelo proto-núcleo
Nova Portugalidade“. “No entender dos proponentes desta moção
este evento está associado a argumentos colonialistas, racistas,
xenófobos que entram em colisão com o programa para o qual a AEFCSH
foi eleita, além de entrar em colisão com a mais básica
democraticidade e inclusividade”, pode ler-se na moção apensa ao
documento.
Rafael Pinto Borges,
um dos alunos da faculdade afetos à Nova Portugalidade, não esteve
na RGA, mas garante que recebeu vários avisos, de várias pessoas
diferentes, de que estariam a ser planeados ataques à conferência e
ao próprio Jaime Nogueira Pinto.
Foi-me dito que
durante a RGA foram planeadas esperas e violências no evento de
amanhã. Foi-me dito que haveria indivíduos próximos do Bloco de
Esquerda, ou mesmo militantes do Bloco de Esquerda, à porta, para se
dedicarem a ver quem é ou não fascista, uma coisa totalmente
descabida e contrária à Constituição e a todas as liberdades.”
Sobre a organização
Nova Portugalidade e as acusações a que tem sido sujeita, o aluno
da FCSH, diz que “são calúnias perfeitamente absurdas”.
Francisco Caramelo,
o diretor da faculdade, garante ao Observador que a instituição “é
um espaço de debate, liberdade e reflexão que recebe debates de
muitas naturezas diferentes” e que o cancelamento da conferência
não está de todo relacionado com ideologias ou cores políticas.
Até sexta-feira nem
sabia da existência nem da organização chamada Nova Portugalidade
nem do núcleo de alunos ligada a ela que fez a reserva de auditório
para a conferência. Temos vários núcleos de estudantes, do PSD, do
PS, da JCP, e todos podem efetuar reservas de sala através da
Associação de Estudantes. É essa a política da casa: sempre que
os nossos estudantes pretende efetuar eventos só têm de contactar a
AE, que filtra os pedidos e depois os transmite ao Conselho
Pedagógico. Foi o que aconteceu também desta vez, não há nenhuma
leitura política disto.”
Segundo o diretor da
FCSH, o problema terá surgido, primeiro, quando a Associação de
Estudantes se deu conta do posicionamento político da Nova
Portugalidade. E, depois, quando o núcleo ligado à Nova
Portugalidade se deu conta de que eles se tinham dado conta — e não
tinham gostado. “Uns ficaram incomodados com a associação e com o
debate; os outros, os próprios estudantes do núcleo, porque sabiam
desses incómodos, ficaram preocupados relativamente à segurança do
evento.”
Apesar de, na
sexta-feira, garante Francisco Caramelo, se ter recusado a cancelar o
evento, as ameaças e discussões nas redes sociais durante o fim de
semana acabaram por fazer com que a a direção da faculdade cedesse,
esta segunda-feira ao início da tarde.
“Não queria
transformar isto num evento que, devendo ser de discussão e de
debate, possa desviar-se para extremos que não interessam, de maior
conflitualidade entre as partes. O professor Jaime Nogueira Pinto é
ele próprio um académico, chegará o momento em que a instituição,
no quadro de um debate mais alargado, considerará oportuno
convidá-lo para discutir sobre o mesmo tema.”
O politólogo, por
seu turno, diz que fica à espera: “Há uma certa crispação e uma
certa escalada nestas coisas. Começou noutros sítios e está a
chegar aqui também. Estou habituadíssimo a discutir com pessoas que
não pensam como eu, isso não é um problema para mim”.
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