Ferin.
A "mais bela livraria de Lisboa" renasce com mais livros,
poesia e um bar
20 mar, 2017 –
08:01
Existe desde 1840,
no rés-do-chão da rua Nova do Almada, e é a segunda mais antiga de
Lisboa.
A partir de
terça-feira, a centenária Ferin ganha nova vida, com mais livros,
bar e eventos culturais. A livraria foi salva pelo dono da Ler
Devagar, que a considera a “mais bela de Lisboa”.
Fundada em 1840, a
livraria atravessava graves problemas financeiros, ao ponto de a
editora Principia, que em 2011 adquirira 49% do seu capital, ter
ponderado fechá-la. Antes, porém, o responsável da editora,
Henrique Mota, falou com o livreiro José Pinho, dono da Ler Devagar
(Lx Factory) e organizador do Fólio, Festival Literário
Internacional de Óbidos, e perguntou-lhe se queria ficar com ela.
Até então, José
Pinho desconhecia em absoluto a situação financeira da Ferin, mas
mesmo depois de ter percebido que o estabelecimento acumulara dívidas
ao longo dos anos, cerca de quase cem mil euros nos últimos quatro
anos, aceitou o convite para ir ver a livraria.
Naturalmente já
conhecia aquele espaço, localizado no rés-do-chão da rua Nova do
Almada, “que é, na realidade, das livrarias clássicas, a mais
bonita de Lisboa”, mas não conhecia a cave, um antigo convento,
com “duas salas abobadadas, lindíssimas, que não eram de uso
público”.
“Quando cheguei
aqui, fiquei com um entusiasmo tal que disse para mim próprio: 'vou
ficar com a livraria'”, apesar de saber que havia problemas para
resolver - o financeiro, o dos funcionários e a lei do arrendamento,
que contempla as lojas históricas, que ainda não foi regulamentada.
José Pinho foi
conquistado por aquele espaço, “que parece uma cave, ao entrar
pela rua Nova do Almada, mas que é um rés-do-chão para quem entra
pela rua do Crucifixo, porta que só era usada para a entrega de
livros, mas que agora passará a estar também aberta ao público”.
“Como isto não
estava a ser usado como livraria, eu pensei: 'aqui sim eu posso fazer
uma livraria, ou duas, ou três', porque a área é muito superior à
área de cima”, afirmou, lembrando que nunca na vida comprou uma
livraria, todas partiram do nada.
Aquele espaço
reunia as condições. “Não havia nada antes e, portanto, o risco
de ser mal sucedido é muito menor. É mais difícil cair para baixo
de nada, subir é mais fácil, pode-se subir um bocadinho ou
bastante”.
Montras vão
espelhar dupla oferta
Valeram-lhe os
exemplos da Ler Devagar ou de Óbidos, onde criou, do nada, as
livrarias Santiago, do Mercado Biológico e da Adega.
A ideia foi, então,
fazer o mesmo, agora, mas com um potencial maior, pois a Ferin tem a
estética, o mobiliário, a história e uma oferta de livros raros
que nenhuma outra livraria tem, desde a heráldica à militaria,
passando pela genealogia, história, monarquias e outros livros muito
específicos como os de arte.
Aproveitando a
localização, José Pinho pensou que a Ferin – que em tempos foi
uma livraria franco-belga - poderia ser também uma livraria
internacional, dirigida aos turistas, com uma oferta “o mais
completa possível dos autores portugueses traduzidos em língua
estrangeira”.
A acrescentar a
isso, haverá novidades de catálogos de editores portugueses e,
dessa forma, ficará “resolvido” o andar de cima.
As montras vão
espelhar esta dupla oferta: uma será dedicada às editoras
portuguesas, a primeira das quais será a Relógio d’Água, e a
outra terá os livros de autores portugueses traduzidos em línguas
estrangeiras e livros sobre Lisboa e Portugal.
Quanto ao andar de
baixo, tinha “uma espécie de depósito e escritório”, que será
convertido em “livraria do livro raro e antigo”, com estantes e
mesas de madeira, a substituir as secretárias metálicas.
Contígua a essa
sala, a outra área será livraria e bar, terá livros de fundo de
catálogo, livros infantis e actividades para crianças, porque “este
labirinto, a entrada pela rua do crucifixo e aquele espaço exterior,
é um pouco mágico”.
À semelhança da
Ler Devagar, no espaço de bar e livraria, os clientes podem entrar
para tomar um café ou beber um copo de vinho, para ler, para
estudar, para “permanecer”.
Programação
cultural
A programação
incluirá um ciclo de conferências mensais em parceria com a Relógio
d’Água, sobre temas da actualidade. A primeira será no dia 30,
dedicada às eleições francesas.
“Além disso
também queremos fazer concertos, música e teatro”, de maneira a
que, “todas as semanas, possamos ter aqui uma, duas, três
actividades regulares”, sempre diferentes.
“Para já, no dia
21 – Dia Mundial da Poesia - vamos abrir as portas, vamos abrir o
portão da rua do Crucifixo, assistir à sessão de poesia, vamos ter
mais uma conversa, quanto mais não seja sobre este projecto e
apresentá-lo publicamente, fazer uma comemoração, e é sempre bom
comemorar”.
Com um investimento
que não chega aos 150 mil euros, mantendo os antigos funcionários e
contratando mais três, José Pinho está apostado em desenvolver
todo este projecto e salvar a Ferin.
“Vamos, a partir
de agora, inverter a tendência e conseguir manter a livraria aberta.
É a segunda mais antiga de Lisboa, a mais bonita de todas e ela
merece isso”.
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